Fazendo História

Rammstein
O encontro perfeito entre rock e eletrônica

A idéia era fazer uma entrevista exclusiva com a banda alemã, e para isso todos os esforços foram feitos, inclusive conseguimos uma intérprete para fazer as perguntas em alemão, já que o grupo se negou a falar em inglês. Como não conseguimos, utilizamos o material cedido pela gravadora Universal, já que não queríamos deixar passar a oportunidade de uma boa matéria a partir do lançamento do excelente álbum “Reise, Reise”. Matéria de capa da edição 79 da Revista Dynamite, de dezembro de 2004. Foto: Divulgação/Universal.

rammsteinNo mundo da música sempre existiram regras que todos seguem para se chegar ao sucesso, procedimentos que foram desenvolvidos durante anos pela indústria para fazer um artista “dar certo”. Uma delas é cantar em inglês, afinal é impossível fazer sucesso nos Estados Unidos, o maior mercado da música pop, e até na Europa, sem fazer músicas na língua de Shakespeare.

Mas para toda regra existe uma exceção, e ao que parece, é esse o caso do Rammstein, não só pelo fato de a banda só compor em alemão. Nascido em 93, o grupo veio resgatar um conceito que estava esquecido dentro da música pop, ao menos fora do underground: o de rock industrial (ver box). Nascido em Berlim, em meio à explosão musical pós-queda do muro, o grupo foi batizado Rammstein (com um “m” a mais) numa referência ao local onde uma tragédia aconteceu com a queda de um avião da Força Aérea Americana, durante uma exibição, resultando na morte de 80 pessoas.

O vendedor Richard Z. Kruspe-Bernstein começou a tocar com músicos que ainda ganhavam a vida no proletariado, entre eles Oliver Riedel (baixo) e Christoph Schneider (bateria). A entrada de Till Lindemann (vocal) completou a formação que gravou uma demo e venceu um concurso de novas bandas, e em seguida foi a vez de Paul Landers (guitarra) e Flake Lorenz (teclado) chegarem para firmar o Rammstein até os dias de hoje. Ao todo, foram quatro álbuns: “Herzeleid” (95), “Sehnsucht” (97), “Mutter” (2001), e o recém lançado “Reise, Reise”, além do ao vivo “Live Aus Berlin”, de 99. Andando sempre no limiar da música pesada e da eletrônica, o Rammstein produziu diversos singles, transformando músicas de artistas como Korn, Marilyn Manson e Depeche Mode, e teve músicas suas remixadas por gente do naipe de Pet Shop Boys e Laibach.

No início o Rammstein conseguiu projeção somente na Alemanha, e em países como Áustria e Suíça. Mas a medida em que os criativos clipes do grupo (como o de “Links 2-3-4”, que tem as formigas dançando) foram ganhando espaço nas emissoras de TV, e a banda pode fazer turnês, o espaço foi aos poucos sendo conquistado. Quando o Rammstein esteve no Brasil, em abril de 99, na abertura da turnê do Kiss, todos puderam ver a explosiva performance do grupo, com direito ao vocalista Till cantar uma música inteira sob chamas e “urinar” no público, entre outras facetas.

“Reise, Reise” já está no terceiro single e freqüenta o top 10 das paradas dos principais mercados europeus. Mas, no estúdio, a banda teve que se reinventar, já que durante as gravações de “Mutter” o bicho pegou, os seis integrantes se desentenderam e tiveram que repensar algumas coisas para a banda não acabar. Esse foi um dos assuntos mais comentados nos cerca de 70 minutos de entrevistas feitas pela gravadora do Rammstein com os seis integrantes, num material que a Dynamite teve acesso. Confira o que responderam o guitarrista Richard Z. Kruspe-Bernstein, o baterista Christoph Schneider e o vocalista Till Lindemann:

Qual era o ambiente no estúdio quando vocês estavam gravando o disco?

Christoph Schneider: Este é um típico álbum de banda, que toca ao vivo. Mas foi um recomeço, especialmente porque havia crises antes de iniciarmos.

Era uma crise de personalidade?

