O Homem Baile

Consolidado

Em ótimo show no Rio, Soulfly mostra a força do repertório e a afirmação de subgênero próprio desdobrado do clássico “Roots”. Fotos: Nem Queiroz.

Mostrando boa forma, Max Cavalera canta durante o show do Soulfly, ontem, no Circo Voador

Mostrando boa forma, Max Cavalera canta durante o show do Soulfly, ontem, no Circo Voador

Os quase 20 anos de estrada e 13 da parceria entre Max Cavalera e o guitarrista Marc Rizzo consolidam a boa fase do Soulfly, em disco – já são 10! – e, sobretudo, em cima de um palco. É o que se conclui depois da ótima apresentação da banda na noite desta quinta (7/4), no Circo Voador, no Rio. Com desenvoltura, o quarteto emendou logo de cara três músicas do disco mais recente, “Archangel”, com o público interagindo como já fossem clássicos eternos. Durante toda a noite, a despeito de vários hinos do Sepultura, o que marcou foi a afirmação, no seio dos fãs, do material do Soulfly propriamente dito. Músicas de quase todos os discos foram tocadas e não havia uma em que o público – pequeno, diga-se – não cantasse essa ou aquela parte.

O show, a rigor, começou antes dele próprio quando Max Cavalera deu o ar da graça em algumas entrevistas na TV e na web e desfilou um perfil menos “desconectado da realidade”, e até deu mostras de que está em dia com a caderneta odontológica. No palco, a mesma sensação. Não que tenha saído de um spa com o shape de um atleta, mas é inegável que se movimenta melhor, canta com mais altivez e toca com mais precisão e frequência que das outras vezes em que esteve no Brasil, em que pese o sensacional mosh de 2013 (relembre) e o show consagrador de Brasília, no Porão do Rock (veja como foi). Max tem para si até um momento solo, em que cola uns nos outros riffs e pequenos trechos de clássicos que incluem Motörhead e Black Sabbath. Referências é que não faltam ao longo do set: tem Metallica, Pantera, Zumbi dos Palmares, Iron Maiden e o escambau.

O guitarrista Marc Rizzo, Max e o baixista Mike Leon; o batera Kanky Lora (fora da foto) completa o time

O guitarrista Marc Rizzo, Max e o baixista Mike Leon; o batera Kanky Lora (fora da foto) completa o time

Mas o que importa – repita-se – é a consolidação do repertório do Soulfly, hoje muito menos conectado ao nu-metal e pouco religioso/ecumênico se comparado há tempos idos. O bojo do show é calcado em riffs e grooves poderosos que não deixam pedra sobre pedra, e a participação do versátil batera Kanky Lora contribui um bocado para isso. Que o digam músicas como “No Hope = No Fear”, com citação a “Umbabarauma” e Max tocando de joelhos; “Babylon”, uma das consagradas pelo povaréu; e “Back to Primitive”, já no bis, só para se ter uma ideia. A penetração das músicas do Soulfly é tão farta que até o hit maior do Sepultura, “Roots Bloody Roots”, não tem ares de protagonista, muito pelo início assim, assim, colado no número solo de Max. A dobradinha “Refuse/Resist” e “Territory” seguem com tintas incomparáveis, mas “Arise” misturada com “Dead Embrionic Cells”, ambas cruelmente editadas, não funciona.

Max Cavalera, o ícone musical brasileiro mais bem sucedido no exterior desde a bossa nova, rege o público tal qual um sacerdote. Vestido mais ou menos para a função divina, e com a mão de fogo estendida sobre os fiéis, vê o subgênero do heavy metal que ele próprio criou, desdobrando o álbum “Roots” para todo o sempre, exultado a plenos pulmões pela plateia. Entre as novas, “Archangel” chama a atenção pela tensa linha de guitarras, com Rizzo esmerilhando logo de cara. “Sodomites”, mais cadenciada, tem a participação do baixista Mike Leon (dado a exibicionices hard rock), outra novidade na banda. O final tem uma versão ainda mais porrada para “Ace Of Spades”, com Max cantando sem guitarra e ladeado pelo vocalista/guitarrista do Claustrofobia, Marcus D’Angelo. Um show e tanto que realça a consolidação de uma banda, de um repertório, de um gênero próprio, de um deus chamado Max Cavalera.

Max Cavalera abre os braços e comanda o participativo público que conhece todas as músicas do Soulfly

Max Cavalera abre os braços e comanda o participativo público que conhece todas as músicas do Soulfly

Antes, o Claustrofobia fez uma apresentação intensa, com maratonas de guitarras levadas às últimas consequências. Foi a primeira vez da banda no Rio (como pode?) e o repertório foi montado com um apanhado de toda a careira, que já deve beirar uns 20 anos. Destaques para “Pinu da Granada”, que encerrou o set em um tempo para tocar apertado; “Caosfera”, ultrapesada e mais cadenciada; e “War Stomp”, com altos solos de guitarra. Uma inédita, “Paulada”, ainda foi testada e, desde já, aprovada. Tem que voltar logo com um show solo. Para um Circo Voador ainda bem vazio, o Capadócia, também de São Paulo, fez o que pode e até que agitou os primeiros a atravessar as catracas. A banda é liderada por Baffo Neto, roadie de várias bandas, que canta e toca guitarra, e vai fundo no thrash/death metal bem pesado. As mais legais foram “Regret”, inspirada em “Refuse/Resist”, para dizer o mínimo; a tensa “Stay Awake”, e o cover para “Blackened”, do Metallica, que acabou ocupando espaço de uma música própria.

Set list completo Soulfly:

1- We Sold Our Souls to Metal
2- Archangel
3- Ishtar Rising
4- Blood Fire War Hate
5- Refuse/Resist
6- Territory
7- Sodomites
8- Master Of Savagery
9- Solo guitarra
10- Prophecy
11- Seek ‘N’ Strike
12- Babylon
13- Tribe
14- Arise/Dead Embryonic Cells
15- No Hope = No Fear/Umbabarauma
16- Max solo: Iron Man/Orgasmatron/Polícia/Escape to the Void/Desperate Cry/Roots Bloody Roots
17- Roots Bloody Roots
18- Frontlines
Bis
19- Back to the Primitive
20- Troops of Doom
21- Ace of Spades
Bis
22- Jumpdafuckup/Eye for an Eye

O vocalista e guitarrista Marcus D’Angelo agita o público durante o show de abertura, do Claustrofobia

O vocalista e guitarrista Marcus D’Angelo agita o público durante o show de abertura, do Claustrofobia

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. leone em abril 8, 2016 às 18:57
    #1

    Só uma pequena gafe no comentário dizendo que o Claustrofobia tocou pela primeira vez no RJ. Já fui no show deles no clube recreativo Trindade (São Gonçalo) anos atrás. Mas foi uma boa matéria.

  2. Marcos Bragatto em abril 9, 2016 às 15:47
    #2

    Provavelmente o vocalista se referiu à cidade do Rio de Janeiro, não ao estado.

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