O Homem Baile

Dominou

Novo classic rock do Rival Sons conquista plateia do Monsters Of Rock; sábado também é marcado por cancelamento do Motörhead e faniquito do Black Veil Brides. Fotos Divulgação Monsters Of Rock: Ale Frata (1) e Camila Cara (2, 3, 4, 5, 6, e 7).

Todo o feeling do vocalista do Rival Sons, Jay Buchanan: grupo é a grande revelação do Monsters 2015

Todo o feeling do vocalista do Rival Sons, Jay Buchanan: grupo é a grande revelação do Monsters 2015

Se o festival é de bandas de heavy metal e ainda por cima chamado Monsters Of Rock, não deve ser nada fácil para um incauto do novo classic rock fazer vida. Mas o sábado, que teve o cancelamento do show do Motörhead (saiba mais), o faniquito do Black Veil Brides e os vareios de Ozzy Osbourne e Judas Priest (resenhas aqui e aqui), também trouxe a grande revelação do festival: Rival Sons. Não que o grupo californiano seja lá essa novidade toda, com uns cinco anos de estrada e quatro álbuns nas costas. E não que não causasse certa expectativa logo após o anúncio das atrações do festival, mas o caso é que, mesmo tocando em um horário indigesto, o Rival Sons mostrou ser uma banda completamente diferente ao vivo, resultando em show peculiar e contagiante em todos os sentidos.

Diferente por que as músicas gravadas em estúdio se convertem em rockaços de arena, e é aí que se vê o quanto uma banda é boa e como o rock tem mesmo a vocação para as massas. Tudo por conta das performances do vocalista Jay Buchanan e do guitarrista Scott Holliday, e graças a um som bem equalizado e em um volume altíssimo já àquela altura da tarde. Se o início já é um festival de riffs setentistas devidamente atualizados, com “Play The Fool”, na qual Holliday e seu bigode de enciclopédia descola um solo fantástico, e a zeppeliana “Electric Man”, no decorrer do período é que a coisa engrena de verdade. Isso porque, embora o repertório seja todos escorado em riffs e solos, a apresentação ganha dramaticidade com a performance de palco de Buchanan, com seus trejeitos peculiares e um vozeirão que lhe brota do nada.

O bigode de enciclopédia do guitarrista Scott Holliday, do Rival Sons: músicas com muitos riffs e muitos solos

O bigode de enciclopédia do guitarrista Scott Holliday, do Rival Sons: músicas com muitos riffs e muitos solos

É assim na boa “Pressure And Time”, que dá título ao disco de 2011, quando ele inicia um relacionamento sério com o pedestal do microfone, e em “Where I’ve Been”, um dos destaques do show ao levar o público a agitar os braços como se fosse a música um clássico de outras eras. Ela é uma das quatro do álbum mais recente deles, “Great Western Valkyrie”, lançado no ano passado, e mostra uma faceta a ser evitada, quando o grupo se perde no caminho e demora a voltar para a música em si, modelo comum a bandas sem fronteiras como o Black Crowes. O desfecho vem com “Open My Eyes”, atrelada a um riff espetacular e a um solo bem sacado de Scott Holliday, dessa vez sem perder a mão, e com o hit “Keep On Swinging”, festeiro por natureza, com o som ainda mais alto. Portanto, se disserem por aí que o Rival Sons é banda só de riff e solo, sem melodia e com um vocalista afetado, não e deixe enganar. Falavam isso do Black Sabbath também. Numa palavra? Showzaço.

A tarefa de abrir um festival ao meio-dia em ponto não é a das mais fáceis, mas para Andreas Kisser, trata-se de uma “grande honra”. Não é o Sepultura o encarregado do serviço, mas o De La Tierra, supergrupo do metal latino americano que tem ainda Andrés Giménez (A.N.I.M.A.L., vocais e guitarra), Flavio Cianciarulo (Los Fabulosos Cadillacs, baixo) e Alex González (Maná, bateria). E é nessas horas que o heavy metal mostra porque é o heavy metal. Quem, em sã consciência, abriria uma vigorosa roda de dança nesse horário, sob um sol das trevas? Foi o que aconteceu quando Giménez anunciou que o grupo ia tocar “uma música que ficou muito conhecida com o Sepultura” e “Polícia”, do Titãs, foi responsável pelo primeiro momento lindo de um festival que ainda teria outras 15 bandas em dois dias.

O guitarrista Andreas Kisser e o baixista Flavio Cianciarulo agitam o metal latino do De La Tierra

O guitarrista Andreas Kisser e o baixista Flavio Cianciarulo agitam o metal latino do De La Tierra

A música não foi pretexto para covers das bandas de origem dos integrantes entrarem no repertório, e a meia horinha que o De La Tierra tinha direito foi bem aproveitada para mostrar o material do único álbum lançado até aqui. As melhores são “San Asesino”, com uma batida inicial quase brasileira; a lenta e pesadona “Maldita Historia”, com o groove do Sepultura e que faz o público bater cabeça na hora; e “Cosmonauta Quechua”, no encerramento, com Andrés Giménez cantando o tempo todo empoleirado na grade que separa o público do palco. A música, porrada das boas, ganha uma versão estendida ao vivo com ótimo solo de Andreas, apresentado de modo divertido como “um killer de la guitarra”. É pra ficar de olho.

