O Homem Baile

Espetáculo destacado

Efeitos visuais extraordinários formam perfeito invólucro para o poderoso rock industrial que consagra o Rammstein no Maximus Festival. Fotos: Alessandra Tolc (2 e 4) e Divulgação (1 e 3).

O Rammstein em ação com a configuração de abertura do show consagrador do Maximus Festival

O Rammstein em ação com a configuração de abertura do show consagrador do Maximus Festival

De repente, todo mundo fala alemão. Não é resultado da eficácia deste ou daquele curso de idiomas, tampouco de viagens internacionais feitas por abastados classemedianos. Muito menos de um passe de mágica, muito embora as chamas fumegantes espalhadas pelo autódromo de Interlagos, em São Paulo, perfazem o clima adequado para tal. É que cerca de 25 mil pessoas cantam em uníssono os bons refrães do Rammstein, durante o show principal da edição de estreia do Maximus Festival, que aconteceu neste 7 de setembro. O grupo, que se recusar a falar e a compor em outra língua que não seja o alemão, a não ser a título de zoar outras culturas, honra o título de headliner e consegue o improvável: se tornar popularmente conhecido em todo o mundo, inclusive no Brasil (saiba mais sobre a banda aqui).

Ainda assim, o que conquista no show do Rammstein não é simplesmente a música, um rock/metal industrial cada vez mais encorpado ao vivo, mas um espetáculo repleto de efeitos pirotécnicos e visuais que se distribuem pelo palco – e mesmo fora dele – praticamente em todas as músicas. É bola de fogo de um lado para outro, estopim que sai do palco para explodir na torre de som e volta, sinalizador vermelho, jato de fumaça pra cima, vocalista que cria asas e voa, tecladista que toca enquanto faz esteira e assim por diante. Só para início de conversa, os dois guitarristas, Richard Z. Kruspe e Paul Landers, chegam no palco pelo teto e descem em plataformas sustentadas por cabos de aço. Assim como o Kiss já fez um dia (veja aqui), e a lembrança não é feita ao sabor do acaso.

Aos céus: o momento em que o vocalista Till Lindemann alça voo em pleno palco, já no inal do espetáculo

Aos céus: o momento em que o vocalista Till Lindemann alça voo em pleno palco, já no final do espetáculo

Há pouco mais de 17 anos, quando ainda era uma banda fuleira, com só dois discos no mercado, os alemães abriam para a turnê que marcou a volta do Kiss fantasiado nesse mesmo Autódromo, em uma configuração diferente. E já tocavam fogo em si próprios sem muita cerimônia, num espetáculo que deu início a verdadeira adoração por parte dos brasileiros. E que segue crescendo, a julgar pela quantidade de pessoas reunidas nos arredores do Palco Maximus. Mas hoje não são só chamas. O palco tem praticamente três andares, com metade dos integrantes embaixo, a bateria sobre exaustores quebrados gigante, com outros dois membros, um de cada lado, e o terceiro andar, com plataformas e painéis luminosos que reformatam as configurações e se inclinam a cada música, quase sempre se referindo a logos da banda, apontando para um apelo visual inconscientemente viciante e extraordinário.

Mas e a música, que, no fim das contas, é o que interessa? Vai muito bem, obrigado. Porque é de impressionar como o som do sexteto que – diga-se de passagem – jamais mudou de formação, está encorpado, denso e pesado pra cacete. Não há virtuose que resista nesse tipo de som, e assim os guitarristas cercam tudo o que é música com bases pesadas e altos grooves reforçados pelo baixista Oliver Riedel. Músicas como “Ich tu dir weh”, iniciada com a percussiva bateria de Christoph Schneider e que tem o refrão decoradinho pela massa; “Sonne”, no bis, uma das melhores do clássico álbum “Mutter”, que catapultou o grupo ao sucesso em 2001; e a arrastada “Reise, Reise” aparecem em uma conformação de peso que beira a perfeição no que tange os flertes da música pesada associada à eletrônica, tocada ao vivo sobre um palco, do jeito que o rock precisa ser.

O envelhecido vocalista faz graça com o rosto chamuscado: a brincadeira com fogo não tem fim

O envelhecido vocalista faz graça com o rosto chamuscado: a brincadeira com fogo não tem fim

O repertório da “Sommer Festival Tour” é repleto de sucessos do grupo, que não lança um álbum de inéditas desde “Liebe ist für alle da”, de 2009, exceto a ótima “Ramm 4”, single autorreferente que saiu em maio e desde então abre o show, já com o público com a cantoria afiada. Assim, brilham músicas de “Mutter” (seis no total) nos cerca de 90 minutos de show, e há ainda o cover para “Stripped”, do Depeche Mode, referência clara, devidamente rammsteinrizada, de modo que passa imperceptivelmente, como se já fosse dos alemães. Incólume, Till Lindemann é um envelhecido vocalista esquisitão que não sorri e seguramente faz xixi na cama noite sim, outra também. Se em tempos idos ele sodomizava o tecladista Christian Lorenz em pleno palco, agora o joga em um caixão de onde sai purpurinado após um banho de faíscas. Mais que isso, é mestre de cerimônias de um espetáculo que, ao ser descrito, parece repleto de clichês, mas, ao vivo, se consagra como absolutamente singular.

O palco fica todo tingido com as cores dos Estados Unidos quando chega a hora de “Amerika” – e haja papel picado -, uma das músicas que melhor tiram sarro daquele povo em todas as épocas, e o público adora. Outras músicas que se revelam deliciosamente pertencidas pela multidão são “Engel”, na qual Lindemann encarna o papel de anjo, ganha asas e voa com a ajuda de cabos de aço, e a canhestra “The quiero puta!”, que mais captura simpatia pelo título do que pela música em si, já num solitário segundo bis. Que esse espetáculo destacado, baseado em sucessos, muito à frente dos doutros shows do Maximus Festival, não se perca após a feitura do esperado novo álbum, cuja expectativa de lançamento é para o final do ano/início de 2017. Porque se o Rammstein provar que ainda tem muita lenha pra queimar – e fogo é com eles mesmos -, ninguém segura. Ninguém mesmo.

Vista ampla do palco com os efeitos visuais no terceiro andar, sobre a a banda, espalhada em níveis abaixo

Vista ampla do palco com os efeitos visuais no terceiro andar, sobre a a banda, espalhada em níveis abaixo

Set list completo:

1- Ramm 4
2- Reise, Reise
3- Hallelujah
4- Zerstören
5- Keine Lust
6- Feuer frei!
7- Seemann
8- Ich tu dir weh
9- Du riechst so gut
10- Mein Herz brennt
11- Links 2-3-4
12- Ich will
13- Du hast
14- Stripped
Bis
15- Sonne
16- Amerika
17- Engel
Bis
18- Te quiero puta!

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