Equivocado
Com repertório mal arranjado, Robert Plant destrói clássicos, mas se salva no fim de uma noite de altos e baixos. Foto: Luciano Oliveira.
Não era mesmo para ser uma celebração do Led Zeppelin, mas Robert Plant poderia ter se esforçado um pouco mais para não manchar a biografia do grupo e dele próprio. Afinal, trata-se da voz que marcou uma época e que resiste, como disse o próprio Plant ao final do show, há 44 anos. Embora flagrantemente debilitado, não foi o gogó do vocalista o que fez da apresentação de ontem, na HSBC Arena, no Rio, uma noite que será facilmente esquecida, a não ser para aqueles que queriam ver de perto uma lenda viva do rock, de verdade, sem exageros.
O que pega no show de Robert Plant com a Sensational Space Shifters é o enquadramento do repertório – variado até – numa roupagem world music/afrobeat que lembra as incursões do próprio Plant dentro do Led Zeppelin, quando descobriu a cultura marroquina, ou mesmo de outros projetos, como o “Unledded”, com o parceiro Jimmy Page. Esse sotaque dá uma padronização estéril ao repertório, fazendo todas as músicas soarem de um jeito só. Nesse sentido, Plant precisa urgentemente de um arranjador, papel que o tecladista John Baggott até tenta desempenhar, nem sempre com sucesso.
A coisa piora quando Plant, a exemplo do que fez no “Unledded”, inclui um instrumento exótico. Desta feita é o gambiano Juldeh Camara que comparece toando rititi, um violino africano de uma nota só que mais parece um berimbau sem afinação, e coloca tudo a perder. Somado a uma série de tambores parecidos com pandeiros gigantes sem os guizos, o instrumento e as vocalizações de Camara transformam o show numa apresentação folclórica gogolbordellizante (e olha que Eugene Hütz estava lá!). É assim que vão por água abaixo a clássica “Black Dog”, que não seria reconhecida não fosse pela entrada característica e pelo os gritos de Plant; e “Spoonful”, de Willie Dixon, música referência do blues rock, já gravada por Deus e o mundo, só para se ter uma ideia.
Como se vê, o repertório de Plant é raro, rebuscado e cheio de referências à sua própria história. Em “I’m Your Witchdoctor”, homenageia John Mayall, referência em sua fase adolescente, pré Zeppelin, numa versão mais rock, com a banda mandando muito bem; são bons músicos, no fim das contas. “The Enchanter”, pinçada do bom álbum “Mighty Rearranger”, de 2005, que contava com músicos da banda atual, é uma das boas sacadas do show. Com bateria eletrônica e Baggott inspirado nos efeitos, a música realça a voz e Plant, forçada como poucas vezes em toda noite e tem um belo desfecho instrumental. As referências ao blues de raiz, matéria prima do músico desde sempre, estão todas lá; o que pega é como Plant desenvolve os arranjos com sua nova banda, que, por vezes, parece não ter rumo, e é preciso lembrar que, antes da turnê pelo Brasil, eles só fizeram cinco shows juntos.
A redenção – e o melhor momento da noite – vem no bis, com a belíssima “Going to California”, numa versão semi acústica, tocada apenas por Plant, os guitarristas Justin Adams (com jeitão de rockabilly) e Liam “Skin” Tyson, e um suave teclado. A música, incluída pela primeira vez no repertório, e numa versão próxima da original, emociona o bom público que compareceu à Arena. “Gallows Pole”, que tem queda para o cheiro de incenso, traz de volta o equívoco étnico que quase matou o show, mas Plant não poderia passar pelo Rio sem relembrar o espetáculo das camisetas em hélice proporcionado pelo público em 1996, na Apoteose lotada, e emendou uma versão pesada (na medida do possível) para “Rock And Roll”. É, não dá para dizer que não valeu.
Se list completo
1- Fixing to Die
2- Tin Pan Valley
3- 44
4- Friends
5- Spoonful
6- Somebody Knocking
7- Black Dog
8- Bron-Y-Aur Stomp
9- Enchanter
10- Another Tribe
11- Ramble On
12- I’m Your Witchdoctor
13- Who Do You Love/Whole Lotta Love/Steal Away/Bury My Body
Bis
14- Going to California
15- Gallows Pole
16- Rock and Roll
Agora, a turnê de Robert Plant passa por Belo Horizonte, dia 20, na Expo Minas; São Paulo dias 22 (ingressos esgotados) e 23, no Espaço das Américas; Brasília, dia 25, no Ginásio Nilson Nelson; Curitiba, dia 27, no Teatro Guaíra; e Porto Alegre, dia 29, no Gigantinho. Clique aqui para saber tudo sobre os shows.
