O Homem Baile

Pitty faz o Circo Voador tremer

Em apresentação bombástica, grupo lançou o novo álbum, “Chiaroscuro”, ontem, no Rio. Público lotou a casa que, mesmo com nova e sólida estrutura, balançou como no auge do rock nacional dos anos 80. Fotos: Caroline Bittencourt/ Divulgação.

pitty09-1Panos em tons de preto, branco e cinza no muro e o público chegando de todos os lados antes das 21 horas mostravam que o Circo Voador estava pronto para receber Pitty e sua banda, no lançamento do álbum “Chiaroscuro”. Ao todo, em cerca de hora e meia de apresentação – um recorde, segundo a própria vocalista – foram tocadas nove músicas da nova safra, todas cantadas por uma platéia enlouquecida como se fossem sucessos de longa data. “É muito bom ver todo mundo cantando as músicas novas que estamos aprendendo a tocar”, disse Pitty, justificando que a dinâmica das gravações e diferente de um show.

A lotação esgotada já começou agitando em “8 ou 80”, que abre o novo disco, e o atingiu o auge da primeira parte com a boa “Fracasso”, turbinada pela performance nervosa de Pitty durante o refrão. “Boa noite, welcome to hell. Hell de Janeiro”, disse a cantora, numa referência simultânea ao caldeirão em que o Circo se transformou e aos conflitos registrados na cidade durante o dia. Em seguida anunciou que iria cantar algumas músicas antigas, antes da pesada “Admirável Chip Novo”, que garantiu momentos em que a nova estrutura metálica da casa, robusta, literalmente balançou. Impossível não lembrar do nascer do rock nacional dos anos 80, que teve berço neste mesmo Circo Voador.

Pitty pegou leve em “Chiaroscuro”, mas, ao vivo, as músicas ganham uma atmosfera acelerada garantida por guitarras pesadas e bons solos de Martin, que não alivia. Até músicas menos interessantes como “Água Contida”, que, autobiográfica, parece emocionar a cantora, surpreende ao ganhar, na segunda parte, um tratamento rock dispensado no estúdio. O público canta tanto junto com o grupo que, por vezes, o desafio é a busca do silêncio dos fãs. Acontece no meio de “Máscara”, quando Pitty provoca com o verso “I wanna do bad things to you”, da canção “Bad Things”, do cantor de música country Jace Everett. Em seguida, a música é retomada e termina num esporro dos diabos. Ou ainda na boa “Rato na Roda”, inserida no que ela chamou de “bloco em ré”. Queixo caído não consegue cantar.

Embora Pitty tenha dito que o grupo está fazendo um show de longa duração, é de se lamentar a ausência de músicas como “Anacrônico”, “Teto de Vidro” e “No Escuro”, entre outras. Ou seja, a tal “academia do rock” citada pela vocalista, em referência ao desgaste físico causado pelos shows, precisa ser intensificada. Mas é difícil pensar nisso, de outro lado, quando “Brinquedo Torto” emociona já no início, com Pitty numa segunda guitarra, ou mesmo nas baladas “Equalize” e “Na Sua Estante”. Esta última é de comover até o fã menos dedicado.

O palco chamou a atenção pela total ausência de cenário. Além de comandar a juventude rock, Pitty também interagiu com o público, respondendo de forma grosseira aos gritos de “gostosa” e usando óculos emprestados por um fã, durante “Me Adora”. A música também ganhou um peso ausente no CD. No final, na ótima “Pulsos”, Pitty perdeu a noção da posição que ocupa ao “autorizar” que todos subissem no palco, o que causou uma confusão que, além de desligar equipamentos, quase estragou uma noite inesquecível para o rock nacional. Nem parece que o grupo é um dos que mais toca por esse Brasilzão. Resta saber se haveria um bis, cancelado por causa da mancada.

Set list completo:

1- 8 ou 80
2- Memórias
3- Medo
4- Fracasso
5- Admirável Chip Novo
6- Semana Que Vem
7- Trapézio
8- Água Contida
9- Brinquedo Torto
10- Rato na Roda
11- Equalize
12- Na Sua Estante
13- Máscara/Bad Things
14- A Saideira
15- Desconstruindo Amélia
16- Me Adora
17- Todos Estão Mudos
18- Pulsos

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