O Homem Baile

Brilho inabalável

Pearl Jam fecha Lollapalooza com apresentação explosiva e maior público do festival, mas turnê de 2011 não é superada. Foto: Fabrício Vianna.

pearljamlolla13Olhando para trás é impossível não fazer a comparação com os incríveis shows do Pearl Jam no Brasil em 2011. O palco, diga-se de passagem, é o mesmo, mas o tempo de duração da apresentação é menor, para poder encaixar o grupo, muito maior que o próprio Lollapalooza, dentro do festival. Tempo menor, sim; pequeno, jamais. Tanto que Eddie Vedder e cia mandaram 26 músicas em exatas duas horas e 15 minutos. “Só” umas quatro músicas e meia horinha a menos, o que, se não deve fazer tanta diferença assim, reafirma a turnê de 2011 como a melhor do grupo em todos os tempos no Brasil, em que pese esta vinda ter sido apenas a terceira. Clique aqui e veja como foi o show do Rio.

De novidade mesmo, não teve nada. Diferentemente do Queens Of The Stone Age, que no sábado mandou uma música inédita (saiba mais), o Pearl Jam não mostrou nada do material novo, no qual eles juram que já estão trabalhando há pelo menos um ano; já há quem divide. Acontece que a expressão “mais do mesmo’, no caso do Pearl Jam, nunca é algo decepcionante, e a apresentação do Lolla seguramente está entre as melhores desta edição. Porque estavam lá o repertório consagrado, as guitarradas enlouquecidas de Mike McCredy, a bateria massacrante de Matt Cameron, que não envelhece nunca, o carisma de Eddie Vedder, e – claro – um público disposto a interagir com uma das melhores apresentações ao vivo de que se tem notícia.

Vedder, beberrão incorrigível, se esforça para falar em português lido e agradece a um sem número de bandas que tocaram no festival; dá boa Páscoa aos brasileiros, em forma de um “chocolate” chamado “Olé”, a última música nova mostrada pela banda, lá pelos idos de 2010; e ainda discursa em favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, misturando tudo na letra de “Better Man”. “Toda vez que venho ao Brasil me lembro do meu amigo Joey”, diz ele, se referindo ao líder dos Ramones, morto em 2001. Isso porque Vedder pisou em solo brasileiro pela primeira vez como um roadie/vídeo maker oculto dos Ramones, em 1996, e quando já era famoso. É quando o grupo, já no bis, manda a sensacional “I Belive In Miracles”, um dos dois covers da noite.

O formato do show é também o mesmo, com o ajuste de dois bis para um, maior, em função do tempo disponível. O Pearl Jam é o tipo de banda que desafia fórmulas de se encaixar músicas no set list e ninguém reclama, por exemplo, de um começo mais lento e arrastado. Mesmo porque, de uma forma geral, cada um que está ali de frente para o palco – o público chegou a 60 mil no domingo – sabe que, em algum momento, as suas preferidas vão chegar. E chegam. Primeiro, “Do The Evolution”, cujo “baby” gritado no final do verso/refrão confere certa agressividade. Quem sola, inadvertidamente, é o guitarrista base padrão do rock, Stone Gossard. A primeira a arrastar o público pra valer é “Even Flow”, quando Mike McCready desanda a solar, exibindo um moicano cada vez menos punk e mais craque de bola.

Parece até regra: quanto mais clássica a canção, mais os caras improvisam e mais o público enlouquece. Vai ver é uma forma de permanecer tocando sempre as mesmas músicas – que no fundo é o que todo mundo quer -, mas sempre com algo de novo, fora do roteiro. É o que faz de “Alive”, clássico dos clássicos, uma experiência quase transcendental. É o rock saindo das guitarras, batendo forte no peito de cada um na plateia e voltando com força redobrada ao palco: pura energia em estado de elevação. Mesmo “Black”, num clima em tese mais tranquilo, McCready saca uma guitarra retirada da tumba do Faraó e comanda uma jam inapelável. Em “Daughter”, Vedder vê um gigantesco “ôôô” se espalhar pelo gogó do povão, enquanto corre de lado a outro do palco.

A camiseta por baixo da worker shirt usada por Eddie Vedder entregava desde o início que o outro cover da noite seria para “Baba O’Rilley”, do The Who. Essas versões, sempre explosivas, são uma forma de o PJ se inserir na história do rock e recrutar cada vez mais gente para as fontes sempre cruciais para a banda. Ainda deu tempo para um momento intimista, com músicos sentados na beirada do palco ao som dos dedilhados de “Yellow Ledbetter”. Um rescaldo emocional para encerrar o filme dos três dias intensos do festival. Agora é esperar a próxima turnê solo no Brasil.

Set list completo

1- Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
2- Why Go
3- Corduroy
4- Comatose
5- Olé
6- Do the Evolution
7- Wishlist
8- Got Some
9- Even Flow
10- Nothingman
11- Insignificance
12- Daughter
13- World Wide Suicide
14- Jeremy
15- Unthought Known
16- State of Love and Trust
17- Rearviewmirror
Bis
18-Given to Fly
19- Not for You
20- Better Man
21- Black
22- I Believe in Miracles
23- Go
24- Alive
25- Baba O’Riley
26- Yellow Ledbetter

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. bernardo em abril 1, 2013 às 14:54
    #1

    Bela resenha! Parabéns pela edição! Muito bom mesmo, só fico triste pelo fato de banda ter vetado a transmissão ao vivo pela TV. A Multishow tinha que se pronunciar oficialmente sobre o ocorrido, um verdadeiro mico, mas o que esperar da Globosat né? É isso mesmo.

  2. bernardo em abril 1, 2013 às 14:55
    #2

    Parabéns pela matéria! PJ é igual vinho, quanto mais velho, melhor fica! Valeu, Rock em Geral!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado