Festa boa
Show do Pearl Jam no Rio tem integrantes do Red Hot Chili Peppers, música nova, porre de vinho e anfitrião mal-educado. Fotos: Vinicius Pereira.
Explica-se que, assim como o Pearl Jam e o Royal Blood, que fez o show de abertura (veja como foi), o Red Hot é uma das atrações principias do Lollapalooza, que acontece nesse final de semana, em São Paulo. Na primeira parte do show, Chad, como quem não quer nada, já espancava espancou um agogô em “Can’t Deny Me”, a música nova do PJ, lançada há cerca de uma semana, que fornece um élan de renovação ao grupo, revelado no grunge noventista, mas cada dia mais identificado com o novo classic rock. Daí o riff e o andamento da música, com um groove, ser fortemente influenciada pelos bons e velhos anos 70. A plateia, acomodada de um modo geral, mais se faz de boquiaberta do que outra coisa, mas se essa é uma boa amostra do novo álbum, previsto para ainda esse ano, a coisa vai muito bem obrigado. O delírio acontece, de verdade, nas músicas do multiplatinado álbum de estreia da banda, “Ten”, lançado em 1991, e que, para aquele público mais amplo, do jornaleiro ao segurança, é o que realmente importa.
O show, portanto, não faz parte de turnê de lançamento de nenhum disco – nem precisa -, e mira na apresentação de boas músicas lançadas pela banda em todos esses anos, incluindo também aquelas menos conhecidas, de fases nem tão virtuosas, mas que caem bem em meio ao embaralhamento que eles fazem ao modificar drasticamente o repertório noite após noite; o que é ótimo (relembre como foi em 2005, 2011, 2013 e 2015). Assim, aparecem a quase punk “All Night” que muda o cenário de um início arrastado, ao ser colada em “Go”; e a sensível “Garden”, que é do tal disco de estreia, mas pouca gente sabe disso, costurada por um belíssimo solo de Mike McCready, uma constante, por sinal, em toda a noite. Uma pena o álbum “Backspacer”, de 2009, um dos melhores entre os mais recentes, ter sido totalmente esquecido.Detalhes que não preocupam uma banda sui generis que agrada a segmentos os mais diversos, sem recuar, de um modo geral, no quesito qualidade das músicas, ou cair na tentação da repetição popularesca. Vejam que, abraçado ao classic rock e tocando clássicos, o PJ mantém intacta a reverência indie, o que decerto não é pouco. Músicas requentadas, o cenário é criativo, com globos iluminados que sobem e descem com variação de cores, alternando-se com barras luminosas grudadas em instalações de aço que parecem pequenas locomotivas. No fundo do palco, sem telão, outras instalações metálicas, com espécie de sucata dão o tom, e, nas laterais, os canhões de luz estão dentro de bolhas de plástico. Tudo muito simples e funcionando muito bem, de acordo com o clima de cada música e - graças aos céus – sem a óbvia chuva de papel picado.
Não se pode negar, ainda, que trata-se de uma banda altamente identificada com o palco. O que fazem Stone Gossard, repita-se, um dos maiores guitarra base do rock, e o baterista Matt Cameron, verdadeira usina rítmica, não está no gibi. McCready, possesso na maior parte do tempo, toca com a guitarra nas costas (literalmente) em “Even Flow”; usa um modelo double neck, um braço com 12, outro com seis cordas, com maestria em “Inside Job”; e insiste em um modelo surrado pelo tempo em várias músicas, sempre ecoando ícones coo Jimi Hendrix e até Eddie Van Halen – as vezes, toca a íntegra de “Eruption”. Se o baixista Jeff Ament, apelidado de xerife por Eddie Vedder – e pegou a ponto de o público gritar o nome – é discretíssimo, e o tecladista Boom Gaspar é quase inaudível em meio à potencia sonora da banda no palco, Vedder é carisma em estado bruto.Desce várias vezes no fosso que separa o palco do público, e o telão mostra o pedido de casamento de uma incauta com a aliança e tudo; exibe uma “garrafa de vinho grande para um show grande”, embora beba mais uma antes de o show acabar; segue lendo mensagens em português e dedica “Leaving Here” para as mulheres, mas não se refere à execução da vereadora Marielle Franco e ao cartaz do show com tucanos com roupa militar em favelas, como se esperava; toca guitarra de vez em quando, e, ao errar, é motivo de diversão; e ainda - vamos e venhamos - segue cantando pra dedéu. As músicas em que o público mais participa são, ente outras, “Do The Evoution”; “Even Flow”, “Mind Your Manners”, “Black” e a dobradinha “Alive”/“Rockin’ in the Free World”, com os Peppers a fim de roubar a festa. Porque, em quase três horas de show, com as luzes acesas do Maracanã sugerindo o encerramento (coisa feia!), teve muita diversão. Como sempre em um show do Pearl Jam.
Set list completo:1- Release
2- Low Light
3- Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
4- Go
5- All Night
6- Animal
7- Given to Fly
8- In Hiding
9- Jeremy
10- Corduroy
11- Even Flow
13- Wishlist
14- Mind Your Manners
15- Lightning Bolt
16- Garden
17- Can’t Deny Me
18- Porch
Bis
19- Sleeping by Myself
20- Inside Job
21- Daughter
22- Do the Evolution
23- Black
24- Leaving Here
25- Blood
26- Better Man
27- Alive
28- Rockin’ in the Free World
29- Yellow Ledbetter
Tags desse texto: Lollapalooza, Pearl Jam