O Homem Baile

Em casa

Um ano depois, Soulfly volta a detonar o Circo Voador e Max Cavalera acaba o show nos braços do povão. Fotos: Léo Corrêa.

soulfly13-1A noitada de música pesada já tinha praticamente acabado quando, do nada, o sujeito corre desesperadamente para a beirada do palco, com um microfone de fio na mão e pula no meio do povão. Era Max Cavalera revivendo os bons tempos das noitadas do Sepultura no Circo Voador – aquele outro, de andaimes - em geral com Ratos de Porão e Dorsal Atlântica. Mais magro e com o visual “lixão” menos evidente, em comparação com a vinda do ano passado (veja como foi), Max parecia rejuvenescer ainda mais num lugar que ele seguramente pode chamar de casa. Durante cerca de duas horas e vinte minutos, mostrou a força do Soulfly sem deixar de passear por várias fases de sua carreira, incluindo – claro - os clássicos do Sepultura.

O excelente guitarrista Marc Rizzo debulhando

O excelente guitarrista Marc Rizzo debulhadando

Quando partiu para seguir carreira com o Soulfly, até pela decepção da separação, Max deixou claro que nessa fase a banda seria sempre ele e mais três, mas é inegável o bom estágio atual com o guitarrista Marc Rizzo, há 10 anos no posto, e com o baixista Tony Campos, que também parece bem encaixado no quarteto. O filhão Zyon não pode vir, e o bom Kanky Lara assumiu as baquetas. Dessa vez, inclusive, Campos divide os vocais com Max em várias partes do show, como em “Defeat U” e na sinistra “Blood Fire War Hate”, resgatada do álbum “Conquer”, de 2008, cuja gravação original tem o gogó de David Vincent, do Morbid Angel. Omitida no ano passado, ela brilha com um peso descomunal, em que pese as várias mudanças de andamento típicas do thrash metal enraizado que Max tem abraçado mais fortemente nos últimos tempos.

Ela faz parte de um “bloco porrada” (como se houvesse alguma leveza no show) que inclui as indispensáveis “Refuse/Resist” e “Territory”, com peso descomunal, e ainda “Seek N’Strike”, que Max canta sem tocar guitarra e aproveita para se abaixar e cumprimentar a horda do gargarejo. Sozinho nas seis cordas, Marc Rizzo realça o estilo “debulhador sem ser chato” que o caracteriza. Em relação ao show do ano passado – como é bom falar isso – o repertório teve quatro músicas a menos, sendo que nove foram tocadas no Rio pela primeira vez, o que confere um bom apanhado da carreira do Soulfly. Teve ainda “Wasting Away”, outra bomba prestes a explodir, dos tempos do Nailbomb, projeto esporrento de Max com Alex Newport, cujo único álbum é adorado pelos fãs do barulho generalizado.

Max Cavalera em dueto vocal com Tony Campos

Max Cavalera em dueto vocal com Tony Campos

Malandro, Max anuncia como “tocada pela primeira vez” uma das músicas do novo álbum, “Savages”, a ser lançado em outubro. É “Bloodshed”, que, na verdade, já vem sendo tocada pela banda ao menos desde o início de julho (veja aqui). A música tem a participação de um dos filhos/enteados de Max, Richie Cavalera. A rigor, Max perde uma boa oportunidade de se revestir de ousadia e mandar logo umas cinco das novas, o que seria uma demonstração de vitalidade ainda maior, já que o sujeito não pára de gravar e lançar discos um atrás do outro. Nessas horas é que o show pode também ser chato. Mesmo que o repertório tenha um poder de fogo extraordinário, Max pede o tempo todo para o público pular e puxa o coro de “olê, olê, olé, Soulfly”. Não precisava, deixa que as músicas façam isso por si só.

Embora ligeiramente mais curto, o show desta terça, no geral, pareceu mais pesado e barulhento. “Back to Primitive”, por exemplo, ganha um beat box from hell em dueto com Tony Campos não percebido em 2012. “I And I”, com introdução de “Iron Man”, do Black Sabbath, faz a conexão certeira com a pauleira dos anos 70, e “Babylon”, ao vivo, se revela excelente opção para uma boa bateção de cabeça. E nem vale citar o caos afetivo/histórico que se traduz quando “Roots Bloody Roots”, um dos grandes hinos do metal em todos os tempos, é tocada. Na hora do sufoco, até um tênis foi lançado ao palco. Nas mãos de Max Cavalera, a peça se converteu em palheta antes de ser lançada de volta. Vai ver foi aí que o filho de Jah decidiu se jogar do palco, proporcionando aquele desfecho bonito. Ano que vem tamos aí de novo. Clique aqui para ver como foi o show de abertural, do Suicidal Tendencies, e aqui para ver a galeria de fotos.

Marc Rizzo, Richie Cavalera e Max cantam juntos na única música nova - mas não tanto -, 'Bloodshed'

Marc Rizzo, Richie Cavalera e Max cantam juntos na única música nova - mas não tanto -, 'Bloodshed'

Set list completo:

1- Plata o Plomo
2- Prophecy
3- Back to the Primitive
4- Defeat U
5- Seek ‘N’ Strike
6- Refuse/Resist
7- Territory
8- Blood Fire War Hate
9- Wasting Away
10- Arise/Dead Embryonic Cells
11- Straighthate
12- I and I
13- Babylon
14- Bloodshed
15- Attitude
16- Roots Bloody Roots
Bis
17- Jumpdafuckup/Eye for an Eye/We Will Rock You/The Trooper

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