O Homem Baile

Tijolaço

Com estrutura de festival europeu, Soulfly faz apresentação consagradora no Porão do Rock, em Brasília; até “Que País é Esse?” Max Cavalera tocou. Fotos: Alessandro Dantas/Divulgação.

Max Cavalera ergue os braços e faz o símbolo do metal para a plateia ensandecida no show do Soulfly

Max Cavalera ergue os braços e faz o símbolo do metal para a plateia ensandecida no show do Soulfly

Na volta para o bis, como quem não quer nada, Max Cavalera, sozinho, toca o riff de “Que País é Esse?”, da Legião Urbana, hino não oficial de Brasília, e canta o verso/refrão. “É só de zoeira”, diz o líder do Soulfly. “O Renato Russo foi fã do Sepultura antes de muita gente”, completa, antes de mandar a improvisação “from hell” no final de um show que já entrou para a história da Capital Federal e do próprio Max. Nesta sexta, o Soulfly encerrou a noite no Palco Budweiser, o terceiro do Porão do Rock, reservado aos sons mais pesados. Atraiu, certamente, a maior quantidade de público nessa turnê: oito mil pessoas, segundo estimativa dos produtores. Ao todo, circularam pela arena montada no Estacionamento do Estádio Mané Garrincha cerca de 25 mil.

Marc Rizzo, de costas, vê bandeira brasileira

Marc Rizzo, de costas, vê bandeira brasileira

Afastado duramente da mídia dita especializada no Brasil durante anos, quando saiu em carreira solo ao montar o Soulfly, Max Cavalera enfim venceu a visão estreita e já faz a segunda turnê seguida por aqui (sem contar os shows do Cavalera Conspiracy), descobrindo cada vez mais esse Brazilzão, como nos tempos desbravadores do Sepultura. No Porão, encontrou uma boa estrutura de som e não hesitou em tocar em um volume ensurdecedor, enfatizando as músicas mais porradas do repertório, que sofre alterações aqui e ali; veja o set list completo no final do texto. Em “Wasting Away”, espécie de furúnculo musical encruado do Nailbomb, Max recebe o guitarrista do Test, João Kombi, e se diverte como pouco se vê em outros shows da turnê. O Test havia tocado antes do Soulfly.

Embora tenha letra em espanhol e português, “Plata o Plomo”, que trata do traficante “Pablo Escobar”, não chega a ser uma boa escolha para a abertura, e é só com a introdução sombria do guitarrista Marc Rizzo, em “Prophecy”, que a coisa pega pra valer, em que pese a velocidade fenomenal do duplo pedal do baterista Kanky Lara, que nessa turnê substitui Zyon, filho de Max. Já Richie Cavalera, enteado, canta com Max na nova “Bloodshed”, anunciada a cada cidade como inédita na parte final do set, mas tocada noite após noite. Tá desculpado, Max. “Blood Fire War Hate”, abençoada por David Vincent, do Morbid Angel, permanece como um dos destaques do repertório: é praticamente o apocalipse global em forma de música esporrenta.

Todo o feeling de max Cavalera, líder do Soulfly

Todo o feeling de max Cavalera, líder do Soulfly

Em relação ao show do Rio, na terça (veja como foi) entram a ótima “Rise Of The Fallen”, na qual Rizzo faz a guitarra chorar como se fosse um bandolim do mal; “Frontlines”, uma porção generosa de violência em estado bruto; e “Propaganda”, do Sepultura, que promove um verdadeiro triturador de carne junto o público, a essa altura com os tímpanos estraçalhados; além de uma breve citação ao Pantera, identificada de cara pela massa. Realça nos olhos esbugalhados de Max Cavalera uma “vibe” empática com o público, o que parece fazer o filho de Jah abusar ainda mais do volume e do peso que sai do palco, e o esporro vai minando quase que fisicamente cada um que gira no meio de imparáveis rodas de pogo. Se existe a tal sinergia público/banda, ela acontece nesta noite.

Mas é na hora dos clássicos do Sepultura que a coisa fica boa. A dobradinha “Refuse/Resist”/“Territory” é de arrepiar e trazer à tona a reflexão: que fase aquela do Sepultura, hein? O povão, de seu lado, não está nem aí para isso, e compartilha se estapeando e em rodas cada vez mais velozes. O bom entrosamento do quarteto – completado pelo baixista Tony Campos – traz memórias dos dois últimos shows do Sepultura com Max no Brasil, em 1996, no Imperator, lá no subúrbio do Meier, no Rio (veja como foi). De novo: que fase aquela! E como hoje o Soulfly reproduz tudo num piscar de olhos. Quem não se quebrou todo em “Arise”, que cita só um pedacinho da sinistra “Dead Embrionic Cells”, se esbalda em “Roots Blood Roots”, clássico eterno do metal mundial, antes do arremate com “Attitude”. Brasília, pode anotar no seu top 5 shows: é esse e mais quatro.Público vibra com o som alto do show do Soulfly; cerca de 8 mil estavam no local, segundo a produção

Set list completo:

1- Plata o Plomo
2- Prophecy
3- Back to the Primitive
4- Seek ‘N’ Strike
5- Refuse/Resist
6- Territory
7- Blood Fire War Hate
8- Arise/Dead Embryonic Cells
9- Frontlines
10- Straighthate
11- Walk
12- Rise Of The Fallen
13- Bloodshed
14- Propaganda
15- Wasting Away
16- Roots Bloody Roots
17- Attitude
Bis
18- Que País é Este
17- Jumpdafuckup/Eye for an Eye/The Trooper

Marcos Bragatto viajou à Brasília à convite do festival.

Veja também: como foi a primeira noite do festival

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Léo Rocha em setembro 2, 2013 às 11:17
    #1

    Vivemos um dos melhores momentos em shows internacionais no Brasil, sem dúvida!

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