Sua Majestade
Sem firulas, Ozzy Osbourne fecha primeiro dia do Monsters of Rock esbanjando carisma e em clima de diversão e reverência ao público brasileiro. Fotos: Camila Cara/Divulgação Monsters Of Rock.
Como de costume, o seleto repertório de Ozzy é interpretado por uma bandaça que mostra o guitarrista Gus G, relacionado desde 2009, muito mais à vontade para colocar seu jeito de tocar, dentro do possível, nas músicas. É o que acontece, por exemplo, no groove de “I Don’t Want to Change The World”, que flerta com o funky rock, só que bem pesado, e em “Crazy Train”, cujo riff sugere moderada alteração no primeiro grande sucesso de Ozzy como homem solo. O animal Tommy Clufetos, que tocou na turnê de retorno do Black Sabbath (veja como foi no Rio em 2013) segue destruindo peles com uma força descomunal, e Rob Blasko (baixo) e Adam Wakeman (teclados, você sabe filho de quem), com mais tempo de casa, ajudam a manter o “pano de fundo” para Ozzy e Gus brilharem.
O repertório do show não é muito diferente do apresentado daquele apresentado na última vez de Ozzy solo no Brasil, em 2011 (veja como foi no Rio), exceto pelas músicas de discos mais recentes, limadas do set list, uma vez que nenhum álbum novo está sendo lançado, e incluindo cinco músicas do Black Sabbath. É aí que Ozzy merece uns reparos. Se vem justamente de uma turnê de reunião com o Sabbath, ele poderia priorizar as músicas da carreira solo dessa vez, ou mesmo variar mais em relação às turnês mais recentes. Tem muita coisa boa da carreira solo que passa batido por causa disso. Poderia ser só umas duas do BS e as demais da fase solo. E outra. Já é hora de “No More Tears”, clássico noventista subtraído dos shows por se identificar muito com o ex-guitarrista, ninguém menos que Zakk Wylde, voltar ao repertório, porque o público merece. Menos rancor, Ozzy.O fato é que, por questões práticas ou de saúde, os shows de Ozzy são os mesmos há anos, mas, mesmo assim, a aceitação/participação/entrega do público é intensa. Isso por que, honra seja feita, as músicas são muito boas e fazem parte do inconsciente coletivo do rock; os músicos tocam cada uma delas com precisão e técnica apuradas, incluindo as partes mais intrincadas criadas pelos gênios do Black Sabbath (pense só em “Rat Salad”); e, sobretudo, porque Ozzy exala carisma o tempo todo. Impressionante como, de imediato, leva o público a agitar os braços em performance aeróbica, a bater palmas e a cantar, e, no fim das contas, a se deixar enlouquecer; como bem gosta de bradar o nosso Mad Man. Sem muito esforço, Ozzy comanda uma apresentação que beira a hipnose coletiva, só que participativa e com grande interação do início ao fim de um dia de festival cansativo sob sol e chuva e sem hora para acabar.
Pois então imagine um início com “Bark At The Moon” e seu riff matador; “Mr. Crowley”, cuja introdução de teclado dispensa apresentações e tem alto grau de mobilização junto ao público; e “I Don’t Know”. É ou não é um começo de show e tanto? Os momentos de maior superação do jeito que o show tem para funcionar ficam para a cantoria de “War Pigs”, com Gus esmerilhando a guitarra pra valer e Clufetos batendo sem piedade; nos braços erguidos com punhos cerrados – ah, o heavy metal! – de “Iron Man”; e até na baba “Road to Nowhere”, com um solo à Slash que mostra criatura e criadores, tudo junto ali no palco. Com um dos poucos shows de artista gigante sem muitas atrações extras como foguetório, papel picado e afins, Ozzy segue ganhando o público no gogó, no carisma e com – repita-se – excepcional repertório, ainda que pouco renovado. É, não há do que reclamar.Set list completo:
1- Bark at the Moon
2- Mr. Crowley
3- I Don’t Know
4- Fairies Wear Boots
5- Suicide Solution
6- Road to Nowhere
7- War Pigs
8- Shot in the Dark
9- Solo de guitarra
10- Rat Salad
11- Solo de bateria
12- Iron Man
13- I Don’t Want to Change the World
14- Crazy Train
Bis
15- Paranoid
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