O Homem Baile

Abençoado

De volta ao local onde fez apresentação consagradora 16 anos antes, Ozzy Osbourne reencontra 8 mil entusiastas do metal para se divertir. Fotos: Luciano Oliveira.

Ozzy inicia o show arrumado com 'Bark at the Moon', antes de mergulhar a cabeça num balde d'água

Ozzy inicia o show arrumado com 'Bark at the Moon', antes de mergulhar a cabeça num balde d'água

Quando a banda de Ozzy Osbourne encerrou o show de ontem, no Citibank Hall, no Rio, tocando “Paranoid”, um ciclo se fechava. Com a mesma música, talvez a mais influente da história do heavy metal, Ozzy abriu o show de setembro de 1995, no mesmo local, sempre lotado para recebê-lo. Entre as duas apresentações, 16 anos que colocaram o “Príncipe as Trevas” à beira da aposentadoria, e talvez isso é o que mais o motive hoje: se entregar no palco enquanto pode.

O estreante Gus G foi testado e aprovado

O estreante Gus G foi testado e aprovado

Não se pode assistir a um show de Ozzy sem ter em mente que estamos diante de um sobrevivente do rock, que passou pelos anos dos exageros nos quais muitos sucumbiram. Mas Ozzy não precisa de um olhar de compaixão; aos 62, pula, corre e bate palma como poucos ali na platéia – incluindo os mais jovens – conseguem fazer. E canta muito e por muito tempo, ao menos enquanto a voz resiste. Dá pra perceber quando ela falha, no final, mesmo com todo o aparado, feito sob medida, que inclui efeitos, ecos, monitores com as letras e um sutil cordão iluminado antiqueda instalado na beirada do placo. Tudo feito para Ozzy se divertir, seja cantando (melhor do que fala), enfiando a cabeça dentro de um balde d’água ou ejaculando jatos de espuma sobre a platéia. Sacana esse Ozzy.

O repertório é o mesmo de toda a turnê e tem cinco músicas do Black Sabbath, todas do álbum “Paranoid”, o que sugere que Ozzy já estaria numa espécie de aquecimento para uma inevitável volta do grupo, após a morte de Ronnie James Dio, no ano passado. A carreira solo de Ozzy é repleta de grandes músicas, mas é na hora de tocar o velho Sabbath que o grupo sente o peso da camisa: um riff criado por Tony Iommi faz toda a diferença. É o que se percebe logo em “Faires Wear Boots”, quando o tecladista Adam Wakeman se converte em guitarrista para dar uma encorpada no som. O artifício se repetiria ao menos em outras duas vezes, sempre em músicas do Sabbath. Não era coincidência. Gus G não é Iommi e o baixista Blasko não é Geezer Butler.

Ozzy pendura a bandeira do Brasil nos ombros

Ozzy pendura a bandeira do Brasil nos ombros

O guitarrista, estreante na turnê, no entanto, se sai muito bem. Toca todos os solos nas músicas com uma competência técnica e até com certo feeling. Não improvisa lá muito – nem precisa – e joga nitidamente pelo resultado, uma vez que, do ponto de vista dele, o show só não é cover por conta de “Let Me Hear You Scream”, a única música debutante na turnê. Gus G apelou no solo, ao citar velozmente o choro “Brasilerinho”, de Waldir Azevedo, numa atitude típica de forasteiros que querem agradar aos anfitriões – imagina no dia em que ele descobrir Pepeu Gomes. Em cerca de quatro minutos, antes da instrumental “Rat Salad”, do Sabbath, que concede dez minutos de descanso a Ozzy, o guitarrista mostra referências à Eddie Van Halen e ao metal melódico, sem exalar chatice. Ozzy, outra vez, acertou na escolha.

A estrela da companhia é próprio Ozzy, e o vovô se diverte. Passa o tempo com um sorriso largo no rosto de dar inveja a qualquer cidadão que espera a hora de marcar o ponto para dar o fora. Ozzy, não. Por ele ficaria ali em cima do palco para sempre. Em “I Don’t Know”, repete a cena da mordida no morcego ao apanhar um resto de confete que flutua sobe o palco e colocar na boca; faz do semblante algo assustador para as fotos; vibra com os músicos durante evoluções instrumentais, sobretudo Gus G, em “Iron Man” e “Mama, I’m Coimg Home”, já no bis; canta como um garoto em outra das pegajosas baladas, “Road to Nowhere”; e termina o show exausto e com a voz prejudicada.

O sorriso estampado: Ozzy parece que vai decolar

O sorriso estampado: Ozzy parece que vai decolar

A diversão contagiante aplaca o público de primeira. A cena com os braços erguidos em coreografia que parece ensaiada no riff de “Iron Man”, um dos maiores da história do rock, continua comovente. “Shot in the Dark”, raramente incluída em turnês, revela uma insuspeita fase “dance” – se os Stones têm uma, porque não Ozzy? – e agrada com um solo longo no final, cortesia de Gus G. Além da queixa de o show não ser tão longo (mas possível), outro reclame do público é a exclusão de “No More Tears” do repertório, mas era evidente que, na primeira turnê sem o guitarrista Zakk Wylde, o momento que o consagrou seria vetado. O que não tirou o brilho de “Crazy Train” (turbina por efeitos gravados), no fim do set, e de “Paranoid”, com Ozzy, ao final de mais uma noite memorável, de joelhos agradecendo a platéia. É aí que entra a cobra morde o próprio rabo e tudo volta ao show de 1995. Good bless you, Ozzy!

Set list completo:

1- Bark at the Moon
2- Let Me Hear You Scream
3- Mr. Crowley
4- I Don’t Know
5- Fairies Wear Boots
6- Suicide Solution
7- Road to Nowhere
8- War Pigs
9- Shot in the Dark
10- Rat Salad
11- Iron Man
12- I Don’t Want to Change the World
13- Crazy Train
Bis
14- Mama, I’m Coming Home
15- Paranoid

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Rowse em abril 8, 2011 às 11:02
    #1

    Grande show! Só me lembro mesmo de ter visto tanta gente qto ontem no show de 1995. Ozzy é prata da casa!

  2. fabio em abril 8, 2011 às 20:39
    #2

    O show foi bom! As músicas da carreira solo ficam melhores. As do Sabbath fica complicado. O batera bate forte, mas é meio durão…o baixista idem… faltou swing na cozinha… o Gus é otimo, mas também tem estilo mais pra virtuose do que pra feeling. E o Ozzy é o Ozzy, nao precisa falar mais nada. O destaque negativo mais uma vez vai para a pista VIP. Ocupou metade da área, não tava cheia, e fez com que quem tava na pista normal ficassem longe e espremidos. Que venha uma reunião do Sabbath!

  3. Mariana em abril 9, 2011 às 19:05
    #3

    Bragatto, obrigada por deixar um pouquinho do show aqui pra gente. Sou uma mega-fã que infelizmente não pôde ir nesse. Mas tenho certeza de que ele volta. Fiquei arrepiada lendo a resenha, lembrando do show na HSBC arena. E com invejinha do Luciano! Queria estar ali fotografando esse show. =) Uma pena que fã nunca fica feliz com o repertório… eu queria ouvir o Ozzy ao vivo tocando “Bloodbath In Paradise”, “Flying High Again”, “Center of Eternity”, “Mr. Tinkertrain”, “Perry Mason”, “My Jeckyll Doesn’t Hyde”. Enfim… se for citar as do Sabbath, teria que ser uma rave de Ozzy. Pelo menos fico feliz com “Suicide Solution”, umas das minhas preferidas. =)

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