O Homem Baile

Irresistível

Accept volta a encantar com excelente show no domingão do Monsters Of Rock; Unisonic revive Helloween e também rouba a cena, mas Yngwie Malmsteen e Manowar ficam devendo. Fotos Divulgação Monsters Of Rock: Camila Cara (1, 2, 3, 5, 6 e 7) e Ale Frata (4).

O baixista Peter Baltes, o vocalista Mark Tornillo e o guitarrista Wolf Hoffmann: linha de frente do Accept

O baixista Peter Baltes, o vocalista Mark Tornillo e o guitarrista Wolf Hoffmann: linha de frente do Accept

Parecia impossível acontecer duas vezes, ainda mais seguidas. Mas, mesmo diante um público maior e concorrendo com outras 15 bandas, o Accept sai do Monsters Of Rock como um dos melhores shows do festival. Assim como aconteceu na última quinta, no Rio (veja como foi), na abertura para o Judas Priest, o quarteto alemão fez um show rápido de cerca de uma hora com 11 músicas, o suficiente para provocar imediata vibração por parte do público, que – diga-se de passagem – chegou muito mais cedo à Arena Anhembi do que no sábado. E olha que o momento mágico nem se deu durante ao blockbuster “Balls to the Wall”, que, se bobear, até o porteiro do seu prédio assovia do nada. O bicho pegou o tempo todo, e, ainda por cima sob um por do sol de outono de arrepiar.

Curioso como a abertura, com “Stampede”, uma das duas do álbum mais recente, “Blind Rage”, lançado há apenas oito meses, é cantada a plenos pulmões como se fosse ela o clássico em questão. É como se tratasse já de uma música conhecida por todos, como se a banda, com uma rodagem de mais de 45 anos, fosse a última das novidades do heavy metal e do rock propriamente dito. E como se a entrada do vocalista Mark Tornillo no lugar do emblemático Udo Dirkschneider não fizesse a menor diferença. “Stalingrad”, do disco de 2012, também é acompanhada verso a verso, ainda mais com o tom épico que lhe caracteriza, somado a riffs sobre riffs e a um cantarolar irresistível. O mesmo que tem o auge em “Princess of the Dawn”, acompanhada não só pelo gogó do povão, mas com a batida das palmas marcando o ritmo. Num átimo de segundo, São Paulo parece convertida na pequena Wacken, no norte da Alemanha.

Que saudades do Udo, que nada: o baixinho Mark Tornillo dá conta do recado como vocalista do Accept

Que saudades do Udo, que nada: o baixinho Mark Tornillo dá conta do recado como vocalista do Accept

A única substituição na lista das músicas em relação ao show do Rio é a entrada de “London Leatherboys”, que funciona muito bem na parte inicial do show, muito impulsionada pela coreografia de três dos integrantes na beirada do palco. Imagine então, se “Losers and Winners”, que foi muito bem no Rio, não tivesse saído. O enlouquecimento do público vem mesmo com a velocíssima “Fast as a Shark”, mas a cena mais que perfeita acontece no mar de braços erguidos com punhos cerrados em “Metal Heart”, impulsionado pela performance extraordinária da banda sobre o palcão do Monsters. A essa altura, “Balls to the Wall” é apenas um bônus – e que bônus! – não só para o show, mas para a vida de cada um que viu de perto o que acontece em um show de uma banda de heavy metal com bom repertório e total domínio de palco.

Não é preciso ser muito antenado com o que acontece no mundo do heavy metal para saber de que, em show do Unisonic, as chances de rolar um ou outro clássico da era de ouro do Helloween (entenda-se a época dos dois álbuns “Keepers…”) são muito grandes. Isso porque a banda tem na formação a voz de ouro de Michael Kiske e o guitarrista Kay Hansen, praticamente um dos definidores do que veio a se chamar metal melódico, ambos da tal época de ouro do grupo alemão. Pois foi dito e feito. Já perto do enceramento, com o dia claro e o sol em riste, o grupo manda, em seguida, “March Of Time” e “I Want Out”, enlouquecendo o público no primeiro grande momento do dia. Afinal, não é sempre que se vê Michael Kiske em grande forma cantando hinos globais do heavy metal com o suporte de um gênio do naipe de Hansen.

