Subindo no elevador
Em horário mais generoso, Far From Alaska e Almirante Shiva voltam ao Porão do Rock e mostram evolução. Fotos Divulgação Porão do Rock: Gerdan Wesley (1, 2 e 3) e Alessandro Dantas (4)
Principalmente o Far From Alaska, que segue tocando as músicas do disco de estreia, “modeHuman”, em shows a torto e a direito por esse Brasil varonil e até no exterior. Por conta disso, o som deles está mais arredondado e encorpado, e também mais conhecido para uma quantidade bastante significativa de público que se debruça sobre as grades cantando tudo o que é música na ponta da língua. Um belo retrato de como uma banda pode evoluir, apesar das intempéries do mercado musical brasileiro desses tempos estranhos. E os integrantes não parecem deslumbrados com as circunstâncias, o que garante aquele showzão que todo mundo que tá ligado na banda espera, mas, mesmo assim se surpreende. Não é mole, não.
Assim, músicas como “Thievery”, logo no começo, e “Comunication” aparecem pesadas pra caramba e com o som – ainda tem mais essa – alto e com ótima equalização, o que nem sempre é possível para uma sonoridade calcada em efeitos de todo o tipo. Vai ver que é por isso que o semblante de Cris Botarelli, a ex-lourinha que canta e toca teclados, é tão pra cima quanto o de Emmily Barreto, sempre a mostrar simpatia nessa ou naquela fala. O quinteto, completado por Rafael Brasil (guitarra), Edu Filgueira (baixo) e Lauro Kirsch (bateria), poderia até mostrar uma ou outra música que está sendo preparada para o segundo álbum, mas eles preferem reforçar o status de “voltamos melhores”. E aí “About Knives”, que bem sintetiza o FFA, e “Dino Vs Dino” tiram onda de hit sem muita dificuldade. E o grupo ainda teve um tempinho extra para tocar em função de um ajuste de horário do festival. É ou não é uma bela promoção de 2014 pra cá?
Tocando entre as atrações principais, o Almirante Shiva se reafirma como uma das boas revelações do rock de Brasília. O trio, dado a experimentações de sonoridade setentista, mas ao mesmo tempo sem soar demodê, mostra o som ajustado a cada música, muito embora mude de formação entre si. Na primeira parte, é o guitarrista Carlos Beleza quem canta, além de tocar de modo performático. Em “Foco”, faixa-título e uma das melhores do segundo EP, mas já conhecida da turma, depois de esmerilhar a guitarra, lança a coitada no chão e inicia uma inacreditável surra de cinto de couro, coadjuvado por viradas e mais viradas do batera Marlon Tugdual. Parece farra – e é -, mas Beleza toca pra valer, coroando a psicodelia de alto impacto do trio.Na segunda parte, o baixista Pedro Souto passa para a guitarra, deixando Carlos Beleza no baixo. É Souto quem empunha a invenção mais importante do século 20, na beirada do palco, já em “Zanque Dzi”. Ele também não deixa barato e esmerilha tudo, mesmo em músicas mais lentas incluídas no set curto, mas bem aproveitado. Em “Fuzzy-Changa”, que abre o EP “Foco”, a quebradeira é geral, numa prova matemática de que, para o Almirante Shiva, a ordem dos instrumentos não altera o esporro obtido. Nem o título das músicas ou como elas são tocadas; é satisfação garantida do início ao fim, e resta saber em que posição o grupo vai estar em edições futuras do Porão do Rock.
O guitarrista Carlos Beleza, contudo, não está de bobeira, e toca ainda em duas outras bandas nessa edição. Uma delas, e que faz parte do mesmo rol da nova onda pscicodélica de Brasília, é o Joe Silhueta. Com menos sorte, o grupo teve que passar por uma seletiva para tocar bem cedo, em um dos palcos principais. A banda, liderada por Guilherme Cobelo, que canta e toca violão, é espécie de supergrupo que tem ainda Gaivota Neves, a aturdida vocalista Rios Voadores, Kelton Gomes, baixista que tem carreira solo, e o batera do Almirante Shiva, Marlon Tugdual. O show é um dos melhores entre as atrações iniciais do festival, com destaque para as variações que servem de fonte para a banda e vão desde o maracatu e o rock antes do rock de Alceu Valença e Ednardo, até as guitarras setentistas de baixo impacto. Banda pra ficar de olho.
O outro grupo que tem Carlos Beleza em ação é o Os Til – percebam o trocadilho -, liderado pelo vocalista Telo, parceiro do Raimundos desde os primórdios. Por isso mesmo, a banda é espécie de filial do Raimundos e soa como uma simulação real de o que aconteceria se o grupo não tivesse trilhado o caminho do sucesso. Tocando também cedo, só que no Palco Pesado, a acolhida é das melhores. Por isso, uma das músicas se chama “Raimundeiro”, outra é “Severina Chique-Chique”, de Genival Lacerda, e o som é pesado, mistura de hardcore com metal. Nas duas últimas músicas o público pira com a entrada do baterista Fred Castro, da formação clássica do Raimundos. São elas “Mas Vó” e “Palhas do Coqueiro”, ambas com a letra assinada por Telo. Como não existe Porão do Rock sem Raimundos, eis aí o registro.Set list completo Far From Alaska:
1- Thievery
2- Another Round
3- Deadmen
4- Politiks
5- Rolling Dice
6- Communication
7- About Knives
8- Dino Vs Dino
9- Monochrome
Bis
10- Improvisação
Clique aqui para ver como foram os shows de Planet Hemp, Boogarins, Os Gatunos, My Last Bike e Darshan
Clique aqui para ver como foram os shows de Voodoopriest, Zumbis do espaço e Nafandus no Porão do Rock 2016
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