O Homem Baile

Mortos e vivos

Voodoopriest e Zumbis do Espaço mostram duas faces da música pesada no Porão do Rock. Fotos Divulgação Porão do Rock: Alessandro Dantas (1, 2, 3 e 4) e Ana Luiza Sousa (5).

Voodoopriest: o baixista Bruno Pompeo, o vocalista Vitor Rodrigues e o guitarrista Renato De Luccas

Voodoopriest: o baixista Bruno Pompeo, o vocalista Vitor Rodrigues e o guitarrista Renato De Luccas

No Porão do Rock é assim. Enquanto as bandas de destaque tocam na sala da mansão, em dois palcos principais, sem parar, lá nos fundos do quintal o som extremo come solto no Palco Pesado, simultaneamente. Em uma edição em que a produção não opta pelos medalhões de sempre, o protagonismo se espalha entre nomes que buscam espaço e outros consagrados nos limites do underground. Com show durante a tarde, o Voodoo Priest, do primeiro grupo, e o Zumbis do Espaço, do segundo, com certa intercessão, ao menos nos nomes, fizeram ótimos shows no sábado (29/10) para agitar o parco público que ainda ia chegando sob nuvens carregadíssimas.

A entrada do Voodoopriest no palco é já com grande pegada, com os músicos mandando um thrash/death metal pesadíssimo e atualizado. O grupo tem como vocalista Vitor Rodrigues, frontman do Torture Squad por quase 20 anos, que mostra ótima forma, usando e abusando de variações de timbre, mas com ênfase nos vocais rasgados que o tipo de som pede. Nas introduções de algumas músicas e nas imagens do telão, temas indígenas dão o tom, já que boa parte do repertório está no primeiro álbum do grupo, “Mandu”, lançado em 2014, sob inspiração do líder indígena do século XVIII Mandu Landino. “Mandu”, a música, é uma traulitada na moleira que traz o metal pesado dos anos 90 para os dias de hoje com muita propriedade. E cresce muito ao vivo.

Bruno Pompeo e Vitor Rodrigues cantam juntos um dos temas inspirados no líder indígena Mandu Landino

Bruno Pompeo e Vitor Rodrigues cantam juntos um dos temas inspirados no líder indígena Mandu Landino

A dupla de guitarristas César Covero e Renato De Luccas, com passagem pelas bandas Nervochaos e Exhortation, respectivamente, duela em quase todas as músicas, seja caprichando nas evoluções melódicas ou em firme marcação que reforça o peso vocacional do quinteto. Na tensa “Kamakans”, de brutal velocidade que faz lembrar o Slayer dos primórdios, e interessantes mudanças de andamento, eles brilham em solos sobre solos e a plateia responde com os punhos erguidos característicos do heavy metal. Durante toda a apresentação rodas de pogo espocam no meio do público, ainda pequeno, durante a tarde, em comparação com o da noite. Ao todo, 15 mil pessoas passaram pelo festival, segundo os produtores.

Em “Warpath”, já na parte final do show, é a vez do baterista Edu Nicolini (Nitrominds/Musica Diablo) comandar o andamento em uma velocidade infernal, o que abre o precedente para o baixista Bruno Pompeo apostar corrida com César e Renato, e o resultado é fantástico. Uma paradinha no final reforça a demolição a serviço do esporro que move a banda. Antes de “Mandu”, o Voodopriest lançou um EP autointitulado em 2013, do qual fazem parte as músicas que completam o repertório desse show. É dele que sai “Juggernaut”, que encerra o set depois de 45 minutos de muita porrada, o suficiente para esse supergrupo do metal mostrar o cartão de visitas, no primeiro show em Brasília.

O vocalista do Zumbis do Espaço, Tor, no comando das canções vindas dos quintos dos infernos

O vocalista do Zumbis do Espaço, Tor, no comando das canções vindas dos quintos dos infernos

Com o Zumbis do Espaço não tem brincadeira. Ao saber que tocaria no Porão do Rock, o grupo, do interior de São Paulo, tratou de montar um set list com nada menos que 27 títulos. Como está prestes a completar 20 primaveras e tem um álbum novinho em folha no mercado, o que não falta é música para tocar. O tal disquinho – recomenda-se – tem com singelo título “Em Uma Missão de Satanás” e o quarteto não abre mão de fazer da tal missão dada, missão cumprida. Deles, são apresentadas três faixas, com destaque para “O Mal Imortal”, que sugere aquele cantarolar próprio das músicas do Zumbis, e a impagável “Inspirado Pelo Cão”, mais cadenciada, mas com ótima pegada e letra literalmente matadora.

Só pouco mais da metade das músicas entra no show, mas há espaço para grandes sucessos, por assim dizer – e o público reconhece – desses anos todos de punk rock, psychobilly e terror, tudo misturado. Caso de “Eu Me Tornei Um Mutante”, clonada de “Mother”, do Danzig; da romântica “Nos Braços da Vampira”, que a turma adora; e de, entre outras, “A Marca dos Três Noves Invertidos”, que inicia uma desenfreada correria no meio do público. O ponto alto do show, contudo, acontece quando o guitarrista Manialcöol empunha a guitarra na beirada do palco para tocar, sozinho, o sensacional riff de “Sua Última Oração”. A música, obra-prima da banda, contagia com força própria e emblematiza muito bem, nas palavras do vocalista Tor, “uma das últimas bandas de rock selvagem do mundo”. Showzão.

Zumbis do Espaço prestes a completar 20 anos: o baixista Gargoyle, Tor e o guitarrista Manialcöol

Zumbis do Espaço prestes a completar 20 anos: o baixista Gargoyle, Tor e o guitarrista Manialcöol

Revelação, por revelação, o Nafandus veio do Ceará e fez ótimo papel em um dos palcos principais do Porão. Com o som pesado e cheio de groove, o quarteto conta com a agressividade da vocalista Claudine Albuquerque. Sem explicação plausível, porém, a banda só tocou quatro músicas, com destaque para “Suncurse”, identificada com o Helmet e com citação de “Lamento Sertanejo”, de Dominguinhos, no início. Disposto a misturar som pesado com referências regionais, o grupo peca por não ter conseguido a medida certa entre uma coisa e outra, sem falar que, mal microfonada, a alfaia tocada por Claudine não produz o efeito esperado. Vamos ensaiar mais, pessoal.

Set list completo Voodoopriest:
1- Dominate And Kill
2- Religion In Flames
3- Aftermath (Of Mass Suicide)
4- Kamakans
5- Mandu
6- Warpath
7- Reborn
8- Juggernaut

Set list completo Zumbis do Espaço:
1- Terras de Sangue
2- O Mal Imortal
3- Casa dos Horrores
4- Sua Última Oração
5- Dia dos Mortos
6- Banho de Sangue
7- Eu Me Tornei Um Mutante
8- Inspirado Pelo Cão
9- Mato Por Prazer
10- O Chamado da Estrada
11- Jogos de Horror
12- A Marca dos Três Noves Invertidos
13- Nos Braços da Vampira
14- Que Venham os Mortos
15- O Mal Nunca Morre

A vocalista do Nafandus, Claudine Albuquerque, com o megafone: destaque nos palcos principais

A vocalista do Nafandus, Claudine Albuquerque, com o megafone: destaque nos palcos principais

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