Passou da hora
No Rock In Rio com atraso, Mötley Crüe tem apresentação apenas satisfatória, com pirotecnia, cantoras lascivas e vocalista sem fôlego. Fotos: Divulgação Rock In Rio.
Já na entrada, na primeira música, o blockbuster “Girls, Girls, Girls”, o vocalista Vince Neil entra no gás, com boa movimentação, apesar dos quilões a mais - e não é de hoje -, quase flutuando de lado a outro do palcão. Só que, ao cantar, ele parece fazer um esforço hercúleo para buscar um resto de fôlego que mal consegue alcançar. E, muitas vezes, o que surge nas caixas é um fiapo de voz de desanimar até o menos atento dos fãs. Como o procedimento é intermitente, e dependendo de onde se esteja no meio da multidão e do amor envolvido, há que não perceba. Ou, ainda, tem as moças para encorpar com os backing vocals; honra seja feita, elas pegam firme no pesado.
Como é a turnê de despedida, o repertório é de clássicos, mas, olhando mais amiúde, é mais ou menos o mesmo tocado pela banda há cerca de quatro anos, quando o Mötley passou por São Paulo (veja como foi). Ou seja, apesar de esse giro ser o derradeiro e iniciado no ano passado, na prática ele antecede a si próprio já há algum tempo. Voz ruim, som bom. Em “Primal Scream”, começa a aparecer a guitarra de Mick Mars, que enfileira evoluções que culminam em um solo mais arrojado do que o de habito. De tez clara e coberto de roupa preta, sem qualquer expressão, Mars parece um boneco de cera ambulante do qual há pouco a se esperar; ledo engano.
Dos quatro, Tommy Lee é o mais inteiro, e mantém a pegada clássica do grupo. No final, em um inesperado bis, ele ainda toca piano em “Home Sweet Home”, junto com Neil, em um clima de melancólica despedida que condiz com o tema da turnê, por assim dizer. O baixista e figuraça Nikki Sixx não é de passar despercebido, e, em “Shout At The Devil”, uma em que o público mais participa, agitando ou no refrão propriamente dito, ele aparece com um lança chamas acoplado ao instrumento e se diverte, aumentando mais ainda a temperatura, literalmente, no palco. No final do show, antes do bis, Sixx desce no fosso e entrega o baixo de presente a um fã que passou o show colado na grade. Belo gesto e bela recompensa.Coisa que não se pode imaginar no caso de Mars, não por falta de generosidade, mas sua guitarra surrada parece ter muita história para contar para ser dispensada. O guitarrista tem 10 minutos para solar e segue mostrando a versatilidade que poucos possuem dentro do hard rock, ainda mais no mais estigmatizado como o Mötley Crüe. Em “Saints Of Los Angeles”, a banda toda vai muito bem, numa das melhores performances da noite, contando com boa participação da plateia, que não se apequena ante aos fãs do Metallica, em notória maioria. Outros destaques do set são “Wild Side”, de novo graças a Miki Mars; “Dr. Feel Good”, outra corroborada pelo público, e o clássico dos Sex Pistols, “Anarchy In The UK”. No fim das contas, se a sensação é de que o Mötley Crüe só deu as caras por aqui depois da hora certa, até que o show convenceu.
Set list completo1- Girls, Girls, Girls
2- Wild Side
3- Primal Scream
4- Same O’ Situation
5- Don’t Go Away (Just Go Away)
6- Smokin’ In the Boys’ Room
7- Looks That Kill
8- Anarchy In The UK
9- Shout at the Devil
10- Solo de guitarra
11- Saints Of Los Angeles
12- Live Wire
13- Dr. Feel Good
14- Kickstart My Heart
Bis
15- Home Sweet Home
Tags desse texto: Mötley Crüe, Rock In Rio
Esse show foi divertidissimo.
Imagino que poderia ter rendido bem mais num ambiente fechado e com os fãs mais próximos.
Ainda bem que vieram para o Rio antes de acabar.
Esse show tava faltando no meu CV.