O Homem Baile

Na peito e na raça

Na abertura para o Judas Priest no Rio, Accept faz apresentação matadora e conquista o público; Robertinho de Recife decepciona com pot-pourri instrumental e clone do Daft Punk. Fotos: Luciano Oliveira.

Misto de Udo Dirkschneider e Brian Johnson, do AC/DC, Mark Tornillo está muito bem no Accept

Misto de Udo Dirkschneider e Brian Johnson, do AC/DC, Mark Tornillo está muito bem no Accept

O cenário não é nada favorável para o Accept. Em sua primeira passagem pelo Rio depois de milhões de anos, o grupo se depara com uma legião de fãs do Judas Priest (veja como foi), que encerraria a noite de ontem, no Vivo Rio. Pode parecer que não faz diferença porque “é tudo fã de metal”, mas faz, sim senhor. Assim como, entre os adeptos do próprio Accept, muitos nem sabem que o emblemático vocalista Udo Dirkschneider se mandou faz tempo, e outros estão ligadaços na nova fase, iniciada em 2009 e que já rendeu três bons discos, sem falar na turma do oba-oba que só quer saber de “Balls To The Wall” e ponto final. Pois com mais ou menos uma hora de show, os alemães ganharam o público na raça, no riff e no esporro, em uma apresentação matadora. Os shows antecipam as apresentações do festival Monsters Of Rock, que acontece em São Paulo nesse final de semana; saiba mais.

Se o início passa batido com “Stampede”, do disco mais recente, “Blind Rage”, lançado no ano passado, mesmo porque o operador da mesa de som demora séculos para ajustar as coisas, a também recente “Stanligrad” já conquista a plateia de cara com um sugestivo cantarolar. O novo vocalista, Mark Tornillo, na banda desde de 2009, é um misto de Udo e Brian Johnson, do AC/DC, ostentando um chapéu clássico para despistar os problemas de ordem capilar. Esganiçado, ele se ajusta bem ao grupo, muito embora o volume dos instrumentos supere – e muito – a sua voz. A banda atua com muitos backing vocals, sobretudo do animado baixista Peter Baltes, um dos dois remanescentes da formação original, que tem mais e 40 anos, com um surrado instrumento.

O baixista Peter Baltes e o guitarrista Wolf Hoffmann se divertem: remanescentes da formação original

O baixista Peter Baltes e o guitarrista Wolf Hoffmann se divertem: remanescentes da formação original

Mas o negócio do Accept são os riffs matadores que inspiram milhares de bandas do chamado metal tradicional mundo afora – pense em um Hammerfall e similares – e assim duas músicas das antigas aparecem renovadas e pesadíssimas, perfeitamente contemporaneizadas para os nossos dias. São elas “Losers And Winners”, com direito a uma debulhagem de guitarra por parte de Uwe Lulis, e “Princess of the Dawn”, com élan de hino e que vai convertendo a plateia aos poucos. A essa altura, o bater de cabeça e os punhos cerrados compõem a bela cena que só um show de heavy metal pode proporcionar. Em “Pandemic”, mais uma das mais recentes, um crescente instrumental no final leva Baltes a um duelo lindo de se ver com o guitarrista Wolf Hoffmann, o outro remanescente da formação original.

Já com o público na mão, não é difícil conduzir a apresentação a um desfecho esperado – você sabe – com “Balls to the Wall”. Antes, houve tempo para “Fast as a Shark”, uma porrada das boas tocada em uma velocidade descomunal, mas que, nos idos da década de 80 parecia muito mais rápida; e “Metal Heart”, com direito a mais um “ôôô” dos bons, e muitas palmas marcando o ritmo. Nada, contudo, supera a oportunidade de ver um grande clássico do inconsciente do metal sendo tocado ao vivo, bem ali na frente, pelos caras que inventaram e deram asas à música. Por isso “Balls to the Wall” é cantada a plenos pulmões pelo público, num encerramento que faz jus ao bom repertório, mas, sobretudo, à presença de palco do Accept. Só não ficou ruim para o Judas Priest porque Judas é Judas.

O jovem guitarrista Uwe Lulis e Mark Tornillo em um momento de compatilhamento no show do Accept

O jovem guitarrista Uwe Lulis e Mark Tornillo em um momento de compatilhamento no show do Accept

Na abertura, Robertinho de Recife tinha tudo para mostrar as novas músicas, que estão no disco “Back For More”, recém-lançado, e de reviver grandes sucessos dos tempos do metal nacional dos anos 80, quando ele brilhou com a Metal Mania. Mas optou por tocar um pot-pourri de quase meia hora, juntando alhos com bugalhos, e sem vocalista; ele próprio poderia cumprir o pape de um cantor. Assim, o show se transforma numa espécie de karaokê ao vivo, no qual o público tem que estar atento para reconhecer highlights como “Metalmania” e “Como Um Animal”, ou perceber de estalo trechos de “Highway Star”, do Deep Purple e “Iron Man”, do Black Sabbath, só para se ter uma ideia.

Para piorar, um sujeito com um capacete ao lado do palco, parecendo um integrante do Daft Punk, bota tudo a perder operando um lap top e fazendo vozes de robô. O bom dessa história toda é que Robertinho toca pra cacete e esmerilha a guitarra do início ao fim do show, e o ruim é ver que um músico tão talentoso e de trajetória tão ampla não consegue montar um show minimamente convincente. Escoltado por uma boa banda, espera-se que em uma apresentação cheia, não como banda de abertura, o guitarrista recrute um vocalista para poder mostrar as fases de sua carreira mais relevantes, sobretudo para o público fã de heavy metal, já que ele voltou a optar por esse caminho.

Robertinho de Recife debulhou a guitarra do início ao fim do show de abertura, mas carece de um vocalista

Robertinho de Recife debulhou a guitarra do início ao fim do show de abertura, mas carece de um vocalista

Set list completo Accept:

1- Stampede
2- Stalingrad
3- Restless and Wild
4- Losers and Winners
5- Final Journey
6- Princess of the Dawn
7- Pandemic
8- Fast as a Shark
9- Metal Heart
10- Teutonic Terror
11- Balls to the Wall

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado