O Homem Baile

Boas estreias e derrotas

Com pouco tempo, Black Stone Cherry e Hellyeah fazem grandes shows no Maximus Festival; Shinedown sofre com aparelhagem e Hollywood Undead fracassa. Fotos: Alessandra Tolc (1 e 2) e Rom Jom (3, 4, 5 e 6).

O líder do Black Stone Cherry, Chris Robertson, convence: boas referências, vocal blues e muitos solos

O líder do Black Stone Cherry, Chris Robertson, convence: boas referências, vocal bluesly e muitos solos

Uma banda que flerta com o rock de raiz e o hard rock acaba por soar um pouco fora de contexto dentro da programação do Maximus Festival, mas o Black Stone Cherry não se rende a lamentações baratas e trata de fazer sua limonada no pouco tempo que lhe é concedido. Limonada saborosa, diga-se, num cenário vespertino em que até o sol aparece pela primeira vez em um Autódromo do Interlagos nublado e com ameaça de chuva. O disco mais recente deles é “Kentucky”, lançado em abril, e que cede duas músicas ao show (“Cheaper to Drink Alone” e “Soul Machine”), mas, na medida do possível, o quarteto tenta dar um geral na carreira, e a abertura segura é “Me and Mary Jane”, enquanto o som do Palco Rockatansky, problemático, se ajusta.

Alheio a esse tipo de questão, o baterista John Fred Young chama a atenção espancando pratos e tambores com incrível vitalidade, além da cabeleira sacolejante. Mas a coisa só engrena em “Blind Man”, a primeira com o som bem equalizado e que dá para perceber a riqueza técnica do guitarrista Chris Robertson, que desafia o parceiro Ben Wells, e os dois fazem bonito, muito bonito. Robertson é também o vocalista, e seu sotaque blues somado ao som calcado no classic rock e ainda à tarde ensolarada faz lembrar a arrepiante performance do Rival Sons no Monsters Of Rock do ano passado (relembre). Em “Soul Machine”, a pegada é a da guitarra de Jimi Hendrix, e, em “In My Blood”, é só fechar os olhos que o Lynyrd Skynyrd aparece. Tá ruim de referência?

O baterista do Black Stone Cherry, John Fred Young, que destrói, literalmente, duas caixas no show

O baterista do Black Stone Cherry, John Fred Young, que destrói, literalmente, duas caixas no show

Mas o Black Stone Cherry tem, sim, sua marca registrada e muito advém do boss Chris Robertson, como se vê em “Blame It on the Boom Boom”, a mais conhecida pelo público que se aglomera na frente do palco. Além de colocar a plateia pra cantar, Robertson deixa o microfone para trás e enfileira solos de arrepiar, fato incomum no Maximus Festival, e que força a aura de espécie de patinho bonito do dia. No final, uma versão bem diferente para “Ace Of Spades”, do Motörhead, que além de homenagear o saudoso Lemmy Kilmister, serve para Young estourar mais uma caixa, a segunda em todo show. A porta de entrada se abriu e deu tudo certo. Agora a banda precisa fazer uma turnê solo pelo Brasil pra ver se cola mesmo.

De repente, em pleno Palco Maximus, o baixista Kyle Sanders solta um vômito de sangue que estampa a cara do vocalista Chad Gray. Satisfeito, ele em seguida redecora o rosto e segue agitando a massa. É o Hellyeah, também debutando no Brasil, colocando as mangas de fora, em um dos shows mais agitados entre os que abrem o festival. Você não leu errado, é ele mesmo, o vocalista do Mudvayne, que junto com o baterista Vinnie Paul, consagrado no Pantera, conferem à banda a pecha de supergrupo. A música só poderia ser mesmo “Sangre por Sangre (Blood for Blood)”, espécie de murro na cara de tão pesada e agressiva. O som do grupo, identificado com o nu-metal e o industrial, não é para qualquer um, não.

Unanimidade, o vocalista do Hellyeah, Chad Gray, agita junto com o guitarrista Christian Brady

Unanimidade, o vocalista do Hellyeah, Chad Gray, agita junto com o guitarrista Christian Brady

Mas já são muitos os iniciados, a julgar pela adesão do público em músicas como “X”, a paulada que abre os trabalhos; “Demons In The Dirt”, com um groove de tremer no peito, mas sem perder uma graminha de sequer de peso; e o desfecho com a música que dá nome à banda e lembra ligeiramente o peso do Pantera. Os que não são, se encantam com o riff de “Raining Blood”, do Slayer, enquanto Gray apresenta o som da banda como “música violenta”, antes de “Moth”, e, no fim das contas, tudo acaba em truculenta roda de pogo. Unânime também é que, com ou sem sangue nos cornos, Chad Gray é excepcional frontman, e o Hellyeah representou muito bem as suas origens.

Uma banda de bluegrass tocando hard rock e heavy metal? Sim, esse é o Steve ‘N’ Seagulls, que vem lá dos cafundós da Finlândia para abrir o Maximus Festival. De um lado, é preciso ter estômago para ver esses fanfarrões de indumentária de gosto duvidoso fazerem uma lambança danada com acordeons, banjos, bandolins e afins – ora, por que não uma carreia de músicas próprias? De outro, não deixa de ser divertido ver e ouvir introduções consagradas como a de “The Trooper”, do Iron Maiden, ou o refrães como o de “Seek & Destroy”, do Metallica tocados nessas condições. Ademais, como todo mundo no meio da pista conhece tudo, eis aí um moto propulsor de alegria. E com seis músicas em meia horinha nem dá tempo de perder o humor.

Supergrupo: o baterista Vinnie Paul, consagrado no Pantera, agora na cozinha do Hellyeah

Supergrupo: o baterista Vinnie Paul, consagrado no Pantera, agora na cozinha do Hellyeah

Paciência mesmo é preciso para acompanhar o Hollywood Undead (belo nome), que abre o Palco Maximus. Quando quatro MCs mascarados sobem no palco a coisa até que parece que vai ser boa, mas o vocal que sai das caixas de som, repleto de efeitos, mais parece o do Linkin Park, over produzido demais. E olha que são, além de guitarra, DJ e bateria - repita-se - quatro caras cantando/rimando. Não que não caiba o gênero no festival, mas se é para fazer, faça-se bem feito. Com meia banda e excesso de MCs, que, somados, não chegam a um, positivamente não dá.

Do outro lado, o que era para ser uma ótima estreia do Shinedown no Brasil acabou se transformando na grande pisada na bola do festival. Isso porque um terrível atraso na montagem do palco deixou a banda com pouco mais da metade do tempo disponível para tocar. E, depois do início, o grupo sofreu mais ainda com o som, sobretudo o vocalista Brent Smith, que só conseguiu ser escutado em uma música, das quatro que o grupo tocou. Numa atitude louvável, Smith, que suou a alinhada camisa para ser ouvido, desceu no meio do público até o PA e voltou ao palco, para pedir desculpas. No fim das contas, só a ótima “Sound Of Madness”, com um belo riff, salvou a lavoura. Da próxima vez, melhor arrumar a casa antes de dar a festa.

Os fanfarrões do Steve 'N' Seagulls: da Finlândia para tocar clássicos do metal em ritmo bluegrass

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Set list completo Black Stone Cherry:
1- Me and Mary Jane
2- Blind Man
3- In My Blood
4- Cheaper to Drink Alone
5- Soul Machine
6- Blame It on the Boom Boom
7- Lonely Train
8- Ace of Spades

Set list completo Hellyeah:
1- X
2- Demons in the Dirt
3- Sangre por Sangre (Blood for Blood)
4- Moth
5- Startariot
6- Human
7- Say When
8- Hellyeah!

Hollywood Undead: com excesso de integrantes e pouca música produzida, positivamente não deu certo

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