Schneider: Durante o “Mutter”, chegamos a um ponto em que não podíamos aturar uns aos outros, porque os egos se desenvolveram tanto que não havia mais espaço para sermos criativos. O que importava era “o quanto eu estou colocando nessa música”. Tivemos que nos reeducar uns com os outros, e pensar o que era o Rammstein, e como poderíamos voltar para o básico, para fazer tudo funcionar de novo. Percebemos o quanto o Rammstein é importante para nós, o quanto longe estávamos disso, e que seria uma grande pena simplesmente acabar.

Richard Z. Kruspe-Bernstein: No Rammstein somos seis personalidades diferentes. Depois do “Mutter” foi muito importante ficarmos um pouco distantes uns dos outros, e ter a chance de olhar “toda a figura”, o que foi uma boa experiência. O “Mutter” foi importante porque a tensão que havia resultou num álbum agressivo e emocional, que nos fez mais fortes. E essa é a coisa mais importante, estar com a banda, porque eu acredito que a banda resgata essas seis identidades. E viver numa democracia é uma coisa muito difícil de se fazer. Tem sempre alguém tentando liderar toda a coisa, e é preciso lembrar que aquilo é uma democracia.

Então havia uma relação de trabalho diferente entre os integrantes dessa vez?

Schneider: É possível fazer um bom disco de várias maneiras; pode ter uma atmosfera agressiva ou competitiva, e ter um bom entrosamento. Costumávamos trabalhar em uma relação tensa, que para mim não funcionará mais, não quero mais trabalhar assim. “Mutter” é definitivamente um bom álbum, mas eu não gostaria de trabalhar daquela forma nunca mais. Para mim é mais importante ter um ambiente relaxado, para poder ajudar uns aos outros. É o que nos fez sentir bem com esse disco. Havia um ambiente tranqüilo e criativo, nenhuma tensão ou raiva, o que é possível e eu prefiro.

Richard: Para mim não é tão fácil, porque somos de personalidade forte. Por exemplo, às vezes eu sinto que gosto como está agora, porque é uma coisa tranqüila. Mas de outro lado, eu sei que nós também temos bons resultados quando há o conflito. Às vezes é perigoso ficarmos tão tranqüilos.

Existem certas coisas que vocês não conseguem fazer no contexto da banda?

Schneider: Quem quiser uma música só do seu jeito, não quiser mudar nada nela, tem que fazer um projeto paralelo. Não é a forma como o Rammstein trabalha. É sempre assim que acontecem os conflitos conosco.

Este é o disco mais variado e arriscado que vocês já fizeram?

Schneider: Somos personalidades bem diferentes, todos preferem músicas diferentes, e essas personalidades tiveram que mudar no desenvolvimento do disco. Esse disco traz diferentes aspectos da música.

Richard: Também somos abertos o bastante para fazer coisas hoje que nós não faríamos no passado, como a música “Los”, que representa esse sentimento tranqüilo do estúdio. Fizemos coisas que não fazíamos antes, para testar; fomos muito mais criativos no estúdio que antes. “Mutter” foi como seguir a fita master, sabíamos o que fazer, os passos a seguir, não havia espaço para a criatividade.

Schneider, você parece ter tirado um som de bateria um pouco diferente. Seria justo dizer que o estilo de “Reise, Reise” é mais “natural”?

Schneider: Claro, no álbum anterior tínhamos formas definidas de separar o som, o industrial combinado com músicas com guitarras, e guitarras de metal. Eu especialmente estava meio cansado disso, e tentamos fazer algo de novo, porque não tinha mais idéias para aquele formato, não estava à vontade para continuar tocando aquilo o tempo todo. Mesmo sendo essa a marca registrada do Rammstein, temos que trazer a banda para um novo estágio, e eu também quero me desenvolver como baterista.

Na música “Dalai Lama” vocês parecem buscar uma nova direção…

Schneider: Essa música tem definitivamente um arranjo diferente. Em geral as musicas do Rammstein têm um arranjo pop, com guitarras pesadas. Essa música é mais elétrica, e repete, repete…

Richard: Há uma coisa que é bem única nessa música. Foi a primeira vez que nós gravamos uma música, e não pudemos mudar nada, até a letra ficar pronta, exatamente como era o arranjo. É inacreditável, mas, por alguma razão, música e letra funcionam muito bem juntas.

