O Homem Baile

Feitos um para o outro

Na edição de aniversário do Rock In Rio, Paralamas também comemora 30 anos em show com supra sumo da carreira. Foto: Pingo/Estácio/Divulgação Rock In Rio.

paralamasrir15O habitat natural para o Paralamas estacionar seu caminhão de sucessos com a turnê de aniversário de 30 anos não poderia ser outro senão o contemporâneo Rock In Rio. Foi ali do outro lado da rua, em 1985, de onde hoje se extrai o solo para a comercialização que, na falta de um cenários os três Paralamas sequestram uma palmeira decorativa do camarim, levaram ao palco e tudo virou história. Por isso a interação, de público, plateia e festival, vem de longe. De muito longe. Daí a naturalidade como “Vital e Sua Moto”, o sucesso da fita demo nas ondas da Fluminense FM abrir a noite deste primeiro domingão do Palco Mundo com o público indo tocar na Capital sem medo de ser feliz.

Por isso, também, “Inútil”, do Ultraje a Rigor, é logo a segunda. A música foi tocada na edição de 1985 como uma forma de protestar contra a organização do festival que deixou de fora da programação um punhado de bandas novas que apareciam no Brasil. Um engajado Herbert Vianna, em pleno show do festival, mandou um discurso a favor das bandas novas emendando com aquele que seria o chamado hino da Nova República. Trinta anos depois, e em data festiva, não custa incluir esse pedaço da história, assim como o encerramento, com que “Que País é Este”, que o Paralamas tomou da Legião Urbana em 1999 e não devolveu mais. Antes, o baterista João Barone alerta que esse Brasil pode, sim, ser melhor, reforçando a marca de toda uma geração.

É também esse o motivo de a banda subir ao palco com a formação clássica, inicial, crua de trio, que além de Herbert e Barone, tem o rei do groove Bi Ribeiro. As siamesas “Cinema Mudo” e “Ska” aparecem, então, juntas, com o tecladista João Fera (tem nome melhor?) e o naipe de metais que há anos acompanha o Paralamas. Como é o repertório da turnê de aniversário, mas o tempo do show é de uma horinha só, o resultado é um supra sumo de 16 músicas, muitas emendadas umas nas outras ou tocadas em um ritmo mais acelerado; na versão completa, o grupo chega a tocar 30 números ou mais (veja como foi em Brasília, no Porão do Rock, em 2013).

A adesão da plateia ao repertório é plena, mas é possível observar peculiaridades como os braços erguidos espontaneamente na romântica “Cuide Bem do Seu Amor”, deixando Herbert tocado; na cantoria ostensiva de “A Novidade”, que não por acaso vem colada em “Você”, de Tim Maia, já que ambas são do mesmo álbum; e no arremate com a poderosa trinca “Lourinha Bombril”/”Alagados”/”Que País é Este”. Musicalmente, além da destreza de um músico monstruoso como Barone, realça o peso e o groove da dobradinha “O Beco”, com a generosa contribuição do naipe de metais, e “Caleidoscópio”, que tem até um mini solo de bateria, como se fosse novidade.

Herbert, que chamava a atenção naquele mesmo 1985 por chamar o guitarrista do AC/DC, Angus Young, de dedo duro, segue mostrando que, se é legítimo condensador de ritmos de todas as partes do Globo, segue como ótimo instrumentista. Seus solos continuam atuais e repletos de feeling, como os de “Caleidoscópio (de novo) e na ótima “Lanterna dos Afogados”. Todas as músicas são tocadas com o complemento em vídeo no telão com farto material de memorabília da banda, de modo que cada um pode se identificar com cada fase, aquela coisa do tipo “naquele ano eu tava fazendo aquilo” tipica dos reencontros de velhos amigos e de aniversários de longa data. Como o Paralamas e o Rock In Rio, feitos um para o outro há 30 anos.

Set list completo

1- Vital e Sua Moto
2- Inútil
3- O Calibre
4- Cinema Mudo
5- Ska
6- Cuide Bem do Seu Amor
7- Aonde Quer Que Eu Vá
8- Lanterna dos Afogados
9- Meu Erro
10- Óculos
11- Você
12- A Novidade
13- Melô do Marinheiro
14- O Beco
15- Caleidoscópio
16- Uma Brasileira
17- Lourinha Bombril
18- Alagados
19- Que País é Este

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