Sobrando
Em apresentação brilhante, e mesmo sem lançar disco há cinco anos, Metallica renova repertório da edição anterior do Rock In Rio. Fotos: Léo Corrêa.
O grupo manteve a estrutura do set list criada desde 2008, quando “Death Magnetic”, o tal disco mais recente, saiu. Como o iminente lançamento do filme “Metallica Through Never” (no Brasil no Festival do Rio e depois em circuito), a impressão que se tem é que algumas músicas foram incluídas por fazerem parte da trilha sonora. Caso da própria “Hit The Lights”, de “The Memory Remains”, que desencadeou uma cantarolagem gigantesca; e de “Wherever I May Roam”, cujo poderoso riff tocado num volume colossal detonou o início do maior pula-pula que essa edição do Rock In Rio já viu. O quarteto está rodando o mundo em uma turnê de divulgação do filme e veio ao Rio – acredite – num esquema bate e volta: chegou de vôo fretado da Europa, atendeu à imprensa, tocou, atendeu aos fãs e se pirulitou de novo para o Hemisfério Norte. E isso depois de sentar a paulada da moleira numa apresentação aeróbica.
Não houve espaço para tocar a integra de um dos álbuns da banda, como foi cogitado (veja aqui), mas as cinco músicas do “Black Album” fizeram lembrar a histórica turnê que passou pelo Parque Antarctica em 1993 (20 anos!). Até a apenas razoável “Holier Than Thou” entrou quebrando o início matador com a dobradinha “Hit The Lights” – que é a cara do colete multi marcas de James Hetfield – e “Master Of Puppets”. Começar um show mandando logo um dos maiores hits não é para qualquer um, e o Metallica mostra que está sobrando na turma, mesmo sem compor nada durante todo esse tempo, justamente por conta da força de um repertório que parece inesgotável. E pensar que até o indigesto álbum “… And Justice For All”, quando o grupo chegou às raias do tecnicismo precioso a ponto de se tornar enfadonho, ajudou a rechear a noite com surpresas como a faixa-título, que se alastrou avassaladoramente pela plateia, e “Harvest Of Sorrow”.Além de um Hetfield, que debocha do Ghost em uma das falas e de um Lars Ulrich cabeludo, é o guitarrista Kirk Hammet o destaque individual do show. É de impressionar como eles tá solando nas músicas, com uma vontade de como se fosse a primeira vez. Usando aquela tala nos dedos, Kirk passa as duas horas esmerilhando a guitarra sem dó ou mesmo acompanhando James Hetfield em evoluções matadoras, como as de “… And Justice For All”, quando ensaiam uma coreografia marcante, ou ainda na baladaça dos infernos “One”, quando os dois se juntam ao baixista Robert Trujillo e avançam para a beirada do palco. À exceção de “The Memory Remains”, nenhuma música dos álbuns da fase menos inspirada do Metallica – “Load”, “Reload” e “St. Anger” – foram contempladas no show.
A estrutura do palco é a mesma que veio ao Rock In Rio de 2011, com o telão enorme que seduziu Roberto Medina (veja) e que sempre parece ser maior que o usado pelas outras bandas; o tamanho das imagens projetadas certamente é. Os três integrantes circulam o tempo todo pelas laterais e inclusive numa plataforma montada atrás do kit de bateria, sendo que Hetfield tem vários microfones à disposição e tudo é filmado por uma porrada de câmeras minúsculas no placo e jogado – ao vivo – no telão GGG. Os fogos e explosões também são bem-vindos: em “One”, os tiros chegam a doer no peito, e as labaredas de “Blackened” batem no céu e voltam. O público responde com a abertura de inúmeras rodas de pogo que giram sem destino desde a fila do gargarejo até ao acesso à área vip!O mar de braços em coreografia ensaiada por instinto em “Creeping Death”, a primeira do bis, resulta numa das imagens mais tocantes de um festival de proporções bíblicas como o Rock In Rio. Que tipo de música é essa que desperta tamanha reação, simultaneamente e depois de tanto tempo? O metafísico Hetfield não quer saber, quando investe em outro e já tradicional questionamento. “Vocês estão vivos? E qual é a sensação de estar vivo?” Até a balada meia boca “Nothing Else Matters” é bem recebida, para abrir caminho para “Enter Sandman”, espetacular hit que abriu as portas do mundo pop para o Metallica, sem que o grupo tivesse que subtrair um miligrama do peso de seu repertório. É quando a plateia enlouquece de vez, como se no restante do show não lhe dessem motivo. O desfecho com “Seek And Destroy”, música símbolo do thrash metal, é o arremate de uma noite que começou fadada a ter um final feliz com o Metallica. De novo.
Set list completo:1- Hit the Lights
2- Master of Puppets
3- Holier Than Thou
4- Harvester of Sorrow
5- The Day that Never Comes
6- The Memory Remains
7- Wherever I May Roam
8- Welcome Home (Sanitarium)
9- Sad But True
10- …And Justice for All
11- One
12- For Whom the Bell Tolls
13- Blackened
14- Nothing Else Matters
15- Enter Sandman
Bis
16- Creeping Death
17- Battery N
18- Seek & Destroy
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