Pitty
Chiaroscuro
(Deckdisc)
De volta à carga com um disco de inéditas depois de quatro anos, Pitty parece interessada em ampliar o olhar de sua música, antes abraçada à juventude dos anos 90 e agora em busca de um alvo ainda não colocado suficientemente em foco. A banda pega leve já em “Me Adora”, que puxa o disco, tem clipe em alta rotação e rola em rádios a torto e a direito. Só que a música, que flerta com o rock de abordagem superficial dos anos 60, de refrão fácil, é uma pérola pop antes inalcançada nos dois discos anteriores. São os arranjos, a forma, cedendo espaço para a canção em si, o conteúdo.
“Me Adora” é o ponto em que a bem sucedida parceria Pitty/Rafael Ramos recua, mas ela não se ausenta ao longo do CD. Ao contrário, se fortalece em busca de novos rumos nem sempre bem definidos e de resultados que beiram o desastre – caso de “Água Contida”, espécie de tango sem razão de ser. Ora, Pitty não é cantora para cantar como se fosse cantora. Pitty é vocalista de banda de rock, e se a intenção é pular de um lado a outro não há problema algum, mas é preciso se preparar (e bem), o que parece não ter acontecido em nome de investidas experimentais e de uma transição que parece tão natural e intuitiva quanto inconsequente, para o bem ou para o mal. Nesse sentido, a dicotomia “Me Adora”/”Água Contida” é o retrato mais fiel desse procedimento: ambas estão muito longe da música que consagrou Pitty no mercado, mas em direções opostas.
Num esboço hipotético quase ortogonal, é possível enfileirar as outras nove faixas do CD nesses dois grupos. Um olhar mais amiúde, no entanto, acaba trazendo à tona, apesar do esforço conceitual que envolve material gráfico, fotos e até videoclipe, um repertório heterogêneo e cheio de altos e baixos. Os tais rebuscados tons de cinza acabam por se isolar em possibilidades que carecem de alinhave e apontam para o claro de um lado e o escuro de outro. Difícil colocar lado a lado, num apanhado só, por exemplo, músicas como “Fracasso” e “A Sombra”. A primeira, de letra bem sacada, tem refrão colante, pouco peso e guitarra quase minimalista; a segunda se revela intimista, sem viço e sem ambiente dentro do CD.
Há outros rompantes, como o experimentalismo estéril de “Rato na Roda”, que chega a citar trecho de “Paint It Black” com discrição e realçar evoluções de bateria e vocal desnecessariamente. Há também, como de hábito, “Só Agora”, da linhagem das lentinhas indispensáveis para se manter na mídia. É o lado “Água Contida” do CD. Já a boa “Desconstruindo Amélia” segue “Me Adora”, ao buscar o meio do caminho do bem; exala cheiro de mofo dos anos sessenta – vide os vocais de fundo - mas soa atualíssima. “Medo”, seguramente uma “das antigas”, é outra das boas, aparentada com “Pulsos”, alvissareira em “{Des}Concerto ao Vivo” de um futuro que não chegou (ao menos não por enquanto) nesse indeciso “Chiaroscuro”. Indeciso, sim, mas, também, de transição.
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Perda de tempo ler esse review. Coitado de quem o tenha lido antes de ouvir o álbum.
Não levem em conta o texto, ouçam o disco e tirem suas próprias conclusões. Pois cada um tem um ponto de vista e o meu é oposto a esse encontrado nessa resenha.
Galera, não levem em conta o texto, vão assistir ao DVD que vocês verão que tudo aconteceu por ordem natural. Nunca tive a oportunidade de conhecer a Pitty pessoalmente, mas pelas entrevistas já percebi que ela não é de fazer as coisas pensando nisso. Enfim, ler isso dai só é para tirar um preconceito sobre uma coisa que nem verdade é.
Esse texto perde total sentido quando se lê o nome do disco, o nome já diz “claro e escuro”. Queriam o que? Um álbum homogêneo? E cara, é exatamente como o autor desse texto disse, é um álbum de transição, mudanças, isso passa pelo feio e pelo bonito, é normal. Melhor saber que o material é de verdade do que ouvir mais uma bandinha manipulada pela mídia.