Kay Hansen e Michael Kiske: dois monstros sagrados do Helloween, dessa vez à frente do bom Unisonic

Kay Hansen e Michael Kiske: dois monstros sagrados do Helloween, dessa vez à frente do bom Unisonic

O Unisonic, contudo, não é escravo do passado, de modo que a tarde linda ainda é bem preenchida com músicas dos dois álbuns do grupo, o primeiro, autointitulado, e “Light of Dawn”, o segundo, de 2014. A melhor delas é justamente “Unisonic”, veloz e com sotaque pop e colante, que arremata o show depois dos hits do Helloween sem deixar a peteca cair. Vale o registro de que o supergrupo – já pode chamar assim? – tem ainda Denis Ward, também produtor, no baixo, e Tobias Exxel, o baixista do Edguy, provisoriamente tocando guitarra. Antes, Kiske já mostrava a boa fase em músicas como “Exceptional” e na linda “When the Deed Is Done”, mais lenta, com bela introdução melódica e muitos solos daqueles que Kay Hansen faz brotar como herva daninha em solo adubado.

Destruir uma guitarra e deixar o braço e o corpo da coitada dependurados pelas cordas (como fizeram Yngwie Malmsteen e Kiss, veja aqui) pode ser até considerado um arrojo a mais em um show de rock. Mas com o Manowar o buraco é mais embaixo. Tanto que o show deles é encerrado com o baixista Joey DeMaio, durante “Black Wind, Fire and Steel”, arrebentando as cordas grossas do contrabaixo, enrolando uma a uma, que são repassadas a fãs na fila do gargarejo. O grupo tem grande responsabilidade com uma horda de fãs com os braços erguidos fazendo o tal símbolo que lhe é característico e também mais tempo para tocar, mas acaba desperdiçando valiosos minutos com longas trilhas gravadas de introdução e encerramento e com um desnecessário discurso de DeMaio – em bom português, diga-se – defendendo o blábláblá do “verdadeiro heavy metal” que só o Manowar faz.

O baixista Joe DeMaio: muito discurso e falação que acabam atrapalhando o bom show do Manowar

O baixista Joe DeMaio: muito discurso e falação que acabam atrapalhando o bom show do Manowar

Mas o que o show tem de bom – a música – é bom de verdade, ainda mais quando músicas não tocadas já há um tempão entram na roda. Caso de “Battle Hymn”, que encerra o set antes do bis, na qual o vocalista Eric Adams mostra bom humor com um ruído vazante de DeMaio, e “Metal Daze”, logo no início, que tem a inusitada participação de Robertinho de Recife, embora não percebida por muita gente, já que o anúncio não ficou bem claro. Outros destaques do show, muito bem recebido pela tal horda, são “Kings Of Metal”, faixa-título do álbum de 1988, regravado no ano passado; “Warriors of the World United”, cantada em uníssono pelo público ali da frente; e “Hail and Kill”, com direito a um belo solo do guitarrista Karl Logan. Tudo claro, com o volume absurdo que só o Manowar sabe como tirar de seus instrumentos. Mais metal e menos falação, por favor.

Quem passa a vida defendendo o hard rock mais exagerado, típico dos anos 80, como algo sério e a ser respeitado, seguramente não se interessa pelo Steel Panther. O grupo, mistura de banda de verdade com paródia e comédia do tipo “stand up”, não leva absolutamente nada a sério, muito menos ele próprio. Para se ter uma ideia, o baixista Lexxi Foxx aproveita as intermináveis falas do guitarrista Russ Parrish para pentear o cabelo e retocar o batom em pleno palco. Ele também protagoniza outra cena hilária, quando, depois da boa “Eyes of a Panther”, ajudado por um secador de cabelos gigante, erguido pelo próprio Parrish, faz um impagável “solo de cabeleira”, garantindo a festa do público. Se ele toca bem? Ah, deixa isso pra lá, o negócio é diversão.

