O Homem Baile

Paradões

Tocando muito e se mexendo pouco, Tempus Fugit transforma show de rock em “espetáculo de câmara” na Mostra Internacional de Rock Progressivo, no Rio. Fotos: Luciano Oliveira.

O excelente guitarrista Henrique Simões debulha a guitarra em uma das músicas do Tempus Fugit

O excelente guitarrista Henrique Simões debulha a guitarra em uma das músicas do Tempus Fugit

Tudo bem que o rock progressivo, por origem e definição, não é dado a públicos agitados que chegam a se debater durante um show. Mas o Tempus Fugit positivamente abusou do direito de ficar parado no palco, no domingo (19/1), na terceira noite da Mostra Internacional de Rock Progressivo, no Rio. E olha que o público, mais ou menos a metade do que comporta a lona montada ao lado do Centro Cultural dos Correios, estava na mão, aplaudindo e participando ao menor sinal de boa técnica vinda de um dos músicos do quarteto. Ao todo, foram mais de 13 músicas em cerca de duas horas de apresentação que, no fim das contas, mais parecia um “espetáculo de câmera”.

Bem ensaiado, o grupo soube aproveitar a qualidade do som do festival, ainda que reclamasse o tempo todo dessa ou aquela falha. Músico de rock progressivo é tão detalhista que o baterista Ary Moura, em uma de suas falas, chega a dizer que a banda tem uma música nova, mas desistiu de tocá-la porque “não deu certo no ensaio”. Talvez pelo mesmo motivo dois baixistas se revezam no palco. O que faz parte do grupo, Marquinhos do Santos, estava muito mais à vontade e integrado ao som do Tempus Fugit, em comparação ao substituto, que trava um duelo particular um uma partitura em cima do palco. Nada que prejudicasse o bom show “maior banda de rock progressivo de Jacarepaguá”, nas palavras do gaiato tecladista André Mello, responsável por soltar boas tiradas nos intervalos.

A vibração de André Mello, que, gaiato, solta algumas boas tiradas entre as músicas durante o show

A vibração de André Mello, que, gaiato, solta algumas boas tiradas entre as músicas durante o show

O som do grupo, cujo nome, como se sabe vem de uma canção do Yes, reverbera o rock progressivo de varias épocas e origens, incluindo o prog metal que lhe soa bem contemporâneo – a formação é dos anos 1990. Fica melhor quando as composições são mais apuradas e fogem de se destacar somente por causa dos arranjos à progressivo bem manjados (e muito bem feitos), como as mudanças de andamento que o publico adora e outros artifícios. É o que se vê, por exemplo, “Daydream & The Dawn…”, cuja melodia em um dos trechos mais avançados deságua em um excelente crescente dramático. A retomada da guitarra é um dos momentos em que o público aplaude espontaneamente o quarteto. Outra que realça é “Goblin’s Trail”, cujo final, também protagonizado pelo excelente guitarrista Henrique Simões, faz a música crescer horrores e arranca mais aplausos do público.

Outra característica que se destaca no som do Tempus Fugit é o equilibrado diálogo entre teclado e guitarra, que não disputam espaço como acontece com muitas bandas – reconhecidas até – do gênero. “Tocando Você”, guiada por uma bela melodia da tecladeira (tem moog e o escambau) de André, é um bom exemplo, com espaço até para um meramente ilustrativo dedilhado de violão, em que pese a perícia técnica, compenetrada e séria de Simões. O peso aparece em músicas como “Bornera” e “Pontos de Fuga”, um prog metal dos bons, e vale o registro que o grupo é melhor na parte instrumental do que quando tem vocal, mesmo quando André Mello incrementa o gogó com efeitos, como acontece na discreta “Never”.

O baixista Marquinhos do Santos e Simões, em um único momento de animação entre os músicos

O baixista Marquinhos do Santos e Simões, em um único momento de animação entre os músicos

O encerramento da boa apresentação, com “Chessboard”, no entanto, peca pelo exagero. Trata-se de uma longa suíte instrumental marcada pelos desencontros entre as diversas partes. A ideia é boa, necessária até para quem toca rock progressivo, mas no computo geral soa como se o grupo tivesse o sonho (qual não tem?) de compor uma música do tipo, mas acabou forçando demais de modo que a peça não ficou lá essa coca-cola toda. O que positivamente, não chega a comprometer o bom show do Tempus Fugit. Será que a turma tinha razão quando decidiu deixar de fora do show aquela música que “não deu certo no ensaio”?

Set list (quase) completo:

1- Prologue - War God
2- Unfair World
3- The City And The Crystal
4- Daydream & The Dawn…
5- The Sight
6- Tocando Você
7- O Dom de Voar & Princesa Vanessa
8- Goblin’s Trail
9- Bornera
10- Never
11- Pontos de Fuga
12- Chessboard
Bis
13- A confirmar

Veja também: como foi o show de Carl Palmer

A Mostra Internacional de Rock Progressivo continua no próximo final de semana e vai até o dia 1o de fevereiro. Abaixo, todos os detalhes:

Programação:
Sexta, dia 24, 21h: Dialeto
Dia 25, sábado, 21h: Violeta de Outono
Dia 26, domingo, 21h: Calix
Dia 31, sexta, 21h: Terreno Baldio
Dia 1/2, sábado, 21h: Premiata Forneria Marconi

Serviço:
Mostra Internacional de Rock Progressivo
Tenda CCBB na Praça dos Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro - Rio de Janeiro
Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Vendas: Bilheteria do CCBB, www.ingressorapido.com.br ou www.ingressomais.com.br
Início das vendas: 6 de janeiro
Capacidade: 600 pessoas
Formas de Pagamento: dinheiro e cartões Mastercad, Redeshop e Visa
Funcionamento da Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h
Informações: (21) 3808-2020

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. André Mello em fevereiro 7, 2014 às 12:33
    #1

    O bis foi um medley de “Prologue-Goblin’s Trail” (parte final). Quanto a música não tocada, foi descartada apenas por motivos de escolha de repertório. Não sei de onde ele tirou isso de que “não deu certo no ensaio” rsrs… “Chessboard” é uma suíte dividida em duas partes. Uma com 11 minutos e outra com 8. Talvez não seja uma coca-cola, mas é uma boa pepsi. Valeu pela resenha, obrigado!

  2. Ary Moura em fevereiro 7, 2014 às 16:18
    #2

    Gostaria de ressaltar ao amigo e crítico que a banda ficou na eminência de não participar do festival por falta de baixista e o amigo Alex (baixista sub) foi nosso grande herói nessa hora tão importante que a música progressiva atravessa, E que a música nova em questão foi exaustivamente ensaiada com o Marquinhos (nosso baixista) que não sabíamos se iria tocar nesse festival por causa de seu compromisso com outros trabalhos e o Alex conseguiu em tempo recorde - apenas dois ensaios - fazer praticamente todo o repertório! Portanto, não que não tenha dado certo, mas foram esses os problemas apresentados!

  3. Ary Moura em fevereiro 7, 2014 às 16:19
    #3

    Obrigado!

  4. Marcos Lima em fevereiro 7, 2014 às 20:10
    #4

    Houve um pouco de má vontade da parte técnica da empresa na hora de fazer o monitor, depois de algumas microfonias fui até a mesa do monitor e constatei que a mesma estava abandonada, depois que o dono da empresa saiu de cena. É claro!
    Não tinha como eu ficar em duas mesas ao mesmo tempo e essa foi a causa das falhas técnicas.

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