O Homem Baile

Sem descanso

Kiss encerra o Monsters Of Rock com show intenso, repleto de clássicos do rock e efeitos especiais que seguem funcionando muito bem. Fotos: Camila Cara/Divulgação Monsters Of Rock.

Gene Simmons e Tommy Thayer: tradição e renovação na formação em que o Kiss comemora 40 anos

Gene Simmons e Tommy Thayer: tradição e renovação na formação em que o Kiss comemora 40 anos

Com o Kiss é assim. Quando a cortina com o nome do grupo em letras garrafais colocada na frente do palco cai, todo mundo sabe mais ou menos o que vai acontecer, mas não há, na Arena Anhembi lotada, ontem (26/4), quem não se sinta ansioso. Dessa vez, o baterista Eric Singer aparece descendo com bateria e tudo do forro do palco, enquanto os outros três mandam o riff inicial de “Detroit Rock City” na frente. Quase a mesma coisa da última vez em que o quarteto esteve no Brasil, em 2012 (veja como foi no Rio), só que lá eram Paul, Gene e Tommy que desciam na plataforma. Há dois anos e pouco era a turnê de lançamento do disco “Monster” (resenha aqui), mas agora, trata-se do giro de aniversário de 40 anos do Kiss, o que reforça o acerto para o show de encerramento de um festival com o nome de Monsters Of Rock. O público, estimado em 35 mil pessoas, deitou e rolou.

Porque não tem descanso: é entretenimento do início ao fim. O que inclui, não pela ordem, explosões, raios laser, efeitos pirotécnicos, jorros de papel picado em grande quantidade, integrantes voadores, vômito de sangue e o escambau. Por que se não tiver isso tudo, não é um show do Kiss. Se o grupo não trouxe o palco com a aranha gigante utilizado no exterior, mostrou como novidade a treliça telescópica que leva duas plataformas, no final do show, para sobre o povão. Numa, vai o baixista Gene Simmons, noutra, o guitarrista Tommy Thayer. Enquanto isso, lá atrás, a bateria é erguida como se Singer saísse por onde entrou, e no centro do palco o guitarrista Paul Stanley lança a guitarra ao chão até ver o corpo dependurado no braço pelas cordas (performance semelhante tiveram Yngwie Malmsteen e o Manowar, mais cedo, volte depois para ler). É o final mais que perfeito do blockbuster “Rock and Roll All Nite”, que arremata uma noite – e um festival – e tanto. Tá bom pra você?

Paul Stanley não está com a voz muito boa no show, mas comanda o público com vigor mesmo assim

Paul Stanley não está com a voz muito boa no show, mas comanda o público com muito vigor mesmo assim

Mas são 40 anos de rock a noite toda e festa todos os dias, de modo que há sinais de cansaço. O animadíssimo Paul Stanley, por exemplo, não está numa noite boa em termos de voz. Já no início pula vários versos, deixando para o público cantar, e sofre um bocado durante o show. Falando bastante com o público, ele tem a expectativa de esse truque funcionar, mas positivamente não é noite do gogó para ele. O que em nada atrapalha sua melhor performance, em “Love Gun”, quando atravessa a plateia dependurado em um cabo de aço até comandar a multidão do meio do público, na torre de som. No palco, Thayer manda solos atrás de solos numa performance endiabrada. Ele repetiria a dose em músicas como a ótima “Black Diamond”, na clássica coreografia de “Deuce”, e em “Calling Doctor Love”, quando do braço da guitarra saem jatos de faísca. Em boa fase, cumpre o papel de elemento rejuvenescedor no Kiss.

O público parece ter perfil conservador e não se anima muito com a ótima “Hell or Hallelujah” (“um dia vai virar um clássico”, anuncia Paul), single do bom “Monster”, mas a animação é geral em “Psycho Circus”, faixa título do disco que marcou a volta das máscaras e cuja turnê passou por São Paulo, em 1999. Seria a lembrança daquela noite fria no Autódromo de Interlagos? “Do You Love Me?” é a mais representativa da turnê de 40 anos, por conta de um clipe com imagens de toda a carreira do grupo, exibido no telão. Em “Lick it Up”, o trio de frente vai muito bem numa citação a “Won’t Get Fooled Again”, do The Who, inserção aparentemente pouco notada pela massa. E em “God Of Thunder”, música boa por definição, o vampirão Gene Simmons repete o ritual de voar ao topo do palco e cantar lá de cima, depois daquela cuspidela de sangue básica.

Simmons se esforça para escutar o grito da massa que compareceu ao Monsters Of Rock no domingão

Simmons se esforça para escutar o grito da massa que compareceu ao Monsters Of Rock no domingão

Stanley anuncia “Parasite” como “quase nunca tocada nos shows mais recentes”, mas a música tem entrado e saído do repertório. Pinçada dos primórdios setentistas do grupo, é a menos conhecida da plateia e só anima a fãs do tipo “die hard”. Nessa farta mistura de música boa e entretenimento, é certo que não sairá da cabeça de quem esteve no Monsters cenas como a dos três de frente tocando “Deuce” em coreografia de guitarras; a introdução ultra melódica de “Shout It Out Loud”; a grudância pop disco de “I Was Made For Lovin’ You”; e a marcação pesada de “War Machine”, entre outras. Um show, enfim, que somados os efeitos especiais e quantidade de músicas consagradas, não tem relax nem anticlímax, é uma pauleira só. Como todo show de rock deve ser.

Set list completo:

1- Detroit Rock City
2- Creatures of the Night
3- Psycho Circus
4- I Love It Loud
5- War Machine
6- Do You Love Me
7- Deuce
8- Hell or Hallelujah
9- Calling Dr. Love
10- Lick It Up
11- Solo de baixo
12- God of Thunder
13- Parasite
14- Love Gun
15- Black Diamond
Bis
16- Shout It Out Loud
17- I Was Made for Lovin’ You
18- Rock and Roll All Nite

Thayer e Stanley juntos na beirada do palco: tradicionais coreografias não vão sair da memória da plateia

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