O Homem Baile

Para gregos e troianos

Violeta de Outono reencontra caloroso público carioca com repertório certeiro e é aclamado na Mostra Internacional de Rock Progressivo. Fotos: Daniel Croce.

O guitarrista Fábio Golfetti, remanescente da formação original do Violeta de Outono, dos anos 80

O guitarrista Fábio Golfetti, remanescente da formação original do Violeta de Outono, dos anos 80

Dá para dizer que o Violeta de Outono estava há quase sete anos em tocar no Rio, se deixarmos de lado o pouco concorrido show de novembro do ano passado, numa noite chuvosa com final de campeonato em Maracanã lotado (veja como foi). E, agora, os preços acessíveis (há relatos de tumulto na bilheteria, às oito da matina!) e a boa localização da Mostra Internacional de Rock Progressivo fizeram a tenda montada junto ao CCBB lotar. E certamente com o público mais diversificado de todo o festival, que já teve Carl Palmer na semana passada (leia aqui) e projeta o Premiata Forneria Marconi para a que vem.

Explica-se que existem ao menos dois Violetas de Outono. Um é aquele que nasceu junto com o revival psicodélico inglês dos anos 80 (leia-se o pós punk de Echo And The Bunnymen), e o outro o que flertou, namorou e casou com o rock progressivo, sobretudo a partir do lançamento do álbum “Volume 7” (resenha aqui), em 2007, quando o grupo passou a ter, inclusive, o tecladista Fernando Cardoso como integrante fixo. O que – diga-se – credencia o grupo para tocar em um evento de prog rock como esse. Fábio Golfetti, o homem por trás do Violeta e único integrante da formação original, percebe isso (a entrada dos músicos é pelo meio do público) e não titubeia ao montar um repertório ajustado com basicamente músicas dos anos 80, do “Volume 7”, e – claro -, do bom “Espectro”, lançado em 2012. Golaço.

O tecladista Fernando Cardoso, peça símbolo da guinada do Violeta para o rock progressivo

O tecladista Fernando Cardoso, peça símbolo da guinada do Violeta para o rock progressivo

Mas as coisas parecem ter sido decididas de momento. “Declínio de Maio”, por exemplo, não constava no repertório planejado pelo grupo e se percebe Fábio combinando com os demais integrantes, ali, na hora, o que fazer. Lembre-se que as músicas mais antigas foram gravadas sem teclado, o que deixa o grupo um pouco hesitante em situações desse tipo, em que pese as caras e bocas do “maestro” Fábio orientando a turma. Dá certo, porque versos sombrios como “Anjos procurando se esconder/Caídos no abismo, tentam se recolher” seguramente caem no gosto da turma de neo punks e pós punks que trajam preto com estampas de Joy Division e Bauhaus nas camisetas, e isso sem falar nos remanescentes dos anos 80, que saíram de suas catacumbas. Para se ter uma ideia, a abertura foi com “Dia Eterno” e o bis foi arrematado com “Outono”, dois hits radiofônicos daqueles tempos.

Também não há, do lado dos fãs de rock progressivo, quem tenha do que se queixar. As músicas do álbum “Espectro” comungam com a tonalidade do “Volume 7”, e o momento maior dessa integração se dá no encerramento, antes do bis, quando “Ondas Leves”, do primeiro, se junta a “Fronteira”, do segundo, conectadas por um solo do baterista José Luiz Dinóla (ex-Chave do Sol). O resultado é uma exuberante suíte progressiva que passa dos 20 minutos, e sem enrolação. É solo sobre solo, riff atrás de riff e aquele clima de improvisação delirante que toma conta do palco e deixa a plateia de queixo caído. Em “Pequenos Seres Errantes”, Fábio Golfetti usa a famosa “caneta”, hoje uma haste com curva e tudo, para vibrar as cordas da guitarra e fazer o efeito “glissante” característico do Violeta de Outono.

'Eu já sabia': o baixista Gabriel Costa admite que o Pink Floyd é a grande referência do quarteto

'Eu já sabia': o baixista Gabriel Costa admite que o Pink Floyd é a grande referência do quarteto

O guitarrista também não dá descanso ao dedal que resulta em lindos efeitos de “slide guitar”, espalhados pelas músicas. Com tantas nuances, o grupo é ovacionado várias vezes, revelando uma inesperada, em princípio, fusão de todas as tribos que compareceram ao festival. Em “Além do Sol”, discreta no show de novembro, o solo de teclado que precede o de guitarra revela outra faceta do prog rock e do próprio Violeta: a transição de um instrumento para outro. Quando o artifício dá certo, à custa de um arranjo rebuscado, funciona que é uma beleza. Ainda mais com a bela melodia que conduz a música e cola nos ouvidos de primeira. Outro grande momento da noite, em que pese as citações ao Caravan.

Mas “nunca foi segredo para ninguém que uma das referências do Violeta é o Pink Floyd”, diz o baixista Gabriel Costa no início do bis, antes de o grupo mandar “Arnold Layne”. Com ênfase na fase psicodélica de Syd Barret - dá para completar sem erro. Psicodelismo que fica latente na versão exuberante de “Tomorrow Never Knows”, composta pelos Beatles na fase “pós-piração”, e que com o Violeta de Outono ganha plena identidade. Entre elas, no bis, a representante solitária do álbum “Em Toda Parte” (aquele do totem), justamente a faixa título do bom disco que, contudo, não colou na época. Junto com a já citada “Outono” (com guitarra à Echo), cantada a plenos pulmões pela plateia saltitante, o bis de quatro músicas é o desfecho certo para um show (mais um!) memorável do Violeta de Outono. É, ficou ruim para o Carl Palmer.

Fabio Golfetti, o baterista José Luiz Dinóla, o baixista Gabriel Costa e o tecladista Fernando Cardoso

Fabio Golfetti, o baterista José Luiz Dinóla, o baixista Gabriel Costa e o tecladista Fernando Cardoso

Set list completo:

1- Dia Eterno
2- Broken Legs
3- Formas-Pensamento
4- Montanhas da Mente
5- Declínio de Maio
6- Pequenos Seres Errantes
7- Faces
8- Alem do Sol
9- Caravana
10- Ondas Leves
11- Solo de bateria
12- Fronteira
Bis
13- Arnold Lane
14- Em Toda Parte
15-Tomorrow Never Knows
16- Outono

Veja também: como foi o show de Carl Palmer

Veja também: como foi o show do Tempus Fugit

Veja também: como foi o show do Dialeto

A Mostra Internacional de Rock Progressivo continua hoje, domingo, dia 26, com o show do Calix e vai até o dia 1o de fevereiro. Abaixo, todos os detalhes:

Programação:
Hoje, domingo, dia 26: Calix
Dia 31, sexta, 21h: Terreno Baldio
Dia 1/2, sábado, 21h: Premiata Forneria Marconi

Serviço:
Mostra Internacional de Rock Progressivo
Tenda CCBB na Praça dos Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro - Rio de Janeiro
Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Vendas: Bilheteria do CCBB, www.ingressorapido.com.br ou www.ingressomais.com.br
Início das vendas: 6 de janeiro
Capacidade: 600 pessoas
Formas de Pagamento: dinheiro e cartões Mastercad, Redeshop e Visa
Funcionamento da Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h
Informações: (21) 3808-2020

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