O Homem Baile

Petardo certeiro

Movido a decibéis e distorções e com sonoridade única, Queens Of The Stone Age promove encontro do rock de verdade com as massas; show do último dia do SWU foi o melhor do festival. Fotos: Luciano Oliveira.

O cara: Josh Homme canta e destrói sua guitarra, com o baixista Michael Shuman agitando no fundo

O cara: Josh Homme canta e destrói sua guitarra, com o baixista Michael Shuman agitando no fundo

Quando uma banda demora cerca de 50 minutos para entrar no palco e começa o show com uma música que cita um sem número de drogas “legais”, não é preciso ser muito esperto para saber o porquê do atraso. Foi o que aconteceu quando o chefão Josh Homme detonou “Feel Good Hit Of The Summer”, dando o cartão de visitas do Queens Of The Stone Age, ausente no Brasil desde o Rock In Rio de 2001. A partir dali ninguém mais se lembrou daquele tempão marcado por empurra-empurra de parte a parte: a festa havia começado. Era uma das atrações principais da última noite do SWU Music And Arts Festival, ontem, em Itu, no interior de São Paulo.

Josh e Shuman lado a lado no palco

Josh e Shuman lado a lado no palco

Mesmo ainda se adaptando a ajustes do som - uma terrível constante no festival - o grupo mandou logo de cara outras duas porradas, num início matador: “Lost Art Of Keeping a Secret” e a sensacional “3’s & 7’s”. O que se vê (se sente) é uma muralha de guitarras turbinadas por efeitos de teclados e eletrônicos “do bem” guiados pelo batera mãos de aço Joey Castillo. Cada pancada que os tambores recebiam parecia reverberar ainda mais as distorções de guitarra altíssimas, até para quem não estava tão perto do palco assim. Imagine para os abastados da fila do gargarejo na Pista Premium. Foi só antes da quinta música que Josh Homme se dirigiu à platéia. “Desculpas de novo”, se referia ele ao atraso, ao detonar o riff poderoso de “Monsters In The Parasol”, elevado à enésima potência do esporro quando tocado ao vivo. O QOTSA é uma das poucas bandas da atualidade que demonstra um poder de fogo extraordinário sobre um palco, potencializando ainda mais um repertório que já é, por si só, um achado.

Mesmo quando o ritmo cai um pouco em função de músicas de andamentos menos nervosos, estão lá o peso lento que faz lembrar Black Sabbath, a eletrônica suja, porém discreta de um Nine Inch Nails e a porrada de um Motörhead atualizado numa sonoridade especial que é marca registrada do Queens Of The Stone Age e em tudo que Josh Homme mete a mão. Ouça a superbanda Them Crooked Vultures ou a produção do guitarrista no segundo disco do Arctic Monkeys e tire suas conclusões. Ao vivo, realça um poder de fogo ainda maior, a custa de uma amplificação absurda e de muito, muito esporro. “In My Head” fecha o período razoavelmente calmo para “Little Sister”, hit nato, enlouquecer o público com o riffzinho colante e quebrado e um refrão que é pura nitroglicerina.

Mão pesada: o batera Joey Castillo como o guitarrista Troy Van Leeuwen

Mão pesada: o batera Joey Castillo como o guitarrista Troy Van Leeuwen

Quando não está destruindo a guitarra em músicas de forte apelo, Josh Homme tem um semblante taciturno e pouco conversa com o público. Embora tenha arriscado alguns “obrigado”, em português mesmo, sacou a frase da noite, “A melhor maneira e agradecer é tocar pra vocês uma música que todos conhecem”, reconheceu, fazendo um trocadilho, antes de iniciar “No One Knows”, parceria com Mark Lanegan, uma das mais esperadas da noite. Precedida pela extraordinária “Go With The Flow”, de longe a melhor música da década, incendiou a plateia de vez. No meio da música, com o baixo marcando, braços erguidos batiam palmas até onde não se podia mais ver onde acabava aquele mar de gente, num dos momentos inesquecíveis do festival, mesmo para uma banda hoje rodada como o Queens Of The Stone Age.

Em cerca de uma hora as 15 músicas do grupo levaram o público a uma experiência única, movida, antes de tudo, a muito bom gosto. Não é preciso o sujeito conhecer todas as músicas para se deixar levar por guitarras colantes, refrões fáceis e riffs de alto poder de combustão. É tudo isso que faz do show do Queens Of The Stone Age um encontro com a contemporaneidade, uma visita de peito aberto ao bom rock produzido nos últimos tempos. E, por tudo isso, o melhor show do agraciado Woodstock de Itu. Rage Against The Machine em segundo.

Dean Fertita toca guitarra e teclados

Dean Fertita toca guitarra e teclados

Set list completo:

1- Feel Good Hit Of The Summer
2- Lost Art Of Keeping a Secret
3- 3’s & 7’s
4- Sick, Sick, Sick
5- Monsters In The Parasol
6- Burn The Witch
7- Long Slow Goodbye
8- In My Head
9- Little Sister
10- Do It Again
11- I Think I Lost My Headache
12- Go With The Flow
13- No One Knows
14- Song For The Dead

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Alexandre em outubro 12, 2010 às 23:48
    #1

    So um adendo: a musica matadora no final se chama “Song for the Dead” =)

  2. Marcos Bragatto em outubro 13, 2010 às 9:08
    #2

    Corrigido! Obrigado!

  3. ManelMaia em outubro 13, 2010 às 16:16
    #3

    É, e também não teve Misfit Love nesse show.

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