O Homem Baile

Com aparato visual reduzido, Marilyn Manson pouco acrescenta

Em show curto, agora há pouco na Fundição Progresso, no Rio, cantor se mostrou “recatado” e parece ter perdido o trem da história.

Era pra ter dado tudo errado no primeiro show de Marilyn Manson em plagas cariocas. Mais de meia hora de atraso e um show da boa banda carioca Maldita que ninguém viu. Apenas duas músicas foram tocadas depois de uma introdução dantesca e antes de um problema na “parte elétrica” ter interrompido o show. Que começara devagar, diga-se, com a lenta “If I Was Your Vampire”, abertura e símbolo de um disco (“Eat Me, Drink Me”) de repertório igualmente fraco. Quando um integrante da equipe foi ao microfone explicar o problema, parecia que a coisa era pra mais de hora.

De imediato Manson reapareceu e recuperou o tempo perdido. Com boa presença de palco (e de espírito) re-agitou um público sedento para ser usado, como bem diz a letra de “Sweet Dreams”, o hit do Eurythmics do qual Manson se apossou merecidamente graças a uma interpretação, digamos, “autoral”. Foi um dos pontos altos do set, ainda que ajuntada com a também boa “Lunchbox”. Ele usava um capacete com dois mini faróis que emitiam feixes de luz em meio à escuridão, e mostrou que este seria o artifício cênico de maior peso em todo o show. Era pra ter dado tudo errado, Marilyn Manson retomou o rumo do show, mas nem tudo foi tão certo assim.

Porque o personagem Marilyn Manson nasceu para chocar, com músicas, letras, visual de cada integrante, e, sobretudo, nos shows. Onde estavam os cenários que se multiplicavam? E as moças de saia curta, calcinha vermelha e capacete de policial dançando o can-can de “Mobscene”? A “saia” gigante que erguia o vocalista a mais de dez metros de altura? A bíblia rasgada pelo fanático pastor? E o banho de sangue notadamente fake? Nada. Tudo se resumiu a esse capacete luminoso, num microfone sem fio com cabo de punhal, e em discretas mudanças de roupa de Manson, que não apareceu em trajes ínfimos como no passado, uma só vez. Não que fosse para todos esses efeitos se repetirem para sempre, mas não criar outros com igual potencial de choque e hipnose foi terrível para um artista como Marilyn Manson.

A ausência de elementos cênicos deixou o foco para a boa performance de Manson, mas ele não segurou a onda por todo o tempo. Saiu-se bem logo depois da falha de energia elétrica, em momentos isolados como “Fight Song”; no novo hit “Heart Shaped Glasses”, ainda não assimilado pelo público; e no bis espetacular com a certeira “Beautiful People”. Foi muito bem ajudado por solos e evoluções de guitarra de Tim Sköld, em outras tantas, caso da balada “Just a Car Crash Away”, “Sweet Dreams” (de novo) e de “Putting Holes In Happiness”. Os teclados só apareceram nas incursões mais pops e nos ruídos finais do show e do bis – idênticos, diga-se de passagem.

O show foi curto (menos de hora e meia) e mostrou uma fórmula cansada, carente de renovação e/ou auto-superação. Ou ainda, e no mínimo, de músicas novas um pouco melhores que as de “Eat Me, Drink Me” – e pensar que a melhor do disco, “Mutilation Is The Most Sincere Form Of Flattery”, ficou de fora. “Are You The Rabbit?”, programada no set list, também dançou. Chato concluir, mas Marilyn Manson, o autoproclamado “anticristo superstar”, hoje é iguaria azeda que já perdeu o ponto. Cão bravo que ladra, mas não assusta.

Marilyn Manson volta a se apresentar hoje, dia 26, em São Paulo, no Via Funchal. Na quinta, dia 27, é atração de destaque na cerimônia de premiação do VMB – Video Music Brasil, na MTV. O evento é transmitido ao vivo do Credicard Hall a partir das 22h.

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