O Homem Baile

Desorientado

Entre passado polêmico e presente indeciso, Marilyn Manson alimenta as incertezas quanto ao futuro de sua carreira no Maximus Festival. Fotos: Alessandra Tolc.

A expressão de Marilyn Manson, na parte do show em que parece investir na carreira de intérprete

A expressão de Marilyn Manson, na parte do show em que parece investir na carreira de intérprete

Marilyn Manson não sabe o que quer ser e nem sabe se vai conseguir. É a impressão de insegurança que ele semeia pelo palco do Maximus Festival, que aconteceu nesta quarta (7/9), no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Escalado como headliner de um dos palcos, o artista multimídia de outrora se encolhe em uma apresentação indecisa que, ao mesmo tempo em que remete a um passado cênico extraordinário, vive um escancarado descompasso de épocas. Agora, visivelmente fora e forma e de modo burocrático, sugere uma nova fase para a carreira, sem a firmeza de quem um dia já foi o ponta de lança no quesito chocar os caretas pelo conjunto da obra que oferecia.

Quando, no início de “Sweet Dreams (Are Made Of This)”, Manson aparece se equilibrando sobre espécie de muletas mecânicas gigantes, parece até que a coisa vai engrenar. A música, tomada do duo Eurythmics por ele, é uma de suas grandes marcas e por conseguinte o ponto alto do show, justamente porque é um dos poucos momentos em que ele revive os grandes tempos de um espetáculo cênico que hoje já não existe. Não que ele precise se aprisionar em formatos, mesmo porque o tempo passa para todo mundo, mas tampouco consegue emplacar uma nova fase, com o repertório mais recente. Poucas músicas apresentadas no show são dos álbuns mais novos, só reconhecidas, honra seja feita, por um numero pequeno de fãs ali na beirada do palco.

Em alguns trechos, parece querer mostrar mais sobriedade, como se fosse um discreto crooner de seus próprios hits, mas o figurino de número algumas vezes menor revela a falta de forma (até física mesmo) para o posto, sem falar em um vocal impostado, no mínimo, com certa insegurança. Outra pista de que ele não está bem, é que, ao acabar cada música, lança o microfone ao chão, sai e volta um tempão depois, em uma longa troca de figurino que subtrai o ritmo do show. Em mais de uma vez se joga no chão, e, numa delas, durante “The Dope show”, pede a banda para tocar mais suave, responsabilizando um dos músicos, enquanto aparenta discutir com uma fã na grade que separa o palco do público. Com ou sem o consentimento de MM, a banda toca as músicas antigas em versões com andamento diferente, o que contribui para o desapego do grande público em relação ao show.

Manson, já se desfazendo do figurino inicial, salta sobre o palco no show do Maximus Festival

Manson, já se desfazendo o figurino inicial, salta sobre o palco no show do Maximus Festival

Por exemplo, “Mobscene”, sem o coro de vocais femininos, ainda que gravados, e sem um telão com as moças dançando can-can é uma perda e tanto. Em boa parte das músicas, aliás, o telão atrás do palco permanece parado com uma única imagem. Mas a música, ainda assim, é a primeira a agradar geral e um dos destaques da noite, assim como “The Beautiful People”, com um arranjo mais percussivo no final (a banda tem um percussionista caçoado por Manson a toda hora); “Irresponsible Hate Anthem”, que tem um impacto um pouco menos sobre a plateia; e “The Dope Show”, quando dispara a “pergunta à la Tupac: “Quantos de vocês estão drogados agora?”. Já chocou mais, não é, não?

Esperar que Marilyn Manson aproveitasse o festival para antecipar alguma coisa do álbum “Say10”, cuja expectativa de lançamento é para fevereiro é demais, mas, por outro lado, realça a fase meio fora de controle em que o músico se meteu, e não é de hoje (veja como foi o show de 2007, no Rio). Nas três mais recentes – “Cupid Carries a Gun”, “Deep Six” e “No Reflection” –, a reação da plateia também pouco ajuda, o que de certo modo reafirma a tal insegurança artística. Perto de completar 50 anos, Marilyn Manson, ao que tudo indica, precisa rever conceitos e decidir se quer seguir vivendo como clone decadente de si próprio, ou se deve deixar de lado de uma vez por todas o Anticristo Superstar, personagem que, ao que parece, não lhe calça mais. A conferir.

Set list completo:

1- Angel With the Scabbed Wings
2- Disposable Teens
3- No Reflection
4- Mobscene
5- Cupid Carries a Gun
6- Irresponsible Hate Anthem
7- Deep Six
8- The Dope Show
9- Tourniquet
10- Sweet Dreams (Are Made of This)
11- Cruci-Fiction in Space
12- Coma White
13- The Beautiful People

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Nicole Oliveira Sales em outubro 12, 2016 às 20:40
    #1

    Boa noite! Precisava vir até aqui e deixar meu comentário. Acho que você precisa voltar para a faculdade e ir até os locais onde acontece os festivais e shows, antes de sair dando palpites ridículos e sem noção. O show do Manson foi perfeito, mesmo ele errando a letra de uma das suas músicas. A galera estava super agitada com o show e acho que vc apenas viu o show por cima (pelos vídeos que foram fornecidos pela página do festival). Todo mundo estava pulando e cantando e não, não era apenas o pessoal que estava na grade que estava super animado, era a galera dos dois palcos. Não saia falando bobeiras desnecessárias.

  2. Sheila Fernanda em outubro 12, 2016 às 21:01
    #2

    “A música, tomada do duo Eurythmics por ele, é uma de suas grandes marcas e por conseguinte o ponto alto do show, justamente porque é um dos poucos momentos em que ele revive os grandes tempos de um espetáculo cênico que hoje já não existe.” Meu querido, ele estava em um festival e não em um show só dele, claro que o cara não vai trazer tudo que ele usa no show solo para um festival.

    “Poucas músicas apresentadas no show são dos álbuns mais novos, só reconhecidas, honra seja feita, por um número pequeno de fãs ali na beirada do palco.” Oi? Acho que você não estava no show para ver que a galera dos dois palcos estava curtindo o show do Manson, mesmo ele errando a letra de uma de suas músicas, isso não faz a menor diferença para quem é fã. E outra, todo mundo que estava no palco em que o Manson tocou estava adorando e curtindo tudo, não só o pessoal que estava na grade. Quem esperou quase 10 anos para ver o cara, você acha mesmo que está ligando para tudo isso? Até parece que no show não teve nenhum ponto positivo, só quem estava lá pra saber mesmo de tudo que rolou e mesmo havendo algumas críticas negativas, o show foi bom. Da próxima vez, vá ao show e não acompanhe por cima.

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