O Homem Baile

A batalha de Itu

Em noite histórica e de correções do passado, Rage Against The Machine supera problemas e convence com o rock furioso, técnico e contagiante; banda encerrou a primeira noite do SWU ontem, em Itu. Fotos: Luciano Oliveira.

Zack de la Rocha usou e abusou de suas verve poderosa; ao fundo, o batera Brad Wilk

Zack de la Rocha usou e abusou de suas verve poderosa; ao fundo, o batera Brad Wilk

Era pressão demais. Quase duas décadas de ansiedade acumuladas pelos fãs do Rage Against The Machine tinham que explodir de uma vez só e de maneira que beirou o descontrole. O show marcou o encerramento da primeira noite do SWU Music and Arts Festival, ontem, em Itu, no interior de São Paulo. Queda do sistema de som, tentativa de invasão das grades de controle do público, interrupção dos shows para acalmar os ânimos e muitos atendimentos médicos. O que esperar de uma banda que sugere, já no nome, raiva contra (preencha você próprio)?

Zack de la rocha e o mirabolante Tom Morello

Zack de la rocha e o mirabolante Tom Morello

Mesmo já cascudos, os integrantes da banda mostraram uma disposição incrível. O vocalista (e ativista) Zack de la Rocha continua com o carisma na ponta dos cascos, cantando cada sílaba de suas letras/protestos come se fosse pela primeira vez. Preparo físico também não lhe falta. No momento crítico do show, justamente após ter dedicado “People Of The Sun” ao MST, coube a ele pedir que o público desse um “passo bem pequeno para trás e que cada um cuidasse do outro”, para que eles continuassem. O show havia sido interrompido por uma ameaça de queda da grade que separa o palco da Pista Premium, que, a essa altura, de VIP não tinha mais nada. Sabe-se que, curiosamente, nessas ocasiões o melhor a se fazer é continuar o show, e foi o que aconteceu.

Zack de La Rocha é acompanhado por um Tom Morello que, além de exímio guitarrista, atua como se fosse um técnico de manutenção guitarras, extraindo sons extraordinários e ambíguos de seu instrumento, utilizando os controles de timbre e volume. Ora parecia um theremin, ora uma turbinada pick up de um raro DJ interessado no verdadeiro peso de uma guitarra. Muitas vezes ofuscado pelo saliente groove da retaguarda formada por Tim Commenford (baixo) e Brad Wilk (bateria), ele tirou a prova dos nove com sobras, fazendo a necessária correção da história justamente em cima do palco. Enquanto isso a massa saltitante – público total estimado em 50 mil pessoas – se acabava. Os problemas aconteciam mais por causa do leiaute infeliz da área dos palcos principais - com a torre de som espremendo o público na grade da Pista Premium - do que pelo show em si.

O baixista Tim Commenford e de Zack de la Rocha

O baixista Tim Commenford e Zack de la Rocha

Ainda na primeira metade do set, o som do PA caiu completamente, mas a banda, abastecida pelas caixas de retorno do palco e pelos fones, não percebeu e continuou cantado. Enquanto isso, vaias do público para a produção do festival, no previsível coro “hey, SWU, vai tomar no…”. A situação se repetiu uma vez e teve gente jurando de pés juntos que o desligamento era proposital, a fim de acalmar os ânimos. Apesar de tudo, o domínio da situação era total por parte da banda. Quando o som voltou, de la Rocha improvisou uma jam em ritmo de reggae que serviu para esfriar a situação e, ao mesmo tempo, testar os equipamentos. Num legítimo free style, o vocalista, claro, soltou o recorrente discurso, citando mais uma vez o MST para os abastados que podem frequentar festivais de rock de ingressos caros como o SWU.

Não se sabe se, em meio a esses altos e baixos, o grupo acabou encurtando o repertório, que resultou num show de cerca de 1h40min, incluindo as paralisações. Sabiamente, as músicas escolhida foram, em sua maioria, as do primeiro álbum. “Bombtrack”, a segunda da noite, “Bullet In The Head”, logo depois das paralisações para conter os ânimos, e “Guerrilla Radio” foram as que mais fizeram o público vibrar, saltitando como fazem Zack e Morello o tempo todo, ou com o punho esquerdo erguido – “para trazer esperança para a América do Sul”, dizia o vocalista. No bis, depois do Hino da Internacional Socialista ao fundo, o RATM arrematou a noite nervosa com “Freedom” e “Killing In The Name”, o maior sucesso deles e um dos belos retratos da década de 90. No fim, pairou no ar a sensação de alívio e de que todos saíram vencedores daquilo que, doravante, vai ficar conhecido como a Batalha de Itu.

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Guto Jimenez em outubro 10, 2010 às 14:49
    #1

    Pelo que vi na TV, o show poderia ter sido uma bomba atômica sônica que teve defeito no detonador. Apesar disso, o locutor produziu a frase imbecil do século: “vamos todo mundo dar 3 passos pra trás, por favor!” Cuma?!

  2. jana em outubro 11, 2010 às 2:26
    #2

    Precisamos de mais eventos desse nível aqui no Brasil, achei muito bom apesar de alguns contratempos tudo foi muito bom!

  3. Edu Gemmal em outubro 13, 2010 às 14:15
    #3

    Muito bem escrito, Marcos. Seu blog é obrigatório a qualquer fã do Rock que se preze. Estive lá no show e acho que você resumiu muito bem o que foi essa apresentação memorável. Não consigo parar de pensar no show desde então, foi marcante. Só estando lá mesmo.

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