O Homem Baile

Trégua?

Em shows separados por quase quatro horas, Lobão e Paralamas mostram seus arsenais de hits no mesmo palco no Porão do Rock. Fotos Divulgação: Alessandro Dantas (1, 2 e 4) e Gerdan (3); montagem: Rock em Geral.

Lobão fez o show de encerramento; Herbert Vianna, com o Paralamas, tocou mais cedo no festival

Lobão fez o show de encerramento; Herbert Vianna, com o Paralamas, tocou mais cedo no festival

Nos bastidores da noite de encerramento do Porão do Rock, ontem, em Brasília, não se falava em outra coisa: o “encontro” de dois pesos pesados do rock nacional, ambos revelados no auge no auge da década de 80, e, há tempos, desafetos. E isso no mesmíssimo Palco BRB, um dos dois principais do festival. A história de material musical supostamente copiado pelos Paralamas lá nos primórdios oitentistas se tornou oficial na autobiografia de Lobão, e o clima entre ambos não é dos melhores. Acontece que eles não se encontraram, uma vez que os shows foram separados por quase quatro horas, em que pese o atraso da entrada de Lobão no palco, cujo show só começou depois que o Suicidal Tendencies finalizou os trabalhos lá no terceiro e palco, reservado ao esporro.

Além de pinçar cada um dos momentos marcantes, resumidos num vídeo retrospectivo exibido antes de o show começar, a turnê de 30 anos dos Paralamas alimenta, com exemplos práticos, o sonho que muitos fãs nutrem, de ver o grupo em cena sozinho: baixo, guitarra e bateria, como nos velhos tempos. É o gostinho que se tem quando o trio executa, diretamente da fita demo da Fluminense FM, “Patrulha Nortuna”, aquela do “qualé seu guarda”; na pesada “Mensagem de Amor”; e em “Vital e Sua Moto”, no final do bis, cheia de referências ao Police, grupo que – honra seja feita – teve a costela cedida para o surgimento do Paralamas. Trechos se “Don’t Stand So Close to me” e “Every Breath You Take” são citados, numa espécie de, enfim, admissão sem maiores problemas.

A característica mais marcante da apresentação, no entanto, é o pique que Herbert, Bi e Barone, junto com o tecladista João Fera e o naipe de metais, impõem. Antes de uma breve parada para o bis, o grupo toca 24 músicas praticamente coladas umas nas outras, sem parar. O início, num horário cedo, em torno das 20h30, já parece um fim de show por si só, com “Alagados”, quando um salubérrimo Herbert Viana mostra que ele é o pioneiro da inserção da juju music e da guitarra paraense no pop nacional, fato hoje, mais de 20 anos depois, atribuído a muitos inovadores de última hora. É o que se vê ainda em “Bora-Bora”, separada do início por “Carro Velho”; veja o set list completo no final do texto.

Bi Ribeiro, Herbert Vianna e João Fera mandam ver no show de 30 anos de carreira do Paralamas

Bi Ribeiro, Herbert Vianna e João Fera mandam ver no show de 30 anos de carreira do Paralamas

Com o leiaute de palco modificado, a exuberante bateria de João Barone fica na cara do público, e pode-se ver como toca bem esse vovô garoto, seja na pressão de “Mensagem de Amor”, nos contornos de “A Novidade”, em “Melô do Marinheiro”, ou nos climas da emocionante “Lanterna dos Afogados”. Impressiona a quantidade de músicas em que o público – que chegou a no máximo 18 mil nesta segunda noite, segundo os produtores – reconhece e canta sem medo de ser feliz: praticamente todas. No final, a já citada “Vital e Sua Moto”, cujo verso “Os Paralamas do Sucesso vão tentar tocar na Capital” já a torna obrigatória, e “Que País é Este?”, repita-se, hino não oficial o Brasil e de Brasília, deram contornos finais ao festão.

