Na peito e na raça
Na abertura para o Judas Priest no Rio, Accept faz apresentação matadora e conquista o público; Robertinho de Recife decepciona com pot-pourri instrumental e clone do Daft Punk. Fotos: Luciano Oliveira.
Se o início passa batido com “Stampede”, do disco mais recente, “Blind Rage”, lançado no ano passado, mesmo porque o operador da mesa de som demora séculos para ajustar as coisas, a também recente “Stanligrad” já conquista a plateia de cara com um sugestivo cantarolar. O novo vocalista, Mark Tornillo, na banda desde de 2009, é um misto de Udo e Brian Johnson, do AC/DC, ostentando um chapéu clássico para despistar os problemas de ordem capilar. Esganiçado, ele se ajusta bem ao grupo, muito embora o volume dos instrumentos supere – e muito – a sua voz. A banda atua com muitos backing vocals, sobretudo do animado baixista Peter Baltes, um dos dois remanescentes da formação original, que tem mais e 40 anos, com um surrado instrumento.
Mas o negócio do Accept são os riffs matadores que inspiram milhares de bandas do chamado metal tradicional mundo afora – pense em um Hammerfall e similares – e assim duas músicas das antigas aparecem renovadas e pesadíssimas, perfeitamente contemporaneizadas para os nossos dias. São elas “Losers And Winners”, com direito a uma debulhagem de guitarra por parte de Uwe Lulis, e “Princess of the Dawn”, com élan de hino e que vai convertendo a plateia aos poucos. A essa altura, o bater de cabeça e os punhos cerrados compõem a bela cena que só um show de heavy metal pode proporcionar. Em “Pandemic”, mais uma das mais recentes, um crescente instrumental no final leva Baltes a um duelo lindo de se ver com o guitarrista Wolf Hoffmann, o outro remanescente da formação original.Já com o público na mão, não é difícil conduzir a apresentação a um desfecho esperado – você sabe – com “Balls to the Wall”. Antes, houve tempo para “Fast as a Shark”, uma porrada das boas tocada em uma velocidade descomunal, mas que, nos idos da década de 80 parecia muito mais rápida; e “Metal Heart”, com direito a mais um “ôôô” dos bons, e muitas palmas marcando o ritmo. Nada, contudo, supera a oportunidade de ver um grande clássico do inconsciente do metal sendo tocado ao vivo, bem ali na frente, pelos caras que inventaram e deram asas à música. Por isso “Balls to the Wall” é cantada a plenos pulmões pelo público, num encerramento que faz jus ao bom repertório, mas, sobretudo, à presença de palco do Accept. Só não ficou ruim para o Judas Priest porque Judas é Judas.
Na abertura, Robertinho de Recife tinha tudo para mostrar as novas músicas, que estão no disco “Back For More”, recém-lançado, e de reviver grandes sucessos dos tempos do metal nacional dos anos 80, quando ele brilhou com a Metal Mania. Mas optou por tocar um pot-pourri de quase meia hora, juntando alhos com bugalhos, e sem vocalista; ele próprio poderia cumprir o pape de um cantor. Assim, o show se transforma numa espécie de karaokê ao vivo, no qual o público tem que estar atento para reconhecer highlights como “Metalmania” e “Como Um Animal”, ou perceber de estalo trechos de “Highway Star”, do Deep Purple e “Iron Man”, do Black Sabbath, só para se ter uma ideia.Para piorar, um sujeito com um capacete ao lado do palco, parecendo um integrante do Daft Punk, bota tudo a perder operando um lap top e fazendo vozes de robô. O bom dessa história toda é que Robertinho toca pra cacete e esmerilha a guitarra do início ao fim do show, e o ruim é ver que um músico tão talentoso e de trajetória tão ampla não consegue montar um show minimamente convincente. Escoltado por uma boa banda, espera-se que em uma apresentação cheia, não como banda de abertura, o guitarrista recrute um vocalista para poder mostrar as fases de sua carreira mais relevantes, sobretudo para o público fã de heavy metal, já que ele voltou a optar por esse caminho.
Set list completo Accept:1- Stampede
2- Stalingrad
3- Restless and Wild
4- Losers and Winners
5- Final Journey
6- Princess of the Dawn
7- Pandemic
8- Fast as a Shark
9- Metal Heart
10- Teutonic Terror
11- Balls to the Wall
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