O Homem Baile

Viver de novo

Em show marcado por saudosismo, 700 pessoas lotam o Teatro Rival, no Rio, para ver a turnê de reunião do Viper; grupo toca a íntegra dos dois álbuns mais representativos. Fotos: Daniel Croce.

Um dos grandes ícones do metal nacional, Andre Matos revive o início da careira com o Viper

Um dos grandes ícones do metal nacional, Andre Matos revive o início da careira com o Viper

A história foi escrita há mais de 20 anos e eles resolveram entrar no túnel do tempo para, como diz a profética letra de “To Live Again”, trazer alguns momentos de volta. A sábia decisão encontrou coro – literalmente – nas cerca de 700 pessoas que abarrotaram o Teatro Rival, ontem, no Rio, para ver a formação clássica – ou quase - do Viper, tocando todas aquelas músicas que seduziram gerações. Gente que queria, ao menos por umas duas horinhas, viver de novo. E valeu à pena. Nem a bebedeira de Pit Passarell e a chatice do falastrão Andre Matos estragaram a festa.

Pit Passarell se divertiu e deu até um mosh

Pit Passarell se divertiu e deu até um mosh

Pode ter causado surpresa o anúncio de que o grupo tocaria não apenas a íntegra do álbum “Theatre Of Fate”, clássico do heavy metal em todos os tempos, mas também o disco de estreia, o modesto “Soldiers Of Sunrise”, mas a verdade é que as músicas desses dois discos compõem o único repertório da fase com Andre Matos nos vocais. Feitas ligeiras alterações na ordem das músicas como aparecem nos álbuns, a fim de dar um gás maior no enceramento de cada um, os dois discos foram tocados um em cada parte do show, com um acompanhamento generoso do público, que cantava como se não houvesse amanhã. Além de Pit e Andre, estão nessa o guitarrista Felipe Machado, também da formação clássica, o baterista Guilherme Martins, que entrou já na turnê do “Theatre Of Fate”, e o guitarrista Hugo Mariutti, fiel escudeiro de Andre Matos em quase todos os seus projetos. Yves Passarell – você sabe – faz parte do Capital Inicial e só participa dessa turnê quando tem tempo.

O auge da apresentação é mesmo com as músicas de “Theatre Of Fate”, e não apenas na balada “Living For The Night”, mas em todas as faixas, incluindo até a ovelha negra “Moonlight”, que já apontava para a saída de André, que mais tarde formaria o Angra. O improvável disco, feito quando os músicos eram muito jovens – o vídeo no intervalo mostra imagens da época – é um coletivo de boas músicas, com raras evoluções de guitarra, solos precisos, sem deslumbramentos, e uma performance vocal extraordinária, tudo sendo descoberto na época. Com a new wave of british heavy metal como (mais do que) referência, o disco tem uma surpreendente identidade e mantém um frescor inabalável até hoje. Fosse lançado agora, com o mundo inteiro conectado, seria motivo de adoração sem fronteiras.

O batera Guilherme Martins mostrou boa forma

O batera Guilherme Martins mostrou boa forma

Para os que estavam no Rival ontem, nem precisava tanto. Aquilo ali já era um mundinho bem próprio, que batia cabeça em “A Cry From The Edge”, uma das melhores da noite, e abria rodas de pogo em “H.R.”, que traz na letra, assim como “Rádio Pirata”, do RPM, o convite para que a música do underground seja conhecida por todos. E não é que foi? A música, emblemática do álbum “Soldiers Of Sunrise”, é uma clássica mistura de punk e metal que se fazia na época, como explicou o professor Andre Matos. Pena que o vocalista tenha exagerado nas falas no meio das músicas, tirando um pouco o pique do show. Nem isso, nem a bebedeira de Pit Passarell, que mal conseguia tocar (mas deu um mosh!), estragou a noite, marcada também por fortes emoções.

