Esporro e silêncio
Bandas internacionais fracassam nos palcos principais e ícones do rock nacional e palco secundário se transformam em opções para bons shows no Porão do Rock. Fotos Divulgação: Gerdan (1, 2, 3 e 5) e Alessandro Dantas (4 e 6).
Mas nem tão ruim assim. Como em geral acontece em shows de bandas internacionais, na primeira palhetada na guitarra dá pra ver que o sujeito tem passaporte. Por isso o carequinha John Mortensen forma ruidosa dupla com Crider, e o couro come com os dois trocando piadas internas num sotaque carregadíssimo. É bom lembrar que o Mono Men soube como poucos ligar os pontos entre o proto-punk e o grunge. No meio daquela barulheira toda, destaques para “Mistery Girl”, logo no início, na voz de Dave Crider, enquanto o telão mostrava cenas picantes com gatinhas retrôs; “One Shot”, berrada por Mortensen, que canta na maior parte do tempo; e “Swampland”, uma surf music de garagem excepcional. No final, dado o atraso que o show do Lobão teria, ainda deu para rolar um bis com mais duas. Que tenha colado no ouvido dos que não estavam no terceiro palco.
Se o show do Mono Men é indicado para uma garage, imagine o de Mark Lanegan… Acompanhado de dois músicos que se revezam em violões, baixo e guitarra, o cantor demorou meia hora para aparecer e tocou 11 músicas que resultaram em duas cenas. Uma delas era de fãs que se aglomeravam na grade e aplaudiam a cada término de canção, e, a outra, de um público que não se sentia tocado pela apresentação e conversava cada vez mais alto durante as músicas. Ora, o show é típica apresentação de crooner para lugar fechado, teatro, barzinho e afins, ainda mais se consideramos o enfoque indie do repertório. De longe a atração mais cara do festival, levando-se em conta o custo benefício (cachê versus quantidade de público interessada). No frigir dos ovos, dois paralelos: Lanegan como espécie de Tom Waits sem carisma e/ou um Chris Cornell sem repertório de sucesso.Já no terceiro palco, o show de encerramento, com o Suicidal Tendencies, teve procura tão grande que um acordo foi costurado para que Lobão só começasse a tocar depois do término daquela apresentação. Com o repertório mais ou menos igual ao do show do Circo Voador, no Rio, na terça passada (veja como foi), o grupo, pioneiro o skate hardcore, ajuntou uma grande quantidade de público (incluindo o palco invadido), mesmo tendo sido uma das atrações do PR há cinco anos. Mais cedo, antes de o Paralamas terminar o festão, o Krisiun já irrompia tímpanos de forma indiscriminada. Até a segurança se viu em apuros para suportar a pressão da plateia na grade que separa o palco do público. O trio de irmãos abriu com a clássica “Ominous”, passou pelo cover de “No Class”, do Motörhead, e tocou grandes sons (como diz o baixista Alex Camargo), como “Vicious Wrath”, desfrutando de um volume altíssimo, como acontecera com as outras bandas na véspera.
Se o The Galo Power se destacou na sexta como uma boa revelação do festival, neste sábado outra banda com olhos no passado também chamou a atenção. O Rios Voadores, já no nome, quer ser considerada uma banda muito louca, e talvez por isso a vocalista Gaivota (é sério isso?), de estatura diminuta, exagere nos trejeitos de malucona da vez. Mas ela tem boa voz, sabe cantar e está à frente de uma bela banda de rock de raiz; vamos dizer assim. A referência mais clara são os Mutantes, fase psicodélica, além de um jeitão “fui a Woodstock e não voltei” dos mais interessantes. O sexteto chegou ao Porão, escalado num horário de ouro, por ter vencido um concurso promovido por um dos patrocinadores. Segundo relatos, é a mais querida banda de Brasília momento. Isso para não dizer, como nos velhos tempos, a bola da vez.Entre as bandas que tocaram mais cedo, realçaram o Rocca Vegas e para o veterano Pastel de Miolos. A primeira, de Fortaleza, é liderada pelo ex-vocalista do Switch Stance, Maurílio Fernandes, e apresenta um bom rock pesado com programações que funcionaram bem no palco principal. O show é super produzido, com uso do telão – coisa rara entre as nadas mais novas - e iluminador próprio. Destaque para “O Espelho”, single do disco de estreia, que mistura peso com batida dançante oitentista. Quase ao mesmo tempo, o Pastel de Miolos, cujos integrantes têm o sobrenome PDM à Ramones, se orgulhava de ser punk. “Isso aqui é punk rock, não é pra ficar sentado, não!”, bradava o vocalista Alisson PDM.
As bandas que abriram os palcos principais não foram muito bem no sabadão. O Saurios, de Brasília, com forte inspiração no rock nacional dos anos 80, por exemplo, cometeu dois erros cruciais: a) Colocar um cover de Legião no repertório, sendo que o tempo é reduzido, e b) Errar a letra desse cover. Já o The Egoraptors, que tem o modelo White Stripes, foi ligeiramente melhor, considerando algumas boas composições e a precocidade da baterista Brenda, que é bem nova e já toca mais que Meg White. Só falta ao grupo arrumar um baixista e completar a formação; até o Jack já sacou isso.O indie pop interessante do Supercombo, mezzo capixaba mezzo paulista, se deu melhor, mesmo chegando em cima da hora do show. A banda tem um baterista de pegada forte e um tecladista que não esconde o apreço pelo Two Door Cinema Club. O resultado dá em coisa boa a depender de cada música, considerando as escorregadas à Los Hermanos dos dois vocalistas/guitarristas; eita praga! Já a Sexy Fi, de Brasília, faz uma indie meio bossa nova que pouco fica à vontade num palcão como o principal do festival, como aconteceu com Mark Lanegan. Se a vocalista tivesse mais jeito de vocalista e intimidade com o palco, a coisa poderia ser sido melhor. Mas faltam músicas legais mesmo. De longe, ainda deu para ver o “Na Lata”, espécie de Slipknot local, com integrantes usando macacões e enfatizam mais a eletrônica e a percussão. Agora só falta largar a matriz.
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Marcos Bragatto viajou à Brasília à convite do festival.
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