O Homem Baile

Subindo no elevador

Em horário mais generoso, Far From Alaska e Almirante Shiva voltam ao Porão do Rock e mostram evolução. Fotos Divulgação Porão do Rock: Gerdan Wesley (1, 2 e 3) e Alessandro Dantas (4)

Olho vivo: uma das vocalistas do Far From Alaska, Emmily Barreto, começa o show usando óculos

Olho vivo: uma das vocalistas do Far From Alaska, Emmily Barreto, começa o show usando óculos

Em 2014, a curiosidade predominante no trajeto de van do hotel para o palco sobre como pode ser o show do Porão do Rock. Tocando com o dia claro na ocasião, o Far From Alaska teve branda receptividade, muito por conta do amplo desconhecimento de causa de quem chegou cedo (relembre). Agora, não. Na edição deste sábado (29/10), no mesmo local, o grupo é recebido com pompa e circunstância. Por situação semelhante passa o Almirante Shiva, de Brasília mesmo. No ano passado, ainda que tocando cedo demais, acabou por sair como um dos destaques do festival (veja como foi), e, agora, toca já na madrugada de domingo. Em comum, e guardadas as devidas proporções, as duas bandas têm mais ou menos o mesmo repertório, só que, por conta da experiência, estão bem melhores.

Principalmente o Far From Alaska, que segue tocando as músicas do disco de estreia, “modeHuman”, em shows a torto e a direito por esse Brasil varonil e até no exterior. Por conta disso, o som deles está mais arredondado e encorpado, e também mais conhecido para uma quantidade bastante significativa de público que se debruça sobre as grades cantando tudo o que é música na ponta da língua. Um belo retrato de como uma banda pode evoluir, apesar das intempéries do mercado musical brasileiro desses tempos estranhos. E os integrantes não parecem deslumbrados com as circunstâncias, o que garante aquele showzão que todo mundo que tá ligado na banda espera, mas, mesmo assim se surpreende. Não é mole, não.

Assim, músicas como “Thievery”, logo no começo, e “Comunication” aparecem pesadas pra caramba e com o som – ainda tem mais essa – alto e com ótima equalização, o que nem sempre é possível para uma sonoridade calcada em efeitos de todo o tipo. Vai ver que é por isso que o semblante de Cris Botarelli, a ex-lourinha que canta e toca teclados, é tão pra cima quanto o de Emmily Barreto, sempre a mostrar simpatia nessa ou naquela fala. O quinteto, completado por Rafael Brasil (guitarra), Edu Filgueira (baixo) e Lauro Kirsch (bateria), poderia até mostrar uma ou outra música que está sendo preparada para o segundo álbum, mas eles preferem reforçar o status de “voltamos melhores”. E aí “About Knives”, que bem sintetiza o FFA, e “Dino Vs Dino” tiram onda de hit sem muita dificuldade. E o grupo ainda teve um tempinho extra para tocar em função de um ajuste de horário do festival. É ou não é uma bela promoção de 2014 pra cá?

O guitarrista do Almirante Shiva, Carlos Beleza, que também tocou em outras duas bandas no Porão

O guitarrista do Almirante Shiva, Carlos Beleza, que também tocou em outras duas bandas no Porão

Tocando entre as atrações principais, o Almirante Shiva se reafirma como uma das boas revelações do rock de Brasília. O trio, dado a experimentações de sonoridade setentista, mas ao mesmo tempo sem soar demodê, mostra o som ajustado a cada música, muito embora mude de formação entre si. Na primeira parte, é o guitarrista Carlos Beleza quem canta, além de tocar de modo performático. Em “Foco”, faixa-título e uma das melhores do segundo EP, mas já conhecida da turma, depois de esmerilhar a guitarra, lança a coitada no chão e inicia uma inacreditável surra de cinto de couro, coadjuvado por viradas e mais viradas do batera Marlon Tugdual. Parece farra – e é -, mas Beleza toca pra valer, coroando a psicodelia de alto impacto do trio.

Na segunda parte, o baixista Pedro Souto passa para a guitarra, deixando Carlos Beleza no baixo. É Souto quem empunha a invenção mais importante do século 20, na beirada do palco, já em “Zanque Dzi”. Ele também não deixa barato e esmerilha tudo, mesmo em músicas mais lentas incluídas no set curto, mas bem aproveitado. Em “Fuzzy-Changa”, que abre o EP “Foco”, a quebradeira é geral, numa prova matemática de que, para o Almirante Shiva, a ordem dos instrumentos não altera o esporro obtido. Nem o título das músicas ou como elas são tocadas; é satisfação garantida do início ao fim, e resta saber em que posição o grupo vai estar em edições futuras do Porão do Rock.

O guitarrista Carlos Beleza, contudo, não está de bobeira, e toca ainda em duas outras bandas nessa edição. Uma delas, e que faz parte do mesmo rol da nova onda pscicodélica de Brasília, é o Joe Silhueta. Com menos sorte, o grupo teve que passar por uma seletiva para tocar bem cedo, em um dos palcos principais. A banda, liderada por Guilherme Cobelo, que canta e toca violão, é espécie de supergrupo que tem ainda Gaivota Neves, a aturdida vocalista Rios Voadores, Kelton Gomes, baixista que tem carreira solo, e o batera do Almirante Shiva, Marlon Tugdual. O show é um dos melhores entre as atrações iniciais do festival, com destaque para as variações que servem de fonte para a banda e vão desde o maracatu e o rock antes do rock de Alceu Valença e Ednardo, até as guitarras setentistas de baixo impacto. Banda pra ficar de olho.

Joe Silhueta, a superbanda da nova cena psicodélica de Brasília em ação, ainda com o dia claro

Joe Silhueta, a superbanda da nova cena psicodélica de Brasília em ação, ainda com o dia claro

O outro grupo que tem Carlos Beleza em ação é o Os Til – percebam o trocadilho -, liderado pelo vocalista Telo, parceiro do Raimundos desde os primórdios. Por isso mesmo, a banda é espécie de filial do Raimundos e soa como uma simulação real de o que aconteceria se o grupo não tivesse trilhado o caminho do sucesso. Tocando também cedo, só que no Palco Pesado, a acolhida é das melhores. Por isso, uma das músicas se chama “Raimundeiro”, outra é “Severina Chique-Chique”, de Genival Lacerda, e o som é pesado, mistura de hardcore com metal. Nas duas últimas músicas o público pira com a entrada do baterista Fred Castro, da formação clássica do Raimundos. São elas “Mas Vó” e “Palhas do Coqueiro”, ambas com a letra assinada por Telo. Como não existe Porão do Rock sem Raimundos, eis aí o registro.

Set list completo Far From Alaska:

1- Thievery
2- Another Round
3- Deadmen
4- Politiks
5- Rolling Dice
6- Communication
7- About Knives
8- Dino Vs Dino
9- Monochrome
Bis
10- Improvisação

O líder do Os Til, Telo, cuja parceria em várias músicas do Raimundos não passa desapercebida

O líder do Os Til, Telo, cuja parceria em várias músicas do Raimundos não passa desapercebida

Clique aqui para ver como foram os shows de Ira! e Nação Zumbi no Porão do Rock 2016

Clique aqui para ver como foram os shows de Planet Hemp, Boogarins, Os Gatunos, My Last Bike e Darshan

Clique aqui para ver como foram os shows de Voodoopriest, Zumbis do espaço e Nafandus no Porão do Rock 2016

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