É que os guitarristas trataram de compensar as coisas. Hugo e Felipe travaram duelos de fazer inveja aos mestres das twin guitars, grande referência na época. É o que acontece em “Law Of The Sword”, dominada pelas rodas de pogo; em “Prelude to Oblivon”, deslocada para o encerramento da segunda parte; e em “A Cry From The Edge”, que ganhou um novo arranjo, com uma introdução carregada na dramaticidade. Guilherme também segura a onda, destruindo a bateria sem dó, como na acelerada “Soldiers Of Sunrise”. Andre Matos é que mantém o benefício da dúvida. Ele sabiamente muda o tom em algumas músicas de alcance mais difícil, atinge notas mais agudas de maneira impecável, tantos anos depois, como acontece em “Theatre Of Fate” e “A Cry From The Edge”, mas sua voz claudica em trechos até menos difíceis em vários momentos. Não é, a bem da verdade, uma performance tecnicamente impecável como banda, mas isso – acredite – não é o que mais importa num show como esse.

Andre Matos e o bom guitarrista Felipe Machado

Andre Matos e o bom guitarrista Felipe Machado

O que conta é o resgate de uma época que parece nem ter existido, e, a rigor, possivelmente em nenhum momento da carreira o Viper tocou a íntegra de seus dois discos num único show. Para os cariocas, traz lembranças do Teatro Ipanema com suas cadeiras lotadas, das matinês do metal aos domingos, no Caverna 2, do Circo Voador roots, e assim por diante. Uma época de certa ingenuidade de público e bandas, mas que não deixa de ficar marcada por que viu a história ser escrita. Se você sabe do que se trata, não deixe de ir a um dos shows dessa turnê, que vale à pena. Se não sabe, faça a lição de casa e escute os discos clicando nos links:

Soldiers Of Sunrise
Theatre Of Fate

Set list completo:

1- Knights of Destruction
2- Nightmares
3- The Whipper
4- Wings of the Evil
5- Signs of the Night
6- Killera (Princess of Hell)
7- Soldiers of Sunrise
8- Law of the Sword
9- H.R.
Intervalo
10- Illusions
11- At Least a Chance
12- To Live Again
13- A Cry from the Edge
14- Living for the Night
15- Theatre of Fate
16- Moonlight
17- Prelude to Oblivion
Bis
17- Rebel Maniac
18- We Will Rock You

Pit Passarell, Andre Matos, Hugo Mariutti, Felipe Machado e Guilherme Martins se despedem do público

Pit Passarell, Andre Matos, Hugo Mariutti, Felipe Machado e Guilherme Martins se despedem do público

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Comentários enviados

Existem 5 comentários nesse texto.
  1. VIVIANE SCHINEIDER em julho 11, 2012 às 12:13
    #1

    Cara, que lindo!
    Ainda guardo um cartaz que descolei de um dos tapumes caindo aos pedaços que cercavam a lona do Circo Voador, era 1993, show do Viper com a abertura da finada (ainda bem!) Rip Monsters do Gastão Moreira, então MTV. Pena que eu não pude estar lá no Rival ontem, deve ter sido “Revival”, mas espero que o projeto volte ao RJ para pelo menos mais um show para a alegria dos Rebels Maniacsl!

  2. Márcia Terra em julho 11, 2012 às 13:32
    #2

    Viper no Rival Petrobras. Pequeno paraiso dos infernos. Show antologico!!!

  3. Sandra em julho 11, 2012 às 16:27
    #3

    Estou ainda em estado de graça por ter podido estar presente nesse show magnífico e antológico do Viper ontem no Teatro Rival só existe uma palavra para descrever essa apresentação: Sensacional!!! André como sempre, soberbo!

  4. Natasha Borboni em julho 13, 2012 às 12:56
    #4

    Foi maravilhoso!! Excelentes músicos, em ótima forma e carismáticos. Era visível que eles estavam muito felizes de estarem no Rival e com ingressos sold out! Nasci no ano que a banda começou, sou bem mais nova, mas fiquei tão emocionada quanto os que já foram em algum show do Viper anteriormente e vendo então a sua volta aos palcos. Estou torcendo pra que tenha outro show ainda esse ano!! Que tenho certeza que seria um sucesso, como foi esse show.

  5. Rogerio Pereira dos Santos em julho 26, 2012 às 11:27
    #5

    Nossa, o show foi lamentável… Gosto muito do Viper, fez parte daquela geração de ouro do undeground nacional entre o final de 80′ e o início dos 90′, mas esse show foi…O Pit totalmente bêbado e um Andre Mattos sem voz!! Foi lamentável. De positivo foi relembrar aquelas músicas…

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