“Mein Teil” é a faixa mais pesada e suja do disco. Vocês ficaram surpresos quando essa música foi escolhida como primeiro single?

Till Lindemann: Depois de três anos, poderíamos ter lançado uma balada, mas queríamos mostrar algo pesado e voltar à cena fazendo barulho.

“Amerika” é a única faixa no disco com palavras e frases em inglês. Ainda há uma versão toda em inglês…

Till: Havia um refrão originalmente escrito em inglês, e nós não tínhamos a intenção de fazer uma música nesse idioma. Mas o refrão era muito bom, guardamos e fomos em frente. Continuamos com a versão em inglês, mas também fizemos uma versão em alemão, e, olhando para as duas, decidimos ficar com a em alemão, que é mais direta, e era o que queríamos.

Como você faz as letras? Você gosta de ouvir a música primeiro?

Till: Eu ouço toda a parte instrumental antes. Se nenhuma idéia vem à cabeça, ouço tudo de novo, bem alto, e começo a procurar pelas letras certas, a escrever novas letras. Em uma das músicas desse álbum eu escrevi 24 versões diferentes, antes de a banda aprovar. Eles são críticos e exigentes, eu apresento as letras e eles fazem uma lista de coisas que não encaixam. Aí eu tenho que consertar o que não funcionou. No final do processo toda a banda dá o “selo de aprovação”.

Você está sempre escrevendo e guardando tudo até precisar?

Till: Em 80 por cento do tempo eu tenho papel e caneta comigo. Eu também sou muito esquecido, então anoto todas as idéias que tenho, e as salvo no meu computador. Quando chega a hora de produzir algo, eu abro esse arquivo, e escolho: ”isto serve, isto tem que ser arrumado, isto funciona, é isto que eu procuro…”

Sua performance vocal no disco novo parece ter ido para um nível mais alto. Você estava consciente disso na hora?

Till: A banda me deu o impulso para isso, a música estava mais melodiosa, e foi para vários lugares. Então eu tentei adaptar minha voz, não como se eu quisesse, mas foi como as coisas vieram.

Vocês acham que os fãs mais fiéis ficarão surpresos com a diversidade desse disco?

Schneider: Talvez eles só gostem do estilo do Rammstein dos três álbuns anteriores, e o que há nesses discos não temos mais neste. Não nos sentíamos mais confortáveis em repetir, tínhamos que achar algo de novo. Estamos felizes com esse passo que nós damos e esperamos que todos os fãs possam nos seguir, afinal nem é um passo tão grande assim.

Depois de três anos do lançamento do último álbum, deve existir uma expectativa por coisas musicalmente novas…

Schneider: Três anos é bastante tempo, mas não ficamos à toa, trabalhamos duro nas músicas, e levou um tempo até elas ficarem boas o bastante para serem gravadas. Nós também não nos importamos muito com marketing e essa coisa de que as pessoas talvez se esqueçam de você. Temos um bom show, mas não aparecemos muito no meio do pop ou do rock.

Sobre o vídeo de “Mein Teil”, a banda aparece interpretando a música de formas diferentes. Schneider, você sempre quis se vestir de mulher?

Schneider: É engraçado você filmar um clipe e colocar uma roupa de mulher, porque sua personalidade muda, você passa a explorar a mulher que há em você. É uma experiência interessante e eu fiz por causa da história, um caso de canibalismo, e esse cara tinha morado com a mãe dele por um grande tempo. Eu interpreto essa mãe.

Algumas cenas foram gravadas nas ruas de Berlim. Alguém te confundiu com mulher?

Schneider: Sim, teve um cara que parou e perguntou: “você é um homem, uma mulher ou um transexual?”, e saiu rindo. E teve uma mulher que passeava com um cachorro que parou para conversar comigo. Eu percebi que ela sabia que eu não era uma mulher.

Richard, você briga com você próprio no vídeo. Como você encontrou uma expressão tão bem?

Richard: A primeira coisa que nós pensamos foi em fazer uma performance dançante. Eu tentei dançar, mas foi ridículo. O diretor disse para fazer algo que eu me sentisse bem, e eu achei interessante. Eu era um lutador quando tinha 10 anos, mas achei interessante que alguém do ramo me mostrasse novos golpes.