Tags desse texto: Robert Plant
Pô, falar que o Robert Plant não fez um bom show? Está de brincadeira comigo. O cara está desde os 19 anos na estrada, e o Led acabou, ele já tinha deixado claro que a proposta seria em função de blues. E outra coisa, ele estava fazendo o show dele, não do Led. Eu também estava ansioso para ver os clássicos, mas vamos convir que sem o Page não tem nem como pedir isso. Reclamar de um cara de 64 anos, que está ali cantando com uma voz de invejar qualquer pessoa nova ou velha é uma grande besteira. Acho que o tempo passou e infelizmente as coisas mudam, mas cobrar algo da época do Led também não é justo. O cara apresentou um show com vários blues, coisa que ele já tinha indicado que iria fazer. Saiam dessa de reclamar! É isso e pronto.
Nesse formato folclórico, melhor não tocar nada do Led Zeppelin mesmo, estraga tudo.
Amei a releitura, ele não precisa provar mais nada pra ninguém. Ele tem um nome, não apenas carrega outro, o da antiga banda. Deve ser difícil para alguém com décadas de estrada tocar sempre, sempre, as mesmas coisas, tudo igual, ficar “colando” da gravação. Todos sabem de seu flerte com a cultura oriental e do seu refinamento exótico. A decepção vem por conta, justamente, de que tirando a passagem Plant/Page 96 e Plant 94 (Hollywood Rock), não tivemos a oportunidade de ver a execução ao pé da letra/melodia dos clássicos, mas isso não é um sonho só de brasileiros, não!
Acho que essa noite não deve ser facilmente esquecida, a proposta dele só pegou de surpresa quem não procura saber o que ele anda fazendo, e quem conhece e não gosta deveria ter economizado ouvindo Led em casa. Os erros ele tem a sensibilidade e expêriencia para corrigi-los. Espero que ele volte a se apresentar aqui, seja do jeito que quiser!
Eu já sabia da proposta do Robert e fui esperando um show de blues, me surpreendi muito positivamente, pois foi além do que eu esperava. O projeto solo do Plant, para quem acompanha, já sabe das suas misturas musicais e de suas releituras. Acho que quem foi sabendo da real proposta dele aproveitou e muito! Foi uma deliciosa experiência musical. Mas, para aqueles desavisados que esperavam o próprio Led Zeppelin, algo impossível sem John Paul Jones e Jimmy Page, gritando para tocar “Stairway to Heaven”, perdeu uma ótima oportunidade de curtir um show que, na minha opinião, foi lindo! Para mim, uma fã do Led, a oportunidade de vê-lo foi uma realização de um sonho, que mesmo com 60 e poucos anos fez bonito e com carisma. Quem conhece a carreira do Led e do Plant já sabe que há muito tempo ele não tem aqueles agudos ferozes (quem for ver “Celebration Day” nos cinemas vai reparar muito bem isso) e que o Led Zeppelin mesmo sempre fez misturas musicais, para além do rock. Sem contar que a banda arrasou. Apesar do set ser parecido com o que ele tocou no Sunflower Blues Festival, “Rock And Roll” e “Ramble On” foram surpresa para mim. Acho que o pessoal tem que cair na real, em vez de ficar parado no tempo reclamando que os velhos tempos, na era de ouro do rock era bem melhor. O tempo passa, as coisas mudam, e o Robert Plant ficou velho, sim, e por isso mesmo ele amadureceu e usa sua voz com prudência por recoonhecer que não é mais o mesmo de antes. Não adianta ficar só olhando para trás, comparando e se lamentando. Eu que não pude curtir e, como até hoje não inventaram a máquina do tempo e poder curtir o monstro que era o Led Zeppelin no auge, curti muito o show, vi meu ídolo de perto, cantei, dancei, me emocionei… Enfim, só de poder ouvir o Robert Plant, quem diria, em pessoa, ja me sinto realizada. Adorei o show!
O show foi ótimo, a maioria das músicas ficaram próximas da original, apenas Whole Lotta Love e Black Dog (esta em especial) que não, mas mesmo assim não deixaram de emocionar. Quem é fã de verdade do Led Zeppelin e do Plant sabe que foi perfeito. O cara que fez a matéria e alguns comments aí devem ser daqueles que só conhecem Stairway to Heaven.