O Homem Baile

Tenso e raivoso

No Rio, Prophets Of Rage alonga apresentação para um público em sintonia com a fúria original do Rage Against The Machine. Fotos: Nem Queiroz.

O guitarrista do Prophets Of Rage, Tom Morello, e o punho cerrado que caracteriza sua trajetória

O guitarrista do Prophets Of Rage, Tom Morello, e o punho cerrado que caracteriza sua trajetória

Ainda é a terceira música da noite e o guitarrista toca enlouquecidamente na hora de solar em um número que é definitivamente um símbolo da música negra americana. Ele se chama Tom Morello, e embora tenha sido revelado no Rage Against The Machine, na década de 1990, e hoje se vire em diversos projetos, talvez tenha se desenvolvido como guitarrista completo somente no Audioslave. Aqui, segundo consta, ante a recusa do vocalista Zack de la Rocha, é o ponto de apoio do Prophets Of Rage, que revive a fúria do RATM com a colaboração mais do que especial de Chuck D (Public Enemy) e B-Real (Cypress Hill) nos vocais. Estamos no Vivo Rio, na última sexta (12/5) e a música se chama “Take the Power Back”.

O poder de fogo está de volta em uma banda por demais necessária em tempos tão estranhos, e por isso Morello exibe as costas da guitarra com o cartaz estampando o apelo global “Fora Temer”, como fez em todos os shows pelo Brasil, além de usar uma camiseta alusiva à prisão de Rafael Braga, e pedir sua soltura no microfone. O show é um braço carioca do Maximus Festival, que aconteceria no dia seguinte (veja como foi), em São Paulo, e serve como espécie de estreia do Rage Against The Machine no Rio, visto que o grupo, com Zack, só tocou no Brasil uma única vez, no finado festival SWU, em Itu, no interior de São Paulo, em um show marcado pela superlotação que ficou conhecido como “A Batalha de Itu” – clique aqui e relembre.

O baixista Tim Commerford, do RATM, dá uma força no vocal para Chuck D, do Public Enemy

O baixista Tim Commerford, do RATM, dá uma força no vocal para Chuck D, do Public Enemy

Muito menos gente havia no Vivo Rio, mas as cortinas pretas cumprem o papel e tem-se a impressão de que as cerca de 1800 pessoas enchem a casa, sobretudo quando a plateia se agita em ferozes rodas de dança. O repertório, basicamente o mesmo dos outros shows, tem nada menos que 10 músicas do RATM, e a novidade são duas já compostas por essa formação. “The Party’s Over”, gravada no EP lançado no ano passado, e “Unfuck The World”, que sai no álbum a ser editado em setembro, ambas com boas intervenções de Chuck D e B-Real. Tem também, pela primeira vez na turnê, “Kick Ou The Jams”, do MC5, com a participação de Tim McIlrath e Zach Blair, vocalista e guitarrista do Rise Against, que fez o show de abertura. Morello, que com Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria) já havia gravado a música no álbum de cover “Renegades” (2000), comanda a jam com os meninos, em um momento de pura generosidade.

Chuck D e B-Real, juntos, não chegam nem perto da performance de Zack de la Rocha – e a ideia nem é essa, porque eles são Chuck D e B-Real, ora essa -, mas brilham em performances conjuntas como em um medley hip hop cantado na grade, junto com o público. Ou em “Fight The Power”, do Public Enemy, refeita com a guitarra única de Tom Morello, que tira som de tudo o que é jeito: com alavanca, botões de controle, esmerilhando um plugue e até tocando. Em “Seven Nation Army”, do White Stripes, que tem o último grande riff de guitarra já criado, ele comanda uma versão desconstruída que agrega rock, funk, hip hop e o escambau. Se alguém ainda não tinha se sentido familiarizado com o repertório essa é a hora da entrega.

B-Real, rapper do Cypress Hill, tambem vocalista no Prophets Of Rage, ao lado do simpático Morello

B-Real, rapper do Cypress Hill, tambem vocalista no Prophets Of Rage, ao lado do simpático Morello

Mas a redenção mesmo vem depois, com “Killing in the Name”, no arremate da noite. Antes, ninguém fica parado, querendo ou sem querer, diante de uma turba raivosa, que se não se compara àquela de Itu em tamanho, não fica devendo no quesito animação e agressividade. Destaques? Pense em “Bombtrack”, com um riff pesado pra dedéu, depois de ajustes no som da casa; “Testify”, realçando o groove monstruoso da duplinha Commerford/Wilk; “Sleep Now in the Fire”, com uma cruel citação de Tom Morello a “Cochise”, do Audioslave; ou a poderosa “Bulls On Parade”, com as caixas de som explodindo no peito de cada um no meio da plateia. Mas nada supera a lembrança de ver “Killing in the Name” sendo tocada por quem a criou, bem ali na frente. Afinal, foi para isso que todos saíram de casa.

Set list completo:

1- Intro DJ Lord
2- Prophets of Rage
3- Testify
4- Take the Power Back
5- Guerrilla Radio
6- How I Could Just Kill a Man
7- Bombtrack
8- People of the Sun
9- Fight the Power
10- Hip Hop Medley: Hand on the Pump/Can’t Truss It/Insane in the Brain/Bring the Noise/I Ain’t Goin’ Out Like That/Welcome to the Terrordome/Jump Around
11- Sleep Now in the Fire
12- Bullet in the Head
13- The Party’s Over
14- Know Your Enemy
15- Unfuck The World
16- Seven Nation Army
17- Bulls on Parade
18- Kick Out The Jams
19- Killing in the Name

Tom Morello vira a guitarra de costas para exibir o cartaz e fazer coro com o apelo global: Fora Temer

Tom Morello vira a guitarra de costas para exibir o cartaz e fazer coro com o apelo global: Fora Temer

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