O baixista Lexxi Foxx e o vocalista Michael Starr, do Steel Panther: hard rock mais comédia do que música

O baixista Lexxi Foxx e o vocalista Michael Starr, do Steel Panther: hard rock mais comédia do que música

Na plateia, incautas sobem nas costas dos rapazes para levantar a blusa e mostrar os peitos, sendo que muitas delas acabam em cima do palco, durante a sugestiva “17 Girls in a Row”, advinha fazendo o que? É aparecer no telão para a vibração do público – já representativo – soar mais forte. Algumas piadas, contadas em razoável português, são até boas, como quando os integrantes se comparam com ícones como Van Halen, Mötley Crüe e Def Leppard, mas há outras, ao descambar para o baixo nível gratuito, ruins de doer. Musicalmente o grupo vai bem obrigado, e agrada com “Party All Day (Fuck All Night)”, um hard rock dos bons com colante melodia, e ainda a pesada “Death to All but Metal” que encerra a apresentação com dívida registrada no cartório do rock mais próximo.

A cacetada de amplificadores e cabeçotes que começam a ser amontoados de qualquer maneira do lado direito do palco do Monsters já indica que alguma coisa vai dar errado. Não que um show de um guitarrista virtuose não caiba em um festival desse naipe, mas Yngwie Malmsteen positivamente não estava em uma tarde feliz. Primeiro que a abertura, com a clássica “Rising Force”, teve sérios problemas técnicos, com o som variando muito em volume e intensidade; fato corriqueiro em vários inícios de shows no festival. Depois, porque tem-se a impressão de que essa formação foi ajuntada às pressas, uma vez que a agenda de shows do guitarrista não está lá tão cheia. E, ainda, o fato de o tecladista Nick Marino acumular os vocais – dignamente, diga-se – faz o show perder muito na necessária pegada inerente ao rock.

Em dia ruim, Yngwie Malmsteen não consegue convencer a plateia que chegou mais cedo ao Monsters

Em dia ruim, Yngwie Malmsteen não consegue convencer a plateia que chegou mais cedo ao Monsters

Com tudo isso, Malmsteen se mostra incomodado em vários momentos, reclamando dos técnicos de som, mas sem perder a pose. Ele gira a guitarra no próprio corpo, a lança para o alto para depois pegar de volta, toca com os dentes, se abaixa erguendo a guitarra sobre o corpo e, no final do show, na estonteante “Far Beyond The Sun”, destrói um dos modelos sem dó. Outras músicas em que deu para entender o que estava acontecendo, até pela boa reação da plateia, são “Alone In Paradise”, antecedida por um mini solo de bateria; “Seven Sign”, com os bons vocais de Marino; e a citação à Jimi Hendrix, com “Purple Haze”. Mas Malmsteen não poderia ir embora sem tocar o hit “You Don’t Remember, I’ll Never Forget”, que quase todo mundo conhece. Outro que ficou devendo: jamais esqueceremos.

Set list completo Accept:

1- Stampede
2- Stalingrad
3- London Leatherboys
4- Restless and Wild
5- Final Journey
6- Princess of the Dawn
7- Pandemic
8- Fast as a Shark
9- Metal Heart
10- Teutonic Terror
11- Balls to the Wall

Vista do palco do Accept no domingão do Monsters, com o entardecer do outono de São Paulo de bônus

Vista do palco do Accept no domingão do Monsters, com o entardecer do outono de São Paulo de bônus

Veja também:

O show de Ozzy Osbourne no Monsters Of Rock

O cancelamento do show do Motörhead no Monsters Of Rock

O show do Kiss no Monsters Of Rock

Os shows do Judas Priest no Monsters Of Rock

Tudo sobre o Monsters Of Rock

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Érica em abril 28, 2015 às 21:57
    #1

    Não fui ao Monsters, mas tive a oportunidade de ir ao show do Accept no Rio, e realmente foi algo épico do início ao fim!
    Inesquecível!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado