O Homem Baile

A arte do exagero

Mars Volta transforma músicas que já eram experimentais em inesgotáveis viagens no palco do SWU; Infectious Grooves também improvisou, relembrando “sucessos” para dançar. Fotos: Luciano Oliveira.

Omar Rodriguez-Lopez e Cedric Bixler-Zavala no comado da viagem pesada do Mars Volta

Omar Rodriguez-Lopez e Cedric Bixler-Zavala no comado da viagem pesada do Mars Volta

O sujeito que se dirige a um show do Mars Volta esperando ver uma banda tocando as músicas que fazem parte da discografia quebra a cara. Não que grupo só toque músicas inéditas – o que seria ridículo -, mas cada uma das versões ao vivo passa a ser algo completamente diferente. O quinteto, comandado pelo porto-riquenho Omar Rodriguez-Lopez (guitarra) e Cedric Bixler-Zavala (vocal), enverada por surpreendentes improvisações que não têm fim, para o bem ou para o mal. Para se ter uma ideia, “Cotopaxi”, a primeira da noite, chegou a incríveis 15 minutos, enquanto no álbum “Octahedron”, o mais recente deles, o registro é de pouco mais dos convencionais três minutinhos adorados pelas FMs. E o que fazem os caras nesse tempo todo? De tudo um pouco: é baterista surrando os tambores e pratos sem dó, é solo de guitarra, é baixo cavernoso, é uma gritaria só.

O look de Omar Rodriguez-Lopez e o batera Dave Elitch

O look de Omar Rodriguez-Lopez e o batera Dave Elitch

Se tal performance experimental passa pela virtuose dos músicos, é inegável a pegada punk que eles trazem do At The Drive In, grupo do qual a dupla saiu, e que já se diferenciava pela forma com que os integrantes evoluíam técnica e musicalmente. Sabe quando punk sujo começa a aprender a tocar um instrumento de verdade, um pouco além dos três acordes, mas prossegue sendo punk? É mais ou menos por aí. Ou, por outra, vai além, porque quem esteve no sábado no Palco Água do SWU viu (e ouviu) psicodelia, fusion, jazz, música latina e o escambau. Em “Eriatarka” (não repare nos títulos, eles são assim mesmo), por exemplo, o minimalismo quase punk, mas fruto de técnica rebuscada, recebe doses cavalares de efeitos por conta de Rodriguez-Lopez , que consegue distorcer a guitarra em meio a texturas sem cair em solos infindáveis – muito embora eles também tenham vez, só que acompanhados, quase sempre, por uma barulheira geral.

Quando não acompanha com gritos esganiçados, Bixler-Zavala também faz das suas. Até demais. Além de se apoiar no pedestal de microfone branco, personalizado, ele desanda a fazer passos de funk de raiz como se fosse um James Brown doidaço, numa configuração das mais desconexas. Não que ele ele faça isso timidamente; o sujeito parte para a frente do palco numa exibição sensacional, caso a música de fundo fosse “Sex Machine”. Mas é apenas “Goliath”, outra viagem musical que tem de tudo, menos funk. E isso com um look à The Experience, a banda psicodélica que serviu de apoio para Jimi Hendrix ganhar o mundo. Aliás, se ele e o baterista Dave Elitch interpretassem Noel Redding e Mitch Mitchell numa cinebiografia do guitarrista ninguém acharia estranho. Enquanto isso, do outro lado do palco, Omar Rodriguez-Lopez curte a onda com um terninho verde musgo de doer. Que punk sujo que nada.

Todo o suíngue funky de Cedric Bixler-Zavala

Todo o suíngue funky de Cedric Bixler-Zavala

É a política do exagero de tudo que ultrapassa a veia musical dessa turma de malucos, e que, certamente, fez boa parte do público ir saindo de fininho para o show do Rage Against The Machine, que começaria em seguida, no Palco Ar. Porque, o que tem de experimental, o som do Mars Volta tem também de indigesto: é duro curtir por mais de 40, 50 minutos seguidos.

Infectious Grooves

Aquele projeto paralelo do Suicidal Tendencies que fez fama na década de 90 foi reformado há cerca de dois anos e caiu de paraquedas no SWU. Identificado com funk de raiz e outras misturas como soul e jazz, embora venha do punk, o grupo é cheio de músicos habilidosos e colocou a pequena plateia pra dançar com verdadeiros “clássicos” da época, como “Therapy” e a própria “Infectious Grooves”. Comandado por ninguém menos que Mike Muir, o cabeça do Suicidal (vestido à caráter, diga-se), o grupo não se furtou a improvisar, e não raro seguia o exemplo do Mars Volta em jams, só que enfatizando a simplicidade do “menos é mais” e o groove que lhe dá o nome, sem se estender tanto. Carismático, mas popularesco, Muir chamou quatro fãs mais exaltados a cantar em cima do palco e terminou o show na grade, colocando todo mundo para participar do refrão de “ST”, a sensacional música tema do Suicidal Tendencies que não poderia faltar, mesmo num show de seu filho mais bastardo.

Set list completo The Mars Volta:

1- Cotopaxi
2- Goliath
3- Eriatarka
4- Cicatriz
5- Roulette

Veja também: Rage Against The Machine no SWU

Veja também: Los Hermanos no SWU

Veja também: Queens Of The Stone Age no SWU

Veja também: Pixies e Yo La Tengo no SWU

Veja também: Cavalera Conspiracy no SWU

Veja também: Avenged Sevenfold e Crashdiet no SWU

Veja também: Linkin Park e Incubus no SWU

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Edu Gemmal em outubro 13, 2010 às 14:26
    #1

    Mars Volta foi a melhor surpresa do festival pra mim. Já conhecia a banda e gostava muito, mas não tinha ideia do que esperar ao vivo. O baterista é nervoso e o vocalista tem uma presença única. Os dois contribuem para o clima e o som de outro mundo que fazem.

  2. Leandro em janeiro 19, 2011 às 16:28
    #2

    O nome da ultima musica que o Infectious tocou nao é S.T. e sim Pledge Your Allegiance…

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