A trajetória por vezes irregular de Lobão, muito por conta de sua firme personalidade, não o deixou com menos hits que o Paralamas. E ainda lhe deu um plus de se projetar, sobretudo nos últimos tempos, em questões até mesmo fora do meio musical e em seu entorno. Você pode não saber, mas a autobiografia “50 Anos a Mil” (resenha aqui), lançada em 2011, continua vendendo feito água e é praticamente um best seller nacional. Muito embora não misture, no palco, todas essas questões – ainda bem -, no início do show do Porão, quase às três da matina, Lobão entrou calado e mandou de cara a música “Eu Não Vou Deixar”, que traz referências ao “coletivo” Fora do Eixo (saiba mais sobre o imbróglio). A canção já havia sito tocada, em primeira mão, em Caruaru, Pernambuco, onde o músico se apresentou na sexta . A música será gravada em breve, com Lobão pilotando todos os instrumentos.

A sensação que se tem depois de tantos shows da turnê elétrico é que Lobão está cada vez mais – com o perdão da redundância – elétrico. Parece sempre estar com uma guitarra nova, ou com uma de afinação diferente ou ainda tocando de um jeito diferente. Deixa no ar um elam de eterno aprendiz e si próprio. É o que acontece num bloco em especial, que inclui “Robô Robôa”, do primeiro álbum e que é sempre tocada, agora numa versão quase punk/rockabilly; “Ronaldo Foi Pra Guerra”, que antecipou o Fenômeno, vejam vocês; e “Vida Louca Vida” e “Vida Bandida”, essas duas com uma roupagem totalmente diferente, mas sem deixar de encontrar colo no gogó da plateia. E mesmo com o avançar da hora, o público não deixou a desejar em relação ao alvoroço paralâmico.

Lobão também desfilou uma porção de hits e apresentou música nova, que fala sobre o Fora do Eixo

Lobão também desfilou uma porção de hits e apresentou música nova, que fala sobre o Fora do Eixo

Outra vantagem do Grande Lobo é manter a mesma banda durante bastante tempo, o que confere a todos um bom entrosamento, e, ao mesmo tempo o deixa soltinho para fazer das suas. Por causa do avançar do horário, e até por ser tratar de um show de festival, o repertório foi menor que o de hábito. No Rio, no ano passado, foram seis músicas a mais; veja como foi. Contabilidade inútil, contudo, se consideramos a intensidade do show e da repercussão de músicas como “Rádio Blá”, na versão para maiores; “Me Chama”, todinha cantada pelo Planalto Central; a tocante e autobiográfica “Mal Nenhum”, que Lobão leva sozinho; e o desfecho “todo mundo nu, oba!” de “Corações Psicodélicos. Um show para ser visto sempre que possível.

Clique aqui para ver como foram os outros shows de sábado no Porão do Rock.

Set list completo Lobão:

1- Eu Não Vou Deixar
2- Bambino
3- Canos Silenciosos
4- Decadence Avec Elegance
5- El Desdichado II
6- Mais Uma Vez
7- A Vida é Doce
8- Das Tripas Coração
9- Vou Te Levar
10- Por Tudo Que For
11- Noite E Dia
12- Me Chama
13- Robô Robôa
14- Ronaldo foi Pra Guerra
15- Vida Louca Vida
16- Vida Bandida
17- Rádio Blá
Bis
18- Mal Nenhum
19- Help
20- Corações Psicodélicos

Set list completo Paralamas:

1- Alagados
2- Carro Velho
3- Bora-Bora
4- Patrulha Noturna
5- Cinema Mudo
6- Ska
7- Selvagem/Polícia
8- Whole Lotta Love/O Calibre
9- Mensagem de Amor
10- Cuide Bem do Seu Amor
11- Romance Ideal
12- Quase Um Segundo
13- Meu Erro
14- Óculos
15- Lanterna dos Afogados
16- Meu Sonho
17- Ela Disse Adeus
18- Você
19- A Novidade
20- Melô do Marinheiro
21- Marujo Dub
22- Uma Brasileira
23- O Beco
24- Lourinha Brombil
Bis
25- Onde Quer Que Eu Vá
26- Caleidoscópio
27- Don’t Stand So Close to Me/Vital e Sua Moto/Every Breath You Take
28- Que País é Este?

Veja também: o show do Soulfly no festival

Veja também: os shows de sexta no festival

Marcos Bragatto viajou à Brasília à convite do festival.

Tags desse texto: , ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado