O Homem Baile

Vôo alto

Quarenta anos depois Terreno Baldio estreia no Rio e é recebido com status de lenda na Mostra Internacional de Rock Progressivo. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista João Kurk se emocionou com a recepção da plateia da Mostra de Rock Progressivo

O vocalista João Kurk se emocionou com a recepção da plateia da Mostra de Rock Peogressivo

Dá para acreditar que o Terreno Baldio, um dois maiores nomes do rock progressivo nacional, com projeção no exterior, nunca tenha feito um único show no Rio? Pois a espera acabou ontem, na Mostra Internacional de Rock Progressivo. “Demorou, né?”, disse o vocalista João Kurk, logo no início, num misto de realização e emoção, dada a empolgação com que a plateia recebe o grupo, numa das apresentações mais acaloradas de todo o festival. O que só reafirma o status de lenda do rock progressivo da banda, em que pese a carreira encurtada e as dificuldades encontradas durante o show.

Isso porque, embora o ambiente fosse o melhor possível, de verdadeira aclamação e reconhecimento tardio, o grupo tem lá seus problemas no palco. O principal deles é o volume incrivelmente reduzido da guitarra do professor Mozart Mello, que ainda tem a seu desfavor o fato de tocar sentado, provavelmente por uma questão física. Como o palco do festival tem pouca altura, para muita gente no público nem guitarrista o Terreno Baldio tinha, não fosse por grandes intervenções em músicas como “Pássaro Azul” e “Loucuras de Amor”, nas quais a destreza do guitarrista foi confirmada em belos solos/evoluções. Até um sujeito no meio da plateia, que passa o show todo gritando “aumenta a guitarra!” é achincalhado pelos demais.

Cercado de teclados por todos os lados, Roberto Lazzarini foi o que mais sofreu com o forte calor do Rio

Cercado de teclados por todos os lados, Roberto Lazzarini foi o que mais sofreu com o forte calor do Rio

Assim, o show é dominado pelos outros instrumentos, sobretudo pelos teclados de um atarefado Roberto Lazzarini, que, sob a iluminação estática do festival, é o que mais sofre com o calor. Ele faz das suas em “O Vôo Sempre Continua”, uma das “novas”, com 20 anos de idade, cujo crescente arranca aplausos do público. Trata-se de uma bela peça instrumental com vários duelos entre os músicos. Outra sem vocais, “Eco Groove” realça o violino de Cássio Poletto – a canção é dele – e, como sugere o título, a firme marcação do baixista Geraldo Vieira, que antes teve direito a um momento solo, o único da noite. Com sotaque jazzístico, “Despertar” é outra em que uma linha de baixo dissonante se destaca. É fácil perceber que estamos diante de músicos talentosos que valorizam os arranjos das músicas com um bom gosto ímpar. E que as músicas – “compostas há 40 anos”, ressalta Mozart – permanecem ante às novas gerações.

O show é marcado pela emoção. Ao agradecer ao público, antes de “Velho Espelho” – hit na internet, diga-se -, Kurk segura as lágrimas e é aplaudido mais ainda. A música, com um tom épico, revela uma faceta do rock progressivo contagiante e derivada da música erudita: o crescente dramático que deságua num final em grande estilo. Acontece também na ótima “Grite”, cuja melodia destacada e o desfecho em tom quase marcial sugere a passagem de soldados por baixo do arco da vitória após o retorno de uma batalha. A voz de João Kurk, à rigor, perdeu muito agudo ao longo dos anos, mas ele – esperto - compensa com boa afinação e mudando o tom e o jeito de cantar, em que pese toda a emoção contida a cada intervenção.

Sentado, o professor Mozart Mello poucas vezes foi ouvido, mas também fez das suas em bons solos

Sentado, o professor Mozart Mello poucas vezes foi ouvido, mas também fez das suas em bons solos

O grande momento da noite vem com “Pássaro Azul”, um belo número do rock progressivo que, esticado ao vivo, recebe solos de quase todos os instrumentos, com excelentes transições de guitarra para teclado e várias citações ao genial Jean-Luc Ponty – a versão original da música não tem violino. É quando Kurk mostra uma impressionante entrega e, como a letra é fácil, o público responde com grande intensidade. No bis, quando a música é tocada de novo, é que a cantoria realça no meio do povão, em meio aos gritos à sem-terra de “Terreno! Terreno!”. Mas aí também é covardia, porque nunca se viu, na história do rock progressivo, uma plateia tão empolgada e “na mão” de uma banda como essa, que confere ao Terreno Baldio o definitivo status de lenda.

Set list completo:

1- Este é o Lugar
2- Água Que corre
3- Quando as Coisas Ganham Vida
4- Aqueloo
5- O Vôo Sempre Continua
6- Despertar
7- Solo baixo
8- Relógio de Sol
9- Pássaro Azul
10- Loucuras de Amor
11- Eco Groove
12- Saci Pererê
13- Velho Espelho
14- Grite
Bis
15- Pássaro Azul

Linha de frente do Terreno Baldio: o baixista Geraldo Vieira, João Kurk e o violinista Cássio Poletto

Linha de frente do Terreno Baldio: o baixista Geraldo Vieira, João Kurk e o violinista Cássio Poletto

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A Mostra Internacional de Rock Progressivo termina neste sábado, dia 1o, com o show do italiano Premiata Forneria Marconi. Abaixo, todos os detalhes:

Programação:
Hoje, sábado, dia 1/2, 21h: Premiata Forneria Marconi

Serviço:
Mostra Internacional de Rock Progressivo
Tenda CCBB na Praça dos Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro - Rio de Janeiro
Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Vendas: Bilheteria do CCBB, www.ingressorapido.com.br ou www.ingressomais.com.br
Início das vendas: 6 de janeiro
Capacidade: 600 pessoas
Formas de Pagamento: dinheiro e cartões Mastercad, Redeshop e Visa
Funcionamento da Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h
Informações: (21) 3808-2020

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Fabiano Farias em fevereiro 2, 2014 às 4:07
    #1

    Show ESPETACULAR. Só faltou tocarem “Caipora”, “Passaredo” e “Primavera”.

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