O Homem Baile

Apatia

Diante de um público generoso no Abril Pro Rock, A Banda Mais Bonita da Cidade não consegue mudar imagem de “one-hit wonder” conquistada com “Oração”; Tibério Azul mostra diversidade. Fotos: Rafael Passos/Divulgação.

A vocalista Uyara Torrente e A Banda Mais Bonita da Cidade não aproveitaram a boa oportunidade

A vocalista Uyara Torrente e A Banda Mais Bonita da Cidade não aproveitaram a boa oportunidade

É provável que A Banda Mais Bonita da Cidade nunca tenha tocado para um público tão grande como o de ontem (20/4), na primeira noite do Abril Pro Rock. Quinze mil dedicados fãs não se importaram em ter que esperar mais um pouco para ver o início da turnê de retorno do Los Hermanos, mas só foram vibrar mesmo – como era de se esperar – no encerramento, quando “Oração”, aquela que bombou num clipe bem produzido na internet, quase fez parecer que o grupo de Curitiba era a encarnação do próprio Los Hermanos (veja como foi o show). A diferença é que uma andorinha só - diz o sábio ditado - não faz verão.

Tibério Azul: poesia (quase) acima da música

Tibério Azul: poesia (quase) acima da música

E, a bem da verdade, A Banda também não ajuda muito. Embora o repertório seja uma espécie de coletânea de canções do indie/underground de Curitiba, muito graças ao guitarrista do Poléxia, Rodrigo Lemos, que faz parte da trupe, o show foi denso, lento, arrastado na maior parte do tempo. Exatamente o contrário de tudo o que o público que queria e do que sobra justamente em “Oração”. Era uma boa oportunidade para o grupo mostrar que não é apenas um “one-hit wonder” de ocasião, mas o objetivo, se foi traçado, não chegou a ser alcançado.

Quando se espera que a caída de animação do show vá passar, entre a tensa “Oxigênio” e “Ótima”, dedicada para “os dias difíceis”, aí é que a coisa vai fundo, com “Canção Para Não voltar”, quase um tributo ao “Radiohead sound”, numa avaliação das mais positivas. Destaca-se também, que, a despeito de integrantes da banda terem origem no teatro, não são, definitivamente, bons de palco. À boa cantora Uyara Torrente faltam carisma e empatia com o público, e, aos demais integrantes, um mínimo de animação, em que pese Rodrigo Lemos ter tentado puxar um corinho até bem sucedido em “Boa Pessoa”. No final, coube a “Oração” cumprir seu papel. Parecia que o show tinha começado e terminado ali mesmo.

A vocalista do Somato também ataca nos teclados

A vocalista do Somato também ataca nos teclados

Tibério Azul, ex-integrante da Mula Manca e a Fabulosa Figura, é muito mais poeta do que músico, e deixa isso claro em canções que sua verve coloca os instrumentos para trás. Talvez por isso, musicalmente, ele acabe atirando para todos os lados, de modo que cada uma das oito músicas tocadas ontem apontam para diferentes subgêneros da música. Uma é brega (“Dinheiro”, do Mula Manca), outras flertam com a música country e até com o jazz, caso da música que tem a participação do pianista virtuose pop Vítor Araújo. É o que faz do show um número entretenedor dos bons, mas é preciso alinhavar melhor o repertório, em busca do mínimo de unidade.

Na abertura, o catarinense Somato, vencedor de um concurso de bandas novas, aproveitou bem a boa vontade da plateia, muito embora pouco numerosa naquele horário. O grupo enfrentou problemas de som em boa parte do início da apresentação, mas conquistou o público, com um som de fácil aceitação. Referências à Coldplay e ao indie britânico de uma forma geral são latentes, sobretudo na música em que o guitarrista Bruno Andrade canta, em inglês; um dos melhores momentos da noite. Nas outras, quem canta é Gloria Goulart, que reserva boa empatia com o público. Se o grupo limar as citações à bossa nova e ao samba, inoportunas aqui e acolá, que ilustram a grande tragédia do indie nacional, a coisa pode melhorar.

Set list completo A Banda Mais Bonita da Cidade

1- A Balada da Bailarina Torta
2- Mercadoramama
3- Lado Frágil
4- Aos Garotos de Aluguel
5- Oxigênio
6- Meu Príncipe
7- Ótima
8- Solitária
9- Canção Pra Não Voltar
10- Boa Pessoa
11- Oração

O Abril Pro Rock continua hoje, com Exodus e Brujeria encabeçando o dia do metal, e, no domingo, o indie Nada Surf, que inicia um giro pelo Brasil, e Mundo Livre SA são os destaques. Clique aqui para ver a programação completa do festival e acompanhe a nossa cobertura exclusiva.

Marcos Bragatto viajou ao Recife à convite do festival.

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