Você era um forte lutador quando era jovem?

Richard: Na Alemanha oriental tudo era sobre esportes, e você era avaliado pelo esporte. Eu gostava de competir, mas não havia tempo para se fazer outra coisa. Eu passava anos competindo todo final de semana e estava cansado, porque já estava mais interessado em música. Mas isso me ajudou muito a colocar minha agressividade para fora na época, e eu sempre me metia em encrenca, então foi útil para mim.

Um dos remixes de “Mein Teil” foi feito pelo Pet Shop Boys. Vocês ficaram surpresos com o fato de eles terem trabalhado com uma faixa tão pesada quanto essa?

Schneider: Eles gostaram da música, especialmente porque estavam num projeto sinfônico, fazendo música para uma trilha de filme. Foi como nos encontramos, no ano passado. Eles usaram as letras do Rammstein e música sinfônica no geral. Foi uma gravação interessante, uma diferente abordagem do Rammstein. Só o fato de o Pet Shop Boys ter ouvido um disco nosso e resolvido trabalhar uma das músicas, já é um honra para nós.

“Mein Teil” pode ser traduzido de formas diferentes. Qual é a favorita de vocês?

Richard: Uma coisa boa no Rammstein é que temos nossa própria tradução. Para mim é “minha ferramenta” mesmo.

Schneider: Para mim é “minha parte”.

Till: Eu gosto de “minha ferramenta”.

Till, você está pensando em novas formas de atear fogo em você durante o show?

Till: Se a questão é ”o quanto longe você pode ir”, nós já fizemos tudo, mas tentaremos ainda novas idéias.

É verdade que havia um efeito tão realista na turnê do “Mutter”, que vocês tiveram que retirá-lo do show, porque era demais para o público?

Till: Tinha um efeito no qual o Flake ateava fogo em mim, e ateava bastante fogo, porque ao invés de o fogo ser apagado com um extintor, havia um material inflamável, que fazia o fogo crescer. No final do número todo mundo vinha e tentava apagar o fogo. A banda não achou que era uma grande idéia ou uma grande coisa, mas eu adorei isso.

Você gosta da sensação dada pelas chamas?

Till: Eu não estou viciado nisso, mas no palco, durante uma performance, rola uma química diferente, e se você tem fogo envolvido, isso é bom, é uma experiência completamente diferente.

O Rammstein não é uma banda política, mas há uma mensagem específica que vocês tentam passar?

Schneider: A mensagem do Rammstein é: se divirta e não esquente, seja você mesmo, seja algo único. O Rammstein era improvável há uns anos, esse tipo de banda alemã, com letras em alemão, e teve um certo sucesso sem ninguém esperar por esta possibilidade. É um bom exemplo de que cada um pode fazer sua própria coisa, ao invés de copiar algo de quem já é famoso. Faça sua própria coisa, insista, use agressividade.

RAMMSTEIN
Reise, Reise
Universal

rammsteinreiseOs integrantes do Rammstein estão falando aos quaro ventos que este quarto álbum representa uma substancial mudança para a banda. Só se for na forma de trabalhar, no relacionamento entre eles ou em detalhes tão mínimos, que só quem é íntimo da banda ou um especialista em produção pode perceber. Está certo que temos aqui músicas como a anacrônica “Los”, que é praticamente acústica, e faz diferença para uma banda acostumada a misturar guitarras pesadas com efeitos eletrônicos; e ainda a esquisita “Morgenstern”. Mas elas são básicas exceções, num repertório que ratifica, sim, a música original e bem alinhavada do Rammstein, e isso não quer dizer, de formal alguma, que o sexteto mostre sinais de repetição. A sombria faixa-título, que também abre o disco, já traz as muralhas de guitarras, que se alternam entre teclados que simulam coros diocesanos e temas eruditos, e ainda sem que os solos de guitarra, simples (mas belos), sejam omitidos.

