O Homem Baile

Monstro

Power trio liderado pelo baterista-lenda Carl Palmer esbanja virtuose e bom gosto em exibição de gala na Mostra Internacional de Rock Progressivo, no Rio. Fotos: Luciano Oliveira.

O baterista Carl Palmer fez de sua banda solo um power trio sensacional e reviveu momentos do ELP

O baterista Carl Palmer fez de sua banda solo um power trio sensacional e reviveu momentos do ELP

Em tese, a noite era a oportunidade única de se ver um show do Emerson, Lake & Palmer com guitarras no lugar dos teclados de Keith Emerson. Mas o que se viu ontem (18/1) na segunda noite da Mostra Internacional de Rock Progressivo, no Rio, foi muito mais que esse conceito simplista. Isso porque o baterista Carl Palmer trouxe ao festival um power trio sensacional, completado por músicos jovens, trinta e tantos anos mais novos que ele, e afiadíssimo. Com um repertório marcado por clássicos do ELP e múltiplas referências à música erudita - uma máxima no rock progressivo – o trio levantou a plateia que lotou a diminuta e acalorada tenda montada entre os centros culturais no centro da cidade.

Embora seja um baterista o elemento principal na banda, não se trata de uma apresentação majoritariamente percussiva. Palmer sabe muito bem o papel de seu instrumento, e embora passe boa parte das músicas inventando viradas, batidas e andamentos de surpresa (segura as baquetas como se fosse um músico de jazz), abre espaço para que seus cúmplices na empreitada mostrem serviço. É o que se vê logo da cara na abertura, com o clássico dos cinemas “Peter Gun”, de Henry Mancini, quando o guitarrista Paul Bielatowicz deixa a guitarra voar com peso e intensidade pra lá de convincentes. Na sequência, em “Karn Evil 9: 1st Impression, Part 2”, tema rocker-erudito do ELP, é a vez do baixista Simon Fitzpatrick soltar os dedos, como se dedilhasse o instrumento. Os dois ainda teriam direito a um momento solo cada, generosidade do dono da noite.

O guitarrista Paul Bielatowicz não esconde ser fã de Eddie Van Halen, no modo de tocar e na camiseta

O guitarrista Paul Bielatowicz não esconde ser fã de Eddie Van Halen, no modo de tocar e na camiseta

“Está alto o suficiente?”, pergunta Carl Palmer em um dos tantos intervalos em que vai até a beirada do palco falar com o público. Estava, sim, mas ficaria ainda mais, sobretudo com o uso de pedais de distorção de diversas procedências usados pela duplinha que o acompanha. É o que acontece, por exemplo, em “Mars, the Bringer of War”, que reserva inclusive, mini duelos entre os músicos, levando o público a uma incontida animação. Registre-se que o público de rock progressivo é em geral acanhando, até que a música, sobretudo instrumental e bem tocada, o faça explodir de felicidade. É o que acontece a cada filigrana técnica e/ou mudança de andamento imposta pela forma com que as canções são executadas, incluindo temas conhecidos como o de “Carmina Burana”, de fácil reconhecimento geral, num outro grande momento da noite.

Aos que sentiam falta da tecladeira de Keith Emerson, que costuma usar até facas ante o instrumento, mais de uma vez Bielatowicz usa efeitos que lembram um teclado, numa referência mais que apropriada. De tanto esmerilhar a guitarra durante as músicas, contudo, prefere um solo, digamos, neoclássico, com mais citações à música erudita, como um Yngwie Malmsteen em dias calmos. Mas a grande referência do moço, fisicamente parecido com Steve Howe, do Yes, é mesmo Eddie Van Halen, cuja imagem aparece estampada na própria camiseta, e o estilo devidamente aplicado nas cordas, com mão invertida para todo o lado. Tanto que um sujeito mais exaltado no meio do povão não se contém e pede “Eruption”, número de guitarra e marca registrada de Eddie, sem ser atendido.

O baixista Simon Fitzpatrick usou a base de 'Stairway to Heaven' para fazer o público cantar no solo

O baixista Simon Fitzpatrick usou a base de 'Stairway to Heaven' para fazer o público cantar no solo

O baixista Simon Fitzpatrick (até o nome desses caras são complicados) de seu lado, doido para tocar Iron Maiden, prefere na hora do solo fazer um número utilizando a melodia de “Stairway to Heaven”, a rainha das baladas, do Led Zeppelin. Usando muitos efeitos, incluindo uma espécie e bateria vindo dos pedais, ele faz o público cantar vários versos da música, numa verdadeira homenagem ao guitarrista Jimmy Page, que, se estivesse de bobeira ali pela Rio Branco iria adorar. Mas o que todos querem são os clássicos do Emerson Lake & Palmer, o que acontece com “Pictures at an Exhibition”, com o sotaque de power trio e ênfase nas guitarras que faz da peça algo altamente renovado, ou, como disse Palmer, “um pouco mais atual”. Embora o público pedisse “Tarkus”, e eles poderiam ter tocado, já que a música faz parte de ouros shows da turnê, é “Fanfare for the Common Man” a escolhida para o encerramento.

Se já não bastassem os cerca de 10 minutos de duração desse verdadeiro clássico do rock progressivo – a música é de Aaron Copland – é nela que Carl Palmer embute um número solo para ficar na memória. Em cerca de seis minutos, o baterista apresenta um número de percussão riquíssimo, com ênfase também nos pratos, aros, hastes e baquetas, sempre interagindo com o público com impagáveis expressões. Numa das passagens, faz uma baqueta “tocar sozinha” ao ser percutida pela outra. Mais que um exercício de pura virtuose aos 63 anos, trata-se de um número de entretenimento excepcional. E, como se sabe, no rock progressivo solo é exercício obrigatório. Sobra a discreta “Nutrocker” para o bis, mas a essa altura, com quase duas horas de power rio instrumental em volumes altíssimos, faz pouca diferença. Mais que um show, Carl Palmer comandou uma verdadeira exibição de rock instrumental e de bom gosto.

Carl Palmer, generoso, não monopoliza as atenções, mas também não abre mão de tocar, e com estilo

Carl Palmer, generoso, não monopoliza as atenções, mas também não abre mão de tocar, e com estilo

Set list (quase) completo:

1- Peter Gun Theme
2- Karn Evil 9: 1st Impression, Part 2
3- Knife-Edge
4- America
5- Mars, the Bringer of War
6- Solo de guitarra
7- Carmina Burana
8- Solo baixo
9- Toccata and Fugue in D Minor (a conferir)
10- Pictures at an Exhibition
11- Fanfare for the Common Man
Bis
12- Nutrocker

A Mostra Internacional de Rock Progressivo continua neste domingo (19/1), com o show do Tempus Fugit, e vai até o dia 1o de fevereiro. Abaixo, todos os detalhes:

Programação:
Hoje, domingo, dia 19, 21h: Tempus Fugit
Dia 24, sexta, 21h: Dialeto
Dia 25, sábado, 21h: Violeta de Outono
Dia 26, domingo, 21h: Calix
Dia 31, sexta, 21h: Terreno Baldio
Dia 1/2, sábado, 21h: Premiata Forneria Marconi

Serviço:
Mostra Internacional de Rock Progressivo
Tenda CCBB na Praça dos Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro - Rio de Janeiro
Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Vendas: Bilheteria do CCBB, www.ingressorapido.com.br ou www.ingressomais.com.br
Início das vendas: 6 de janeiro
Capacidade: 600 pessoas
Formas de Pagamento: dinheiro e cartões Mastercad, Redeshop e Visa
Funcionamento da Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h
Informações: (21) 3808-2020

O atento Carl Palmer presta atenção com cuidado ao tirar o som de sua bateria, de modo até improvável

O atento Carl Palmer presta atenção com cuidado ao tirar o som de sua bateria, de modo até improvável

Tags desse texto: , , ,

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Evandro em janeiro 19, 2014 às 17:13
    #1

    O EL&P também tem uma música chamada ‘Eruption’.

  2. Fabiano Farias em fevereiro 2, 2014 às 3:53
    #2

    Amigo, tocaram “The Barbarian” com toda certeza, eu estava lá.
    Um abraço! :)

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado