O Homem Baile

A grande festa do rock

Em espetáculo magnético, Kiss encanta plateia carioca com muitos efeitos especiais, mas, sobretudo, com boas músicas. Fotos: Michael Meneses.

Gene Simmons, Tommy Thayer e Paul Stanley na beirada do palco mais iluminado em todos os tempos

Gene Simmons, Tommy Thayer e Paul Stanley na beirada do palco mais iluminado em todos os tempos

Em meio a tantos efeitos especiais fica difícil lembrar que o Kiss tem um repertório raro dentro da história do rock, que dá respaldo a mais de 40 anos e 20 álbuns lançados. Será difícil para cada uma das nove mil pessoas que estiveram ontem, na HSBC Arena, no Rio, lembrar o que de fato aconteceu a cada música, entre plataformas móveis, explosões, tiros, faíscas, tirolesa, papel picado e fogo, muito fogo. Mas as músicas, estas sim, vão ficar cabeça e no cantarolar de todos. Porque não há efeito especial que funcione sem uma boa composição, e tanto o Kiss sabe disso que acaba de produzir mais um punhado delas, no recém lançado álbum “Monster”.

Fanfarrão, Paul Stanley traz a palheta na língua

Fanfarrão, Paul Stanley traz a palheta na língua

Da última vez em que esteve no Brasil, em 2009 (relembre) era a turnê comemorativa dos 35 anos do álbum “Kiss Alive”, que catapultou o grupo ao sucesso no início da carreira, mas, agora, havia coisa nova para mostrar e as três músicas de “Monster” incluídas no set são a prova de que o grupo está no caminho certo da renovação. Entre elas, embora “Hell or Hallelujah” seja a mais conhecida do público, por ter sido lançada em julho, é “Outta This World”, cantada por Tommy Thayer e com um refrão pegajoso, a de maior potencial para entrar na galeria de clássicos do grupo. No quesito novidades, os argentinos – citados por Paul Stanley no show de São Paulo (veja como foi) – se derem melhor, com cinco músicas do novo CD no set; veja aqui.

É uma pena também que nenhuma música de “Sonic Boom”, o álbum que marcou a volta o grupo aos lançamentos com músicas inéditas, de 2009, tenha sido tocada, em que pese o apreço dos mais jovens que cantaram “Psycho Circus”, de 1998, a plenos pulmões. Mas no quesito “músicas que fizeram falta” a lista é robusta por si só: “Deuce”, “Strutter”, “Forever”, uma das mais pedidas pelo público”, “Do You Love Me”, “Hard Luck Woman”. Seria cruel, no entanto, exigir mais de 90 minutos de show de sexagenários como Stanley e Gene Simmons, que fazem muito em prosseguir pintando o rosto e se equilibrando em gigantescos saltos, além de serem erguidos por cabos de aço em insuperáveis efeitos cênicos que funcionam há quatro décadas.

Gene Simmons: vômito de sangue e língua pra fora

Gene Simmons: vômito de sangue e língua pra fora

À bem da verdade, um show do Kiss não é lá para se pensar muito. O impacto visual quando a cortina cai e Simmons, Thayer e Stanley surgem tocando “Detroit Rock City” sobre uma plataforma que desce em direção ao palco é de impressionar. A quantidade de luzes piscando, fogos estourando – com sonoplastia e tudo – é de um magnetismo infalível. O telão de altíssima definição ao fundo e mais projeções nas laterais do palco mostram detalhes do show cujos efeitos começam a se intensificar em “Hotter Than Hell”, quando Gene Simmons cospe fogo com a “espada de Excalibur” empunhada. Antes da ótima “God Of Thunder”, ele tem seu melhor momento, quando interpreta – de verdade, dá pra ver no close dos telões – o vampirão que vomita sangue e voa para uma plataforma altíssima, quase no teto da Arena. Canta toda a música de lá mesmo, e desce na escuridão do palco enquanto o público está vidrado em outros efeitos.