O peso ofegante de “Mein Teil”, o primeiro single, vem em seguida, num ritmo pesado e arrastado, que ainda abre espaço para trechos falados da letra. “Dalai Lama”, estranha já no título, traz refrões com vocais femininos e suaves teclados, e é também uma das lentas. Mas o destaque do álbum está mesmo na seqüência “Amerika” e “Moskau”, duas espécies de tributo às nações que governaram o mundo durante a guerra fria, encerrada definitivamente com a queda do muro. “Amerika” tem um poderoso refrão, e com trechos da letra em inglês, debocha do american way of life, ao rimar “terra maravilhosa” com “sutiã”, e “esta não é uma música de amor” com “eu não canto na língua da minha mãe”, e ainda ao citar “coca-cola, às vezes guerra”, tudo num cômico alemão misturado com inglês (nos States, saiu uma versão com a música toda em inglês). Até o solo de guitarra é tipicamente hard rock americano. No clipe, todos os membros da banda são astronautas americanos cometendo trapalhadas no espaço. Já “Moskau” lembra totalmente o X-Mal Deutschland, banda alemã oitentista de certo sucesso no underground, com vocais femininos e tudo. Na letra, com trechos cantados em russo, Moscou é apresentada como “ainda a cidade mais bonita do mundo”, e até Lênin é citado.

Nos compactos 47 minutos há ainda espaço para “Stein Um Stein”, espécie de balada à Rammstein, que começa lentinha e fica super pesada, e para “Amour” (em francês mesmo), que prima pela delicadeza e certa dramaticidade. “Reise, Reise” consegue dar um salto de qualidade na carreira do Rammstein, superando “Mutter”, o álbum anterior, sem que a banda tenha aberto mão de sua original e exemplar sonoridade. Quem disse que não é possível fazer rock com música eletrônica?

SAIBA O QUE É ROCK INDUSTRIAL

Os pesquisadores mais rigorosos costumam afirmar que o som industrial já aparecia na década de 60, em trechos de músicas do Can e do Pink Floyd, e até mais tarde, com o experimentalismo do Kraftwerk. Mas foi no final dos anos 70, depois da explosão do punk, que o termo começaria a se solidificar, a partir de bandas como as inglesas Cabare Voltaire e Throbbing Gristle, e da alemã Einstürzende Neubauten. O uso de sintetizadores com guitarras muito distorcidas, quase sem nenhum solo, e ruídos os mais diversos, resultando numa sonoridade áspera e extrema, compunham o cenário dessa música que, na época, era chamada de noise music. O temo industrial só passou a ser utilizado mais tarde, derivado do nome da gravadora do Throbbing Gristle, a Industrial Records.

O rock industrial (ou simplesmente industrial) é marcado pela repetição exaustiva de certas partes, criando literalmente uma atmosfera mecânica, onde letras, em geral, detectam a alienação e a falência do ser humano diante de uma crescente “maquinização da humanidade”. O vídeo “1/2 Mensch”, do Neubauten, nesse sentido, é emblemático: boa parte das cenas foi gravada dentro de uma indústria deserta, com os sons tirados de bancadas e ferramentas. Nos shows o grupo sempre usou “instrumentos” como latas, betoneiras e esteiras rolantes.

Ainda nesse período, novas bandas criaram outras variantes do industrial, como o Skinny Puppy e o Front 242, que, mais dançante, virou ícone do ebm (electronic body music). Outros nomes que ajudaram a manter a cena industrial viva na década de 80 foram Front Line Assembly, Alien Sex Fiend, Laibach, Birthday Party (de onde saiu Nick Cave) e Test Department, entre outros.

No início da década de 90, com a ascensão do heavy metal produzida pela geração thrash, o mundo conheceu o metal industrial, de bandas como Ministry, Nine Inch Nails, Fear Factory e Fudge Tunnel, entre outras. Até Marilyn Manson usou essa derivação para realçar toda a teatralidade em suas performances. Com o sucesso dessas bandas, o temo industrial acabou se recolhendo ao underground, onde se multiplicou em vários outros subgêneros.

Hoje, com a proliferação da eletrônica e o crescimento da música alternativa, o termo industrial serve para identificar tendências das mais diversas, como a no wave, industrial dance, electro industrial, dark ambiente, darkwave e assim por diante, causando uma fragmentação que pouco tem contribuído para a afirmação do rock industrial tal qual foi criado na década de 80.

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Espetáculo destacado

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado