O Homem Baile

Configurações atualizadas

De volta com show inteiro, Accept brilha mais uma vez realçando o vigor da formação atual e a força do repertório recente. Fotos: Nem Queiroz.

O Accept e as coreografias ensaiadas na beirada do palco: alguém resiste ao bater de cabeça?

O Accept e as coreografias ensaiadas na beirada do palco: alguém resiste ao bater de cabeça?

Na saída do Imperator, no desfecho deste sábado (9/4), não há cara amarrada ou olhar cabisbaixo. Uma sensação de êxtase paira sobre uma numerosa plateia que caminha de volta ao mundo real com uma verdade irrefutável estampada em cada semblante: de um show do Accept ninguém sai triste. É como se o sorriso largo do guitarrista Wolf Hoffmann, condenado a jamais envelhecer, se reproduzisse automaticamente em cada um que ajudou a lotar a renovada casa de shows do subúrbio carioca. Não pela pouco propalada simpatia alemã, mas a custa do heavy metal tradicional da banda, que, nessa noite para se anotar no caderninho, se converte no mais cativante dos gêneros musicais. São riffs grudentos, solos arrepiantes, refrães facinhos e até citações de música erudita em duas horas de pura felicidade.

Era parada certa. Depois de fazer uma surpreendente apresentação de abertura para o Judas Priest na cidade, no ano passado (relembre) e de sair como um dos destaques do Monsters Of Rock, em São Paulo (relembre também), o Accept precisava de uma turnê solo contemplando o Rio de Janeiro. A diferença de um show para outro é praticamente o dobro das músicas, com ênfase – e ainda tem mais essa – na fase atual, iniciada com a entrada do ótimo e cascudo vocalista Mark Tornillo, para ficar claro de uma vez por todas para os portadores de cabelos ralos e esbranquiçados, viúvas de Udo Dirkschneider. É o que abre espaço, por exemplo, para ser ver, pela primeira vez, o poder de fogo de músicas como “No Shelter”, que carrega um raro somatório de riffs, velocidade e refrão pra cantar junto. E a performance ainda reserva um estupendo duelo entre Wolf e o baixista Peter Baltes na beirada do palco, coisa fina.

O vocalista Mark Tornillo, que deu uma nova cara ao Accept nessa ótima nova fase, enfatizada no show

O vocalista Mark Tornillo, que deu uma nova cara ao Accept nessa ótima nova fase, enfatizada no show

Seria reles detalhe se a música seguinte não fosse “Princess Of Dawn”, um clássico cuja introdução esguicha mais gasolina na fogueira que emana do público. E aí o cantarolar generalizado, até no meio dos solos, brota como se saísse sem querer. As duas músicas, coladinhas, são um dos pontos altos da noite. Outras duas da fase recente que se destacam são “Shadow Soldiers”, de élan épico e solos repletos de dramaticidade, e “Dying Breed”, que se não é essa Coca-Cola toda, ganha um up grade automático ao ser dedicada a Lemmy Kilmister por Tornillo. E pensar que o vocalista só parou para dar um alô para a plateia depois da sétima música, o que dá a ideia do atropelo que é um show do Accept. Mas vale o registro que o grupo não é dado a falatórios, deixando a conexão com o público fluir através do heavy metal mesmo.

A abertura já é conhecida desde o ano passado, mas é fluentemente impossível não se deixar envolver pela dobradinha “Stampede”/ “Stalingrad”, em que pese a demora no ajusta da qualidade do som, inicialmente em um volume muito baixo. O espetacular solo de Wolf na primeira, que desencadeia a cantoria do público, e os riffs da segunda, dando início a um mar de braços erguidos, com Tornillo chacoalhando uma bandeira do Brasil, é de acachapar. Além do efeito visual que só o metal pode proporcionar, os punhos cerrados têm, nesses tempos, uma função a mais: subtrair do povão os tontos que erguem aparelhos emburrecedores para cima, em vez de aproveitar o show em si. Pode até não parecer, mas o trabalho de formiguinha do outro guitarrista, Uwe Lulis, é que permite que Wolf deite e role o tempo todo, e ajuda até Baltes, que volta e meia deixa as bases de lado para solar no baixo surrado de guerra. Completa o quinteto o animado baterista Christopher Williams.

O baixista Peter Baltes e o guitarrista Wolf Hoffmann, únicos remanescentes da formação original

O baixista Peter Baltes e o guitarrista Wolf Hoffmann, únicos remanescentes da formação original

Era batata que o encerramento, com “Balls to the Wall”, seria um enlouquecimento generalizado de parte a parte. Rodas de dança dos mais diversos gêneros – divertido até -, cabeças batendo na cadência do metal, air guitar em profusão, pula-pula de torcida organizada: vale de tudo para celebrar esse grande ícone do rock mundial, não só do metal. Outros clássicos que quebram a banca são “Fast as a Shark”, que encerra a primeira parte do show com velocidade alucinante; “Metal Heart”, mais alongada, com citações à música erudita que Wolf adora (leia entrevista exclusiva aqui); e até a caçula “Teutonic Terror”, lançada em 2010, cadenciada, pesada e repleta de riffs, que já nasceu com a vocação para eternidade. Assim como o Accept veio ao mundo para brilhar sobre os palcos. Showzaço.

Set list completo:

1- Stampede
2- Stalingrad
3- Hellfire
4- London Leatherboys
5- Living for Tonite
6- Restless and Wild
7- Midnight Mover
8- Dying Breed
9- Final Journey
10- Shadow Soldiers
11- Starlight
12- Bulletproof
13- No Shelter
14- Princess of the Dawn
15- Dark Side of My Heart
16- Pandemic
Bis
17- Fast as a Shark
18- Metal Heart
19- Teutonic Terror
20- Son of a Bitch
21- Balls to the Wall

Mark Tornillo estica a garganta com Baltes, Wolf e o baterista Christopher Williams detonando no fundo

Mark Tornillo estica a garganta com Baltes, Wolf e o baterista Christopher Williams detonando no fundo

Tags desse texto:

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. HUGO MAURICIO DE ABREU em abril 10, 2016 às 13:49
    #1

    Parabéns Bragatto, pelo ótimo texto. Estava lá ontem no Imperator também (até próximo de você na pista) e reitero o que disse: não tem como fã sair infeliz após assistir ao ESPETÁCULO que o Accept proporciona ao vivo. Ainda bem - para nós! Grato também ao Nem Queiroz pelas belas fotos =)

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado