No Mundo do Rock

Nova era consagrada

Depois do sucesso do ano passado, Accept volta ao Brasil para turnê solo; guitarrista conta tudo sobre os shows, comemora vigor da formação atual e deseja tudo de bom para o ex-vocalista Udo Dirkschneider. Fotos: Divulgação (1), Luciano Oliveira (2) e Camila Cara/Divulgação Monsters Of Rock (3).

Accept versão 2016: Uwe Lulis, Peter Baltes, Mark Tornillo, Wolf Hoffmann e Christopher Williams

Accept versão 2016: Uwe Lulis, Peter Baltes, Mark Tornillo, Wolf Hoffmann e Christopher Williams

O tempo passa, o tempo voa e o Accept está completando nada menos que 40 anos de estrada. Tudo bem que a banda alemã já teve vários recessos e mudanças na formação – quem com esse tempo de estrada não tem? -, e que o emblemático vocalista Udo Dirkschneider já não está mais à frente. Mas também não se pode negar que, sob o comando do guitarrista Wolf Hoffmann e do baixista Peter Baltes, essa nova fase lançou três ótimos álbuns - “Blood of the Nations” (2010), “Stalingrad” (2012) e “Blind Rage” (2014) - com o vocalista Mark Tornillo e colocou o grupo de novo em pauta.

É a “nova era do Accept”, como diz Wolf, que o Brasil adorou não só por causa dos discos, mas também por conta dos shows que o grupo fez no País no ano passado (veja como foi no Rio e no Monsters Of Rock), reforçando a máxima de que eles realmente são bons de palco. Enquanto começa a compor novas músicas para o próximo disco, que só deve chegar ao mercado no ano que vem, o quinteto, completado por Uwe Lulis (guitarra) e Christopher Williams (bateria), segue numa última fase da “Blind Rage Tour”, que desembarca no Brasil no início de abril.

Os shows acontecem em cinco capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus e Curitiba (saiba mais). Sob esse pretexto, conversamos com o simpático Wolf Hoffmann por telefone, e ele nos contou como serão esses shows, com cerca de 22 músicas; sobre as constantes mudanças na formação; o próximo álbum do Accept; e sobre o seu segundo disco solo, que mistura metal e música erudita e sai ainda esse ano. De quebra, ele ainda deu uns pitacos na história de Axl Rose no AC/DC, banda da qual também é fã; quem não é? Leia abaixo os principais trechos da conversa:

Rock em Geral: Vocês tocaram no Rio no ano passado como banda de abertura para o Judas Priest, e agora têm um show solo. O que podemos esperar do Accept com mais tempo para tocar?

Wolf Hoffmann: Vamos tocar muitas músicas antigas, nossos clássicos, e muitas outras dos nossos três últimos álbuns. Acho que temos uma nova era do Accept agora, com esses três discos que realmente fizeram sucesso, muitos fãs querem músicas desses discos nos shows. Vamos tocar em torno de 20, 22 músicas, com todo o tipo de coisa.

REG: Dessa vez vocês também vão tocar em cidades brasileiras onde nunca estiveram. Qual é a sensação, nessa fase da carreira do Accept, de tocar em lugares em que vocês nunca imaginariam estar?

Wolf: O Brasil é sempre um lugar ótimo para se tocar e dessa vez vai ser uma boa oportunidade de passar mais tempo por aí. Nós adoramos o púbico, a devoção dos fãs, eles são mesmo muito entusiasmados, adoram cantar sozinhos, de modo que sempre tivemos bons momentos no Brasil e agora não deve ser diferente. Mal vejo a hora de já estar por aí.

REG: O Accept também foi considerado pela mídia daqui como um das melhores performances do Monsters Of Rock no ano passado, em São Paulo…

Wolf: Jura? Caramba…

REG: Sim, sim. Quais as recordações que vocês têm desse festival?

Wolf: Nem sabia disso, mas nos divertimos bastante. Nós adoramos tocar em festivais, já participamos de vários ao longo dos anos pelo mundo. Mas como eu disse, a plateia daí está em outro nível. Eu me lembro da grande reação do público, foi uma noite fantástica, e é sempre uma grande honra tocar com essas mega bandas como Judas Priest, Kiss e todas elas.

REG: Você vê diferenças entre os públicos de países da América do Sul como Argentina, Chile e Brasil?

Wolf: Sim, há pequenas diferenças, mas todos são muito devotos como em todo o mundo. A diferença é que para os sul-americanos e para os brasileiros é como se fosse uma religião. Eles adoram cantar e pulam de um lado para o outro, muito mais do que em outros lugares, pode ter certeza.

REG: Quando vocês decidiram retornar, em 2009, com essa formação, sem o Udo, foi uma decisão difícil de tomar? Vocês tiveram o apoio dos fãs desde o começo?

Wolf: Foi uma decisão dura de tomar, mas foi a única opção que tínhamos, porque o Udo não estava mais interessado em trabalhar conosco. Ele já vinha há tempos com sua própria banda, já tinha dado um passo como artista solo, lançando discos. Mas temos Mark Tornillo, ele tem uma ótima voz e serve perfeitamente para o que queremos fazer. Então decidimos trazer o Accept de volta, porque ainda há uma grande demanda para a música do Accept. Fizemos já três discos novos e o resto é história.

REG: Como vocês acharam o Mark Tornillo e como ele se encaixou tão bem na banda?

Wolf: Na verdade nunca procuramos por alguém, foi uma coincidência muito estranha. Peter e eu nos reunimos para tocar, fazer umas jams, só tocar de bobeira, e alguém sugeriu que este cara, Mark Tornillo, poderia se juntar a nós, só por diversão. Ele veio, começou a cantar e eu e o Peter piramos e decidimos, de uma forma bem espontânea, reunir a banda. Achávamos que o Accept tinha acabado para sempre, mas com esse cara o mundo se abriu para nós, tudo é possível agora.

REG: Ele é um americano em uma banda da Alemanha, é difícil lidar com isso?

Wolf: Muitos na banda moram em lugares distantes uns dos outros, não chega a ser um problema. Há um pouco de diferenças culturais, acho que sempre seremos os alemãezões e ele o americano, mas tudo bem.

O baixista Peter Baltes e o guitarrista Wolf Hoffmann se divertem durante o show do ano passado, no Rio

O baixista Peter Baltes e o guitarrista Wolf Hoffmann se divertem durante o show do ano passado, no Rio

REG: O jeito do Tornillo cantar parece muito com o de Brian Johnson, do AC/DC, já pensou ele cantando na banda em vez do Axl Rose?

Wolf: Seria ótimo, me surpreendi com a notícia do Axl…

REG: O mundo se surpreendeu…

Wolf: Soou estranho para mim, mas tudo bem. Acho que o Mark faria um ótimo trabalho, na verdade, mais eu prefiro que ele fique onde está, é claro! O que você acha?

REG: Sei lá, eu já sinto falta do Brian Johnson…

Wolf: Sei, sei… Todos vão sentir, que banda fantástica! Sempre fui um grande fã do AC/DC…

REG: Eu não consigo imaginar Axl Rose cantando com eles…

Wolf: Ninguém consegue, mas é parte do que eles fazem, e imagino que queiram algo diferente.

REG: O Accept tem novos guitarrista e baterista desde o início do ano passado, a banda muda muito de formação, isso te incomoda?

Wolf: É uma coisa natural, estamos nesse ramo por 40 anos e as pessoas vão e vêm. E nesse caso foi o Herman e o Stefan (Herman Frank e Stefan Schwarzmann, respectivamente guitarrista e baterista) que tomaram a decisão de retomar suas próprias carreiras, eles queriam seguir em frente e têm seus próprios projetos. Então achamos dois ótimos caras novos, e, no fim das contas, foi melhor pra todo mundo. Acho que na verdade estamos melhores agora do em qualquer outra formação. Toda vez que entram caras novos, como está acontecendo agora, a banda ganha um novo frescor, porque eles têm sempre que provar para o mundo que eles podem ocupar o posto e detonar. Estamos melhores que nunca.

REG: Nos três discos dessa nova era do Accept, como você falou, o produtor foi o Andy Sneap, mais conhecido por seus trabalhos com bandas de metal extremo. Como ele contribui para o metal clássico do Accept?

Wolf: De certa forma ele faz parte da nova geração de produtores, e, como você disse, já trabalhou com várias bandas de thrash metal, bandas com um som mais extremo, não com caras das antigas como nós. Mas de alguma forma a combinação dos dois lados funciona, com caras das antigas compondo e a sonoridade moderna que ele traz. E isso realmente funciona bem. E, além de tudo, o Andy sempre foi um grande fã do Accept, desde criança, então ele sabe exatamente como o Accept tem que soar.

REG: Pelo jeito vocês vão gravar um novo álbum com ele…

Wolf: Estamos tentando, nem começamos ainda, mas já estamos compondo algumas músicas e quando terminarmos pretendemos chamá-lo. Caso ele esteja com tempo, nós queremos, sim.

REG: Essas músicas novas que vocês falou, há a possibilidade de vocês tocá-las no Brasil?

Wolf: Não temos nada terminado ainda para mostrar, acabamos de começar a compor. É um processo que deve durar muitos meses, nada para mostrar antes de ser lançado. Fazíamos isso há um tempo, mas hoje, com essa geração do youtube, não podemos mais fazer isso…

REG: A internet é rápida demais…

Wolf: E eu não sei? Entra no ar em um minuto!

REG: Você também está para lançar um álbum solo esse ano…

Wolf: Sim, será lançado em meados do ano, talvez em junho. É a sequência do disco que eu lancei nos anos 90 (“Classical”, de 1997). É música clássica rearranjada para o metal. São peças instrumentais compostas por compositores tradicionais como Mozart e Beethoven, e eu tive a liberdade de rearranjar para o meu jeito de tocar guitarra, com uma banda de metal. Mas também tem uma orquestra tocando junto, gravei na República Tcheca. O material já foi entregue para a gravadora fabricar.

REG: Qual é o título?

Wolf: Não posso te dizer, ainda é um grande segredo, foi mal.

REG: O Udo está em turnê com a banda dele tocando só clássicos do Accept, isso te incomoda?

Wolf: Não, acho ótimo! São músicas muito boas para tocar, não me incomoda mesmo. É bom para ele e é bom saber que os fãs querem ouvir. Desejo a ele tudo de bom!

REG: Não rola um tipo de competição, tipo qual banda faz o melhor show com mais ou menos o mesmo material?

Wolf: Não, deixamos para os fãs decidirem quem é melhor ou pior, não me envolvo nesse tipo de coisa. Já partimos para outra há bastante tempo, fazendo nossas coisas.

REG: Você ainda considera uma turnê de reunião do Accept com o Udo de volta?

Wolf: Nunca foi posto isso na mesa, acho que não devemos pensar nisso.

REG: Para fechar, faz um top 5 de músicas do Accept?

Wolf: Hum, acho que “Balls to the Wall” tem que estar na lista, “Fast as a Shark”… “Teutonic Terror”, com certeza. “Metal Heart” e, deixa eu ver… “Final Journey”, que é muito legal de tocar nos shows.

Peter Baltes, o vocalista Mark Tornillo e Wolf Hoffmann no show do Monsters Of Rock, em São Paulo

Peter Baltes, o vocalista Mark Tornillo e Wolf Hoffmann no show do Monsters Of Rock, em São Paulo

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