O Homem Baile

Reencontro

Em apresentação de mais de duas horas, Metallica tira o atraso dos fãs cariocas e enlouquece o público no encerramento da primeira semana do Rock In Rio. Foto: Luciano Oliveira.

O baixista Robert Trujillo e o vocalista/guitarrista James Hetfield se divertem no palco

O baixista Robert Trujillo e o vocalista/guitarrista James Hetfield se divertem no palco

Já passa das duas da madrugada dessa segunda e, num dia longo, o cansaço parece querer vencer o rock. Nesse contexto, uma música instrumental de mais de oito minutos é puxada em pleno Palco Mundo do Rock In Rio, e o público, aos pandarecos, vibra efusivamente. Também, pudera. É “Orion”, uma das músicas mais intrincadas da carreira do Metallica, e que virou símbolo do baixista Cliff Burton, cuja morte, num acidente com o ônibus de turnê da banda, completa 25 anos justamente nesta terça, 27. Não por acaso o líder do grupo, James Hetfield, e o atual baixista, Robert Trujillo, ao final do show, erguem uma faixa gigante com o rosto de Burton, tomada da plateia. Era uma noite realmente especial.

Kirk Hammett e Hetfield: revivendo as 'twin guitars'

Kirk Hammett e Hetfield: revivendo as 'twin guitars'

O Metallica estava devendo ao público carioca. Desde 1999 não aparecia por aqui, sendo que, em 2003, com os ingressos vendidos, cancelou a turnê brasileira que passaria pelo Rio. No ano passado, fez dois shows em São Paulo, e, por aqui, nada. Pois valeu à pena esperar. O show o grupo nesse primeiro domingo de Rock In Rio foi o mais longo e, de longe, o melhor do festival. Não é difícil admitir que hoje o grupo está numa fase bem melhor que a de oito anos atrás. O Metallica descobriu um formato de show excepcional, que mistura todas as fases da banda com músicas recentes. É clássico e, ao mesmo, tempo, cheio de novidades, muito embora o disco mais recente deles, “Death Magnetic” date de 2008. São mais de 70 músicas ensaiadas para que o repertório de cada show seja único, o que significa que o do Rock In Rio teve um set list diferente do apresentado nos dois shows que o grupo fez no Morumbi, em janeiro do ano passado.

Não é de se admirar que o cansaço perdesse para o rock, mas, para Hetfield a disputa era outra. “Vocês se sentem bem? Pois eu me sinto melhor! Eis o desafio: vocês se sentirem melhor que nós”, propõe o vocalista, antes de “Ride The Lightning”. Dá para perceber que, depois de tantos problemas, a banda está leve no palco, tocando com desprendimento – desleixo, para alguns -, músicas que, no passado, antes do “Black Album” não eram tão acessíveis para platéias maiores como a de 100 mil cabeças do Rock In Rio. Caso, por exemplo, de “Creeping Death”, que abre a noite furiosamente, e da própria “Ride The Lightning”, que, pesada e veloz, tira o fôlego da multidão, embora pareça íntima.

As caras e bocas do batera Lars Ulrich

As caras e bocas do batera Lars Ulrich

Mas o destaque do set bem bolado para o Rock In Rio, mais longo, com 2h10, mas com as habituais 18 músicas, são as baladas do thrash que consagraram o Metallica ao misturar fúria, urgência e técnica. Ao todo, foram quatro, sem contar o trecho virtuose embutido na espetacular “Master Of Puppets”. Entenda-se por balada a música que começa lentinha e terminha num esporro dos diabos, como “Fade to Black”, na qual um inspirado Kirk Hammett é acompanhado por James Hetfield no solo final. Eles repetem a faceta, realçando a influência das “twin guitars” de Wishbone Ash e, sobretudo, Thin Lizzy, em músicas como “Welcome Home (Sanitarium)”, e na própria “Orion”. É show de melodia e bom gosto, recheado de virtuose das boas que passa longe do enfadonho.

Num show de festival tão grande quanto o Rock in Rio, é preciso destacar que o telão usado pelo Metallica, cobrindo toda a área do fundo do placo, é um dos maiores de que se tem notícia. A equipe de filmagem do quarteto é própria, e reproduz imagens em alta definição feitas em close com câmeras montadas estrategicamente em posições que cada um dos integrantes vai tomar de acordo com o roteiro do show. Muda repertório, mas a estrutura do espetáculo é a mesma, com cronometragem para as explosões, fogos, efeitos e o lança chamas mais quente da história da pirotecnia metálica; é só perguntar para quem estava lá atrás.

Kirk Hammett recheou a noite metalica de solos

Kirk Hammett recheou a noite metalica de solos

O Metallica tem deixado de lado músicas da fase “Load”/”Reload”/”St. Anger”, mas curiosamente “Fuel” é bem recebida pelo público, com palmas acompanhando o ritmo. Nada comparável à baba “Nothing Else Matters” e ao superhit “Enter Sandman”, a música que tirou o Metallica das trevas, que enlouquece a plateia, no encerramento. No bis, o cover da vez (sempre tem um no início) é a sensacional “Am I Evil?”, do Diamond Head, que recentemente entrou para a história ao marcar o verdadeiro armistício entre os quatro gigantes do thrash metal mundial, no ano passado. O final – o mesmo de sempre – é com a emblemática “Seek And Destroy”. “E então, Rio, vocês se sentem bem?”, pergunta Hetfield, com o sagrado sentimento de dever cumprido. Alguma dúvida, mestre?

Set list completo

1- Creeping Death
2- For Whom The Bell Tolls
3- Fuel
4- Ride The Lightning
5- Fade to Black
6- Cyanide
7- All Nightmare Long
8- Sad But True
9- Welcome Home (Sanitarium)
10- Orion
11- One
12- Master of Puppets
13- Blackened
14- Nothing Else Matters
15- Enter Sandman
Bis
16- Am I Evil?
17- Whiplash
18- Seek and Destroy

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