Antes dele, Tommy Thayer e o baterista Eric Singer, duplinha que, segundo Simmons, salvou o Kiss, duelam em solos que acabam em chafariz de faíscas saindo da guitarra de um, e tiros de bazuca na direção contrária de outro, ambos alçados em plataformas individuais fumegantes. Cabe a Paul Stanley, com voz claudicante – diga-se – fazer as honras da casa, anunciando as músicas e mexendo com o público ao pedir gritos para Tommy Thayer, fazer comparações com o show de São Paulo, em troca de vaias, e exigir uma barulhão daqueles do público, para tocar o bis. Em “Love Gun”, ele “voa” sobre o público até uma plataforma no fundo da Arena, para delírio generalizado. Stanley, fanfarrão que inicia o palco com uma palheta colada na língua à mostra e recebe calcinhas e soutiens das moças, toca um pedacinho de “Sairway to Heaven”, do Led Zeppelin, para que o público peça “a Kiss song!” antes de “Black Diamond”, cantada por Eric Singer, na tradição do grupo, encerrando o set.

Tommy Thayer e Paul Stanley: coreografia ensaiada

Tommy Thayer e Paul Stanley: coreografia ensaiada

O solo e as viradas de bateria de “Won’t Get Fooled Again”, do The Who, enriquecem “Lick It Up”, na abertura do bis, e fazem a canção, um típico hard rock, contagiar a plateia. Coisa que, com tanto magnetismo, carisma e boas músicas, nem é tão difícil assim, e até a “disco” (por que não?) “I Was Made for Lovin’ You” tem o refrão cantando por toda a arena. O desfecho traz aquele misto de momento mais esperado com a sensação de “que pena, já vai acabar”. É a hora da nevasca de papel picado – a maior de todos os shows de rock – em “Rock and Roll All Nite”, o também maior hit “festivo-ode ao rock-que se dane todo o resto” em todos os tempos. Com todos suspensos em plataformas, cabe a Paul Stanley, no solo, o grand finale: a cruel, porém necessária destruição da guitarra, que, sem piedade, acaba espatifada no palco. Numa palavra? Showzaço.

Na abertura, coube ao reunido Viper tocar algumas das músicas que marcaram época no metal nacional. O grupo vem de uma turnê de reunião (saiba mais) tocando a íntegra dos dois primeiros álbuns, de modo que meia horinha foi pouco, mas serviu como uma honesta abertura. A ênfase foi no clássico álbum “Theater Of Fate”, que teve quatro das sete músicas do set, muito bem tocadas, em que pese a displicência do baixista Pit Passarel e a boa condição vocal de Andre Matos. No final, na batida marcada da bateria em “We Will Rock You”, do Queen, o público não resistiu e puxou o coro de “I Love It Loud”, que o Kiss tocaria mais tarde. Perfeita transição.

Gene Simmons, Paul Stanley e Tommy Thayer: entrada avassaladora em plataforma quem vem do teto

Gene Simmons, Paul Stanley e Tommy Thayer: entrada avassaladora em plataforma quem vem do teto

Set list completo Kiss
1- Detroit Rock City
2- Shout It Out Loud
3- Calling Dr. Love
4- Hell or Hallelujah
5- Wall of Sound
6- Hotter Than Hell
7- I Love It Loud
8- Outta This World
9- God of Thunder
10- Psycho Circus
11- War Machine
12- Love Gun
13- Black Diamond
Bis
14- Lick It Up
15- I Was Made for Lovin’ You
16- Rock and Roll All Nite

Set list completo Viper
1- Knights of Destruction
2- To Live Again
3- A Cry from the Edge
4- Prelude to Oblivion
5- Living for the Night
6- Rebel Maniac
7- We Will Rock You

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Frederico em novembro 19, 2012 às 13:03
    #1

    Fantástico… Um show do KISS é muito mais que música… é um verdadeiro espetáculo…

  2. Thais em novembro 20, 2012 às 11:12
    #2

    Bacana as fotos, belo show. Afinal estamos falando do Kiss…

  3. Fabio em novembro 20, 2012 às 20:09
    #3

    KISS não é banda de rock…é uma ENTIDADE !!!
    Simmons e Stanley estão no nivel de Super-Herois.

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