O Homem Baile

Aparições do passado

Los Hermanos confirma decisão de se tornar banda de ocasião e fãs correspondem ao saudosismo estéril; Mutantes toca sucessos em apresentação que realça virtuose de Sérgio Dias, tudo isso na primeira noite do SWU. Foto: Luciano Oliveira

No centro do palco: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante agitam no show, com Barba ao fundo

No centro do palco: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante agitam no show, com Barba ao fundo

O Los Hermanos de hoje é uma espécie de fantasma do bem que aparece para fazer a felicidade dos fãs, só que logo vai embora de novo. Embora transpareçam humildade em frases com agradecimentos redundantes, os dois frontman do grupo (Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante), no palco, se comportam como Divas, estrelas de grande sucesso no passado que não resistem em reaparecer em apresentações ditas especiais, como a de ontem, na primeira noite do SWU. O grupo foi escalado antes de Mars Volta e de Rage Against The Machine, mas não houve conflito: não se via um único senão entre o público dele e o das outras bandas. Ou, por outra, mistério dos mistérios, todos gostam de todos, como deseja a curadoria do festival.

Se levarmos em conta a última aparição, há quase dois anos, dentro do Festival “Just a Fest”, que rolou no Rio e em São Paulo, o show foi basicamente o mesmo, descontando-se o fato de o tempo da apresentação ter sido um pouco menor. Esperto, o grupo “reduz” o palco concentrando a formação no centro do palco e aproveita para usar certo “clima de ensaio” para não se desconjuntar, uma vez que não há o entrosamento de quem está sempre em turnê. Juntam-se ao quarteto Gabriel Bubu (Do Amor), no baixo, que às vezes troca de instrumento com Marcelo Camelo, e o naipe de metais, marca registrada do LH, que encorpa o som da banda.

Dizer que há problemas de afinação é quase desnecessário para um grupo que tem ele próprio como o melhor de sua carreira um álbum mal acabado como o “4”. Pois é em cima dele que o repertório é baseado. Mesmo tocando de quando em vez, o Los Hermanos insiste em renegar o passado e deixa de fora a pérola “Anna Júlia”, além de outras músicas do primeiro disco, como “Bárbara” e “Pierrot”. Resignados, os fãs também nem pedem mais. Parecem hipnotizados, sobretudo nas boas “A Flor”, a melhor da noite, que encerra o show aos gritos de “mais um, mais um!” e em “Todo Carnaval Tem seu Fim”, logo no começo.

Sutis diferenças em relação a shows passados aparecem no teclado de Bruno Medina, sugerindo o brega/cult do Cidadão Instigado (em “O Vento”) e até o progressivo – na interessante “A Outra”. De uma indiferença pálida de outrora, é o baterista Barba quem gargalha na maior parte do tempo, enquanto Camelo, com look de professor de história, coadjuva Amarante, o eterno afinador de guitarras e sua desafinada voz. No frigir dos ovos, show do Los Hermanos hoje soa como assistir a um blockbuster que só tem audiência na “Sessão da Tarde”. Uma pena.

Mutantes

Embora tenha lançado material inédito recentemente, o Mutantes agrada mesmo é quando toca velhos sucessos, muito mais pela músicas em si do que pela performance do grupo. Além do baterista Dinho, só Sérgio Dias é que representa a formação clássica, e a vocalista Bia Mendes, prestes a ser mamãe, tem o desempenho resumido à boa voz e à expressões faciais. Sérgio Dias, exímio guitarrista, busca pontos fora da curva no repertório do show. Em “Ando Meio Desligado”, por exemplo, já no final, ele incrementa uma sequência de tirar o fôlego. Outros momentos de destaque na noite foram “Minha Menina”, “Vida de Cachorro” e a emblemática “Balada do Louco”. Pena que pouca gente prestigiou o grupo, sobretudo da metade para o final, quando todos se deslocavam para o palco ao lado, onde o Los Hermanos iria tocar. Vai ver que foi por isso que sobraram dez minutos do tempo previsto para o show do grupo.

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Clarissa em outubro 10, 2010 às 19:09
    #1

    Incríveis considerações!
    Finalmente alguém escreve algo que preste de forma sincera sobre Los Hermanos. (y)

  2. Tamiris em outubro 14, 2010 às 12:16
    #2

    Só uma observação: o set list de Itu foi baseado no album Ventura, e não no 4, com 9 das 16 músicas tocadas, sendo que do álbum 4 apenas 3 músicas foram incluidas.

  3. felipe em outubro 15, 2010 às 15:34
    #3

    Tamiris, é comum jornalista não saber do que está falando. Não adianta corrigir!

  4. Flávio em novembro 30, 2010 às 18:08
    #4

    Pô, dizer que o álbum 4 é mal acabado é foda! E essa história de “Anna Júlia” cansa… quando o Los Hermanos apareceu com Anna Júlia eu detestava essa música e não gostava da banda também. Hoje sou fã canto todas e nem lembro desse hit, e creio que a maioria esmagadora dos admiradores do grupo preferem as outras, de longe, fato.

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