O Homem Baile

Gaiato

Rod Stewart traz cabaré démodé para o Rock In Rio que inclui super banda repleta de mulheres bonitas e talentosas; só faltou a voz. Fotos Divulgação Rock In Rio: David Argentino/I Hate Flash (1), Rodrigo Esper/I Hate Flash (2) e Jorge Hely/Estácio (3 e 4).

Figuraça: Rod Stewart se aproxima da plateia no início do show, trajando o cássico figurino branco

Figuraça: Rod Stewart se aproxima da plateia no início do show, trajando o cássico figurino branco

Se esta edição do Rock In Rio é para comemorar o aniversário de 30 anos, Rod Stewart entra no time dos nostálgicos não só porque esteve no festival em 1985, mas para levar o público a uma viagem sem volta a eternamente decandente Las Vegas. Com a responsabilidade de fechar a noite do domingo, uma das mais tranquilas, diga-se de passagem, Rod lota o palco com uma super banda que inclui belas e talentosas mulheres que executam as mais diversas funções. Com figurino de melindrosa em várias versões, elas cantam, tocam percussão, violino, harpa e o escambau, ante a um Rod Stewart gaiato que passa o tempo todo não mais como um sedutor malandro, mas fazendo as vezes de um adorável fanfarrão. Parece roteiro dede filme de época, e é.

A citação à Las Vegas não é ao acaso, já que Rod Stewart tem feito sucessivas temporadas por lá, e, nos últimos tempos, lançou um sem números de álbuns interpretando clássicos da música americana e gravou até outro com temas natalinos. Assim, resolveu trazer ao Rio o clima de Vegas, e, para tanto, elaborou um repertório que também açambarca hits de sua carreira para os mortais que nada têm a ver com isso. Um dos grandes momentos do show, então, é em “Da Ya Think I’m Sexy?”, quando todos os integrantes da banda, exceto o baterista, se alinham na beirada do palco e Rod anda de lado a outro contagiando todo mundo. Numa versão quase disco, a música, “tomada emprestada” de Jorge Ben, para dizer o mínimo, tem arranjo contagiante para o encerramento.

Vista geral da bandaça de Rod Stewart, que, contudo, não enquadra todos os cerca de 20 integrantes

Vista geral da bandaça de Rod Stewart, que, contudo, não enquadra todos os cerca de 20 integrantes

O que pega é que a voz sedutora de Rod Stewart, 70, já não sai do gogó com a potência e o alcance de antes. Em várias partes do show, ele canta e a voz simplesmente não comparece. Daí que as moças que o acompanham se tornam indispensáveis e mandam muito bem, sobretudo o trio que vai até a ponta da passarela, no meio do público, em “Rythym Of My Heart”, num belo encerramento. E é para descansar a voz e tomar um ar que o cantor vai e volta do camarim várias vezes, não só pra substituir um figurino démodé (um terno dourado, por exemplo), por outro. Nesse meio tempo, a banda dá um espetáculo de percussão em “Forever Young” (não a do Alphaville, que cairia muito bem nesse contexto) e em “I’m Every Woman”, de Chaka Khan, Rod não aparece e as moças arrasam mais uma vez, com o telão mostrando, com propriedade, imagens do seriado “As Panteras”.

É curta, também a apresentação, com 16 músicas em cerca de uma hora e vinte minutos, menos inclusive do que o show de Elton John, que antecedeu Rod. Mas dá tempo para uma do Faces, já que a sede é grande às vésperas de uma turnê de reunião do seminal grupo do final dos anos 60, do qual o cantor fez parte. A música é escolhida é “Stay With Me”, e a facilidade de assimilação do refrão reflete bem a animação da plateia. Em “Maggie May”, um clássico absoluto, Rod Stewart já está de preto com a bandeira do Celtic, time escocês pelo qual torce, presa na cintura. É o escudo do time que também estampa o bumbo da bateria, e, ainda dentro das quatro linhas, durante “Stay With Me”, o cantor chuta ele próprio um punhado de bolas de futebol, todas autografadas, para o público disputar na intermediária (nada) adversária.

Rod aproveita o intervalo vocal para descansar sentando no colo de uma das belas vocalistas

Rod aproveita o intervalo vocal para descansar sentando no colo de uma das belas vocalistas

É esse lado gaiato, repita-se, que marca a nova passagem pelo Rock In Rio com muito bom humor. Na versão mais intimista para “The First Cut Is the Deepest”, de Cat Stevens, ele senta no colo de uma das cantoras; numa das voltas do camarim, surge como um bêbado desajeitado arrumando a gola mal dobrada; entre as várias mudanças de palco, ensaia uma “patolada” em um dos ajudantes; e, enfim, se diverte com o público ao jamais se levar a sério. Medida acertada, uma vez que, seriedade, num show desse tipo, não tem a mínima serventia. Porque se fosse assim seria melhor pensar em mais repertório próprio e menos releituras, mas aí não seria esse Rod Stewart. De certo modo, ele marca um golaço ao não se mirar em 1985 e mostrar o que anda fazendo atualmente, para o bem ou para o mal.

Set list completo:

1- Having a Party
2- It’s a Heartache
3- This Old Heart of Mine (Is Weak for You)
4- Tonight’s the Night (Gonna Be Alright)
5- Have Ever Seen The Rain?
6- Rythym Of My Heart
7- Forever Young
8- The First Cut Is the Deepest
9- I Don’t Wanna Talk About It
10- Baby Jane
11- I’m Every Woman
12- You’re in My Heart (The Final Acclaim)
13- Maggie May
14- Stay With Me
15- Da Ya Think I’m Sexy?
Bis
15- Sailing

Curtiu: toda a simpatia do veterao Rod Stewart, cuja qualidade primordial é não se levar nada a sério

Curtiu: toda a simpatia do veterao Rod Stewart, cuja qualidade primordial é não se levar nada a sério

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado