Foram cerca de dois anos longe do Recife, mas a volta do Los Hermanos, tocando no Abril Pro Rock, o festival que o revelou há mais de uma década, foi melhor do que o esperado. Cerca de 15 mil pessoas lotaram o Chevrolet Hall e receberam o grupo em clima de histeria, fazendo lembrar os tempos da Beatlemania, em que pese o fato de Paul McCartney estar na cidade para duas apresentações, neste final de semana. E o quarteto retribuiu em grande estilo, tocando todas as músicas que se esperava, além de acrescentar duas composições inéditas, conforme este Rock em Geral antecipou, ambas de Rodrigo Amarante, e de improvisar no bis, fugindo do que estava combinado no set list distribuído pela produção antes do show.

Embora a gritaria, as palmas e cantoria fosse uma constante ao longo das duas horas e 29 músicas de show, o primeiro grande destaque veio com “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, quando o público desandou a pular e, da fila do gargarejo, confetes e serpentinas eram jogados no palco. Foi a primeira música que teve a ajuda do imenso telão de led atrás do palco – nota-se que não aconteceu a tradicional divisão em duas partes. “Essa cidade é especial para a gente”, disse Marcelo Camelo, contagiado pelo clima festivo. Poucas vezes se viu um público tão na mão quanto o dessa noite, e deve ser assim durante as 24 datas dessa turnê de reunião, que passa por 11 capitais. É o que deixa o grupo à vontade para fazer mudanças no repertório, se compararmos com os shows do SWU, em 2010, e na abertura para o Radiohead, em 2009.

A mais significativa é a inclusão de duas músicas, ainda sem título, de autoria de Rodrigo Amarante, mas que não devem estar no álbum solo que o músico vem tramando já há algum tempo. Ele mesmo disse que a primeira delas, uma balada que tem um substancial crescente dramático, teve o arranjo concluído durante a passagem de som, na véspera. A segunda, incluída no bis, é um rockão de beira de estrada com riff pegajoso, uma grata surpresa que flerta com o som de bandas como Queens Of The Stone Age, talvez fruto da experiência internacional de Amarante com o Little Joy. Ambas são pistas de um futuro álbum que, por ventura, o grupo pode vir a gravar, sonho de todos os fãs.

Outra novidade é a inclusão repentina de duas músicas a mais do disco de estreia, até hoje renegado pela banda, no bis. “Quem Sabe”, “Tenha Dó”, “Descoberta” e “Pierrot” não são tocadas juntas, em sequência, em um show, há mais de 10, 12 anos. A empolgação no final, com todo mundo cansado, mostra como o público deseja essas músicas nos shows. Os gritos de “chora pierrot” com os braços erguidos alternadamente é uma das cenas mais bonitas de se ver. Mas o mais importante é que o gesto mostra o grupo interessado em fazer as pazes com si próprio: não é possível o Los Hermanos permanecer ignorando a música – “Anna Júlia” – e o álbum – o primeiro – que mais lhe rende sucesso, até os dias de hoje.

Mudanças sutis nos arranjos prometem marcar esta turnê. Em “Do Sétimo Andar”, por exemplo, Camelo chega a dizer que a performance “vai parecer a de um abanda nova”, em acordo com o discurso de Amarante, que pede para que o público prestigie as bandas novas dessa edição do festival, assim como eles foram bem recebidos em 1999. “Sentimental”, por sua vez, ganha um final diferente, depois de receber uma das maiores salvas de palmas da noite. “A Flor”, espécie de “sobra” do primeiro álbum, se mostra contagiante como nos velhos tempos, e, em “Deixa O Verão”, embora Amarante acredite que o público “não está muito a fim de novidade”, o discreto Rodrigo Barba manda um mini solo de bateria.

Nem tudo são flores durante o show, o que leva Marcelo Camelo, antes de começar “Acostumar” (de sua carreira solo), a pedir que uma fã mais atirada na frente do palco seja levada pelo pessoal da segurança para um lugar mais arejado. Quando ouve um reclame de que não está sendo ouvido, por problemas no som, Amarante se sai bem, ao pedir que “todos aproveitem o bom momento” e “usem a imaginação”. Na parte final do show, um volume muito alto do som prejudicou a audição de algumas músicas, mas nada que atrapalhasse um show que superou outros de reuniões mais recentes, e que faz dessa turnê algo que, diferentemente do que foi planejado, possa de não ter fim.

Se list completo

1- Além do Que Se Vê
2- O Vencedor
3- Retrato Pra Iaiá
4- Todo Carnaval Tem Seu Fim
5- O Vento
6- A Outra
7- Morena
8- Primeiro Andar
9- Mais Tarde
10- Do Sétimo Andar
11- Um Par
12- Sentimental
13- Cadê Teu Suin?
14- Acostumar
15- A Flor
16- Cara Estranho
17- Condicional
18- Deixa o Verão
19- Música nova
20- Pois é
21- O Velho e o Moço
22- Conversa de Botas Batidas
23- Último Romance
Bis
24- Música Nova
25- Casa Pré-fabricada
26- Quem Sabe
27- Tenha Dó
28- Descoberta
29- Pierrot

Além dos Hermanos, a noite de abertura da edição de 20 anos do Abril Pro Rock teve shows com A Banda Mais Bonita da Cidade, o local Tibério Azul e Somato, de Santa Catarina, vencedor de um concurso de bandas. Hoje, Exodus e Brujeria encabeçam o dia do metal, e, no domingo, o indie Nada Surf, iniciando um giro pelo Brasil, e Mundo Livre SA são os destaques. Clique aqui para ver a programação completa do festival e acompanhe a nossa cobertura exclusiva.

Marcos Bragatto viajou ao Recife à convite do festival.

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