Não é exagero admitir que o Primal Fear se caracteriza por fazer bons discos, mas sempre uns iguais aos outros. O que pode ser atribuído ao fato de a banda ser melhor nos arranjos, sempre parecidos, do que em sacar boas composições. Ao vivo, contudo, tudo muda de figura, mesmo porque não se deve esperar muita ousadia em um subgênero chamado metal tradicional. A novidade está na entrada do baterista Aquiles Prister, que já foi do Angra e esteve para integrar o Dream Theater em uma eliminatória, o que, para a mídia desespecializada, faz todo o sentido. Aquiles vai muito bem, em um set montado para festival, ou seja, cheio de hits, em detrimento das músicas do novo álbum, “Delivering the Black”, que saiu no ano passado. Dele, apenas a boa “When Death Comes Knocking”, mais pesada e cadenciada, entra no show: e dá-lhe punhos erguidos em coreografia ensaiada.

Primal Fear: o guitarrista Magnus Karlsson também quer cantar com o gogó de ouro Ralph Scheepers

Primal Fear: o guitarrista Magnus Karlsson também quer cantar com o gogó de ouro Ralph Scheepers

Marca registrada da banda também é o afinado e correto vocalista Ralph Scheepers, que segue com o gogó em dia. Ele se destaca claramente em “Unbreakable Pt. 2”, mostrando as boas referências à Michael Kiske, que tocaria no domingo com o Unisonic. A música é um dos motes do show para a plateia cantarolar o ritmo, enquanto os guitarristas Magnus Karlsson e Alex Beyrodt duelam na beirada do palco. Outros destaques são “Nuclear Force”, título do álbum de 2001, hoje um clássico, cantada ao pé da letra por muita gente na plateia, e “Metal Is Forever”, já na parte final, uma daquelas músicas compostas para ser um hino dentro do heavy metal e que realmente cumpre a sua missão. Se não fosse assim, não teria tanta gente batendo cabeça e cantando o refrão com tanta vontade. Não adianta, é para sempre mesmo.

Se ao anunciar o elenco de 2013 o Monsters Of Rock tivesse incluído o Coal Chamber, não haveria quem disse um “ai”, já que naquela edição havia praticamente um dia inteiro dedicado ao nu-metal. Mas, agora, o grupo soou bem deslocado como único representante no subgênero do metal que há anos anda em círculos. Ao menos, nesse meio tempo a baixista Nadja Peulen voltou e o grupo, que se reuniu em 2011 depois de um recesso de uns oito anos, gravou as músicas que estão no álbum “Rivals”, a ser lançado no mês que vem. Duas delas foram apresentadas no show: “I.O.U. Nothing” e a faixa-título. A primeira, repleta de efeitos e com bom refrão, é bem representativa do grupo, e, a segunda, mais lenta, sofre com a falta de pegada da banda.

Preso ao passado: B. Dez Fafara (vocal) e Nadja Peulen (baixo) não atualizam o som do Coal Chamber

Preso ao passado: B. Dez Fafara (vocal) e Nadja Peulen (baixo) não atualizam o som do Coal Chamber

E é esse, no fundo, no fundo, o problema do quarteto, de pouca protuberância mesmo dentro do nicho em que se criou, sobretudo no final dos anos 1990: a falta de pegada. E agora, ao desenferrujar as cordas, as guitarras de afinação baixa já não seduzem mais como antigamente, e tampouco a banda busca uma saída, como já fizeram Slipknot e Korn, só para citar dois exemplos do primeiro escalão. Aí o que sobra é retocar a maquiagem, colocar mais um piercing e mandar alguns hits do meio. Entre eles, ganha disparado o que fecha o show, “Sway”, aquele do verso/refrão grudento “the roof, the roof, the roof is on fire”. O resto é pura repetição de fórmulas de algo que já soa datado há muitos anos.

“Pedimos desculpas por estarmos aqui, mas estamos gostando mesmo assim”, disse o vocalista do Black Veil Brides, Andy Biersack, já na segunda música do show. Ele se dirigia a uma minoria que vaiava o grupo na frente do palco e pedia por Motörhead, a atração seguinte, o tempo todo. O matusquela chegou a usar o nome do grupo para se defender outra vez: “Também gostamos do Motörhead, não sei por que vocês estão gritando conosco”. Assim, depois de oito músicas o grupo deixou o placo, encurtando o set, e olha que eles já tinham atrasado o início do show. O faniquito, contudo, não se justifica, já que não era lá uma grande vaia ou um protesto do público como já aconteceu com artistas como Erasmo Carlos e Lobão em edições do Rock In Rio. Na verdade, ouvia-se mais os gritos – femininos, em geral - dos jovens fãs do BVB do que as vaias em si.

Exagero: o bom vocalista do Black Veil Brides se irritou com alguns fãs do Motörhead e abreviou o show

Exagero: o bom vocalista do Black Veil Brides se irritou com alguns fãs do Motörhead e abreviou o show

O grupo, inclusive, é bom de palco, tem bons músicos e ia muito bem, muito por conta do vocal grave de Biersack, um diferencial se consideramos que fazer do corpo um catálogo de tatuagens e do cabelo um depósito de tinta, com idade tão tenra, não chega a ser algo original. A dupla de guitarristas Jinxx e Jake Pitts (cada nome fabricado…) manda bem, em músicas como “Shadows Die”, de tom erudito, com Jinxx tocando violino, e “Fallen Angels”, repleta de guitarras melódicas bem inseridas. De quebra, o baixista Ashley Purdy, com um microfone colado ao rosto, ajuda a equilibrar o tom por vezes soturno do magoado Andy Biersack. Tá na cara que se trata de uma banda fabricada em escritório de gravadora, mas achar que não pode sair nada bom daí é subestimar o poder de uma guitarra.

Set list completo Rival Sons:

1- Electric Man
2- Play the Fool
3- Secret
4- Pressure and Time
5- Torture
6- Tell Me Something
7- Where I’ve Been
8- Get What’s Coming
9- Open My Eyes
10- Keep On Swinging

Motörhead sem Lemmy e integrantes do Sepultura fazem uma jam de três músicas no Monsters Of Rock

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