O Homem Baile

Apoteose indie

Dinossauro, Pixies desfila repertório de raríssimo bom gosto e leva púbico às alturas; até Yo La Tengo brilhou no último dia do SWU. Fotos: Luciano Oliveira.

 O encapuzado Frank Black, o batera David Lovering e a figuraça Kim Deal: pessoas normais

O encapuzado Frank Black, o batera David Lovering e a figuraça Kim Deal: pessoas normais

Embora essa tenha sido apenas a segunda visita do Pixies ao Brasil e a primeira à São Paulo, o show não foi um dos mais concorridos do SWU. O grupo ficou numa posição pouco confortável, depois do massacre do Queens Of The Stone Age e antes do Linkin Park, a grande atração do último dia de um festival que precisa compreender a importância da segmentação artística. Nada disso, no entanto, afetou o quarteto de veteranos que faz da simplicidade seu modo de ser. Foi só os primeiros acordes de “Bone Machine” começarem a reverberar nas caixas de som para que – num passe de mágica – o mundo Pixies fosse implantado sem maiores problemas.

Kim Deal em sintonia com David Lovering

Kim Deal em sintonia com David Lovering

O Pixies desfruta de uma unanimidade indie de impressionar. Embora seja um verdadeiro dinossauro do rock – há quase 20 anos não lança disco e vive de tocar clássicos do passado -, segue como queridinho no meio como se fosse a grande sensação da última semana apontado pela fajuta mídia britânica. Só que essa popularidade não nasceu do nada. É calcada num repertório raro de canções e arranjos espetaculares que fez um grupo quase exótico e certamente improvável triunfar como grande referência para a década de 90. Daí ser muito difícil alguém não se divertir num show desses: tem música reconhecida por todo mundo. Mesmo aquele não submerso no mundinho percebe o valor de uma boa música e (ainda) se surpreende com as esquisitices do grupo. Os mergulhados no meio, então, fizeram do show uma verdadeira apoteose indie. Coisa linda mesmo.

Como dinossauros, os integrantes do grupo poderiam ter uma postura blasé – e às vezes é o que aparentam -, mas logo se percebe que eles ainda são aqueles caras comuns, tímidos e desconfortáveis com o sucesso que não esperavam ter. Quer coisa mais indie que isso? Por isso Frank Black – bem mais magro, diga-se – entra no palco oculto por um capuz de um moletom ordinário, o batera David Lovering tem um bonezinho que lhe esconde o rosto, o guitarrista Joey Santiago não se cansa de contemplar o forro do piso do palco e Kim Deal – figuraça – não pára de rir o tempo todo, imóvel no cercadinho dela. O que teria consumido a dona da voz mais doce do indie rock mundial nos bastidores? No final ela protagonizaria uma inusitada apresentação da banda, ao mandar inadvertidamente o amigão Frank Black para aquele lugar.

O olhar tímido de Joey Santiago

O olhar tímido de Joey Santiago

Ocorre que em pouco mais de uma hora esses sujeitos simples e de pouca conversa descarregam vinte e tantas músicas que deixam a plateia de queixo caído. A dobradinha “Debaser” e “Wave Of Mutilation” é o destaque logo na primeira parte, e é seguida pelo “hit” “Here Comes Your Man”, com Deal detonando na evolução do baixo, simples e eficaz. Em “La La Love You” ela apresenta Lovering como vocalista e os dois namoram durante toda a música. Cabe a Santiago largar as texturas e destruir a guitarra na poderosa “Vamos”, que encerra o show com exatos 60 minutos, apontando para um inevitável bis, apesar do charme do quarteto em fazê-lo. “Where’s My Mind” garante a cena de torcida balançando os braços de lado a outro, e “Gigantic” fecha uma noite inesquecível. Havia tempo para completar o set de 28 músicas de 2004, mas para um festival com tantas atrações, o show soou como um bálsamo relaxante depois da destruição do Queens Of The Stone Age.

Yo La Tengo

Se o Pixies é o ícone, o Yo La Tengo é o eterno lado z do indie e cortou um dobrado para brilhar espremido pelo apressadinho público do Linkin Park, e tocando antes dos brothers Cavalera destruírem a massa. Não restou alternativa ao trio senão botar pra quebrar. Mas custou para isso acontecer. Na primeira parte do set, de cerca de 40 minutos, em “Periodically Double or Triple”, Ira Kaplan deixa a guitarra de lado para tocar teclado, e o baixista James McNew troca o baixo por… um tarol! Curiosamente o público, se não vibrava, também não protestava. A recuperação veio na nervosa “Nothing to Hide” e a apoteose final foi garantida num duelo de Kaplan com sua própria guitarra, com distorções à rodo, numa versão quilométrica (e matadora) para “Pass the Hatchet” que convenceu a turma da camisa preta. E ainda serviu para reforçar a tese de que, no meio de um festivalzão como o SWU, até o Íbis do indie rock pode fazer um bom show.

O boss: Frank Black até riu da divertida Kim Deal

O boss: Frank Black até riu da divertida Kim Deal

Set list completo Pixies:

1- Bone Machine
2- Isla de Encanta
3- Tame
4- Broken Face
5- Nimrod’s Son
6- Debaser
7- Wave of Mutilation
8- Here Comes Your Man
9- Monkey Gone to Heaven
10- Mr. Grieves
11- Crackity Jones
12- Caribou
13- La La Love You
14- No. 13 Baby
15- Gouge Away
16- Velouria
17- Dig for Fire
18- Allison
19- Hey
20- U-Mass
21- Vamoz!
Bis
22- Planet of Sound
23- Where is my Mind
24- Gigantic

Set list completo Yo La Tengo:

1- From a Motel 6
2- Today is the Day
3- Periodically Double or Triple
4- Autumn Sweater
5- Nothing to Hide
6- Tony Courtney
7- Sugarcube
8- Pass the Hatchet

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