O Homem Baile

Cereja no bolo

Em noite de gala, Premiata Forneria Marconi faz um dos melhores shows no encerramento da Mostra Internacional de Rock Progressivo. Fotos: Daniel Croce.

O gaiato Franz Di Cioccio toca bateria, canta, faz mímica e ainda grava o show com uma câmera

O gaiato Franz Di Cioccio toca bateria, canta, faz mímica e ainda grava o show com uma câmera

Quem escalou o Premiata Forneria Marconi para encerrar a Mostra Internacional de Rock Progressivo acertou em cheio. O veterano grupo veio ao Rio, fez o maior show de todo o festival e, para uma plateia atenta, mas não menos vibrante, desfilou clássicos do seu repertório com muito vigor, em que pese a idade avançada dos principias integrantes. Como acontece com grupos de rock progressivo de países periféricos, o PFM carrega em sua música referências a ícones do meio, com a diferença de ter vivido a época de ouro do gênero, na década de 70, e de acrescentar – claro - certo flerte com a música tradicional italiana. No Brasil o disco mais famoso é “Chocolate Kings”, mas somente uma música dele é tocada, e nem é faixa-título.

Inicialmente, contudo, o clima é tenso. Primeiro, a organizada fila que se formou durante todo o festival se transformou num “bololô na área”, dada a ansiedade dos fãs em entrar logo na tenda, e isso faltando meia hora para o horário do show. Cambistas disfarçados de prog fãs agiam no local, e os ingressos, esgotados a R$ 10 na bilheteria, eram vendidos por até R$ 150. Lá dentro, a informação que sai das caixas de som dá conta de que a banda só entra no palco se todos pararem de filmar. Grande bobagem, e o temor acaba quando o próprio baterista/vocalista Franz Di Cioccio aparece no palco ele próprio gravando tudo. Era a senha para os inconvenientes “operadores de celular” envergar os braços para cima e registrar tudo. Durante cerca de 2h20, o PFM faria uma apresentação deslumbrante.

Franco Mussida é o guitarrista que também canta em boa parte das músicas no show do Premiata

Franco Mussida é o guitarrista que também canta em boa parte das músicas no show do Premiata

O show se divide basicamente em duas partes, não necessariamente em ordem. Numa delas é o guitarrista Franco Mussida quem canta, e, na outra, Di Cioccio chama um baterista de apoio (Roberto Gualdi) e assume não só os vocais, mas também uma performance teatralizada que inclui caras e bocas, quando narra muito mais a letra das músicas do que canta. Na bateria, toca sempre com a língua para fora e curiosamente é muito melhor que Gualdi, de modo que o show ganha mais quando ele toca e canta ao mesmo tempo. Em “Promenade The Puzzle”, espécie de fanfarra folclórica, faz mímica, saltita e arranca aplausos. Sua melhor performance, porém, acontece quando ele e Gualdi tocam juntos na mesma bateria, em “È Festa”, já no bis; no fundo, Franz Di Cioccio toca muito mais – e mais pesado – quer Roberto Gualdi.

Com Mussida no comando realça mais a parte instrumental do quinteto, mesmo quando a guitarra dá lugar aos dedilhados de violão bem precisos. Mas é quando debulha o instrumento principal que a coisa pega, como nas evoluções instrumentais de “La Carrozza di Hans”, já na parte final do show. A música é daquelas em que um instrumental violento reserva mini solos para cada um dos músicos, e no final o público que lotou a tenda explode em aplausos, o que acontece em várias músicas durante o set, diga-se. Na peça final, que inclui até o “tema do Zorro” (“Wiliam Tell Overture”), Franco Mussida desanda a solar feito um adolescente, desafiando seus companheiros de banda. Outra que agrada ao público e cheio é a adaptação do clássico “Romeo & Giullieta”, quando a sofisticada melodia, conhecida por todos, é realçada no violino de Lucio Fabbri.

O baixista Patrick Djivas curte o show e tem, á esquerda, a companhia de Lucio Fabbri e seu violino

O baixista Patrick Djivas curte o show e tem, á esquerda, a companhia de Lucio Fabbri e seu violino

Fabbri também se destaca em “Harlequin”, a tal do “Chocolate Kings”, que tem bela melodia e se encaminha para o jazz, como várias outras músicas do PFM, e reserva um desfecho dos mais pesados. Acontece também com “La Luna Nuova”, cujo sotaque fusion deságua em um crescente instrumental de impressionar até mesmo os fãs de longa data, e são muitos ali na tenda. A excelente qualidade do som, um dos grandes acertos da Mostra, compensa o acanhado palco – um de seus piores defeitos. Do meio para o final o volume é ensurdecedor, como deve ser em shows de rock. Quem comanda o bis com três músicas – óbvio – é Franz Di Cioccio. A essa altura, o gaiato já transforma a bandeira do Brasil que trouxe no bolso em bandana, faz a divisão das vozes do participativo público, sempre falando em um italiano carregado, apresenta a banda e volta a gravar tudo. É o gran finale mais que acertado para o festival, e de uma apresentação memorável e aclamada pelo público.

Set list completo:

1- Rain Birth
2- River of Life
3- Photos Of Ghost
4- Il Banchetto
5- La Luna Nuova
6- Out Of The Roundabout
7- Dove… Quando…
8- Harlequin
9- Promenade The Puzzle
10-Romeo & Giullieta
11- Maestro Della Voce
12- La Carrozza di Hans
13- Mr 9 Till 5/Altaloma 5 Till 9/Wiliam Tell Overture
Bis
14- Impressioni Di Settembre
15- È Festa
16- Se Le Brescion

Franz Di Cioccio coloca o povão para cantar no final da memorável apresentação do PFM no Rio

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Antonio Nahm em fevereiro 5, 2014 às 13:26
    #1

    Foi dificílimo conseguir ingresso para o PFM, pois foram esgotados em poucos minutos na bilheteria do CCBB. Não chegou nem a entrar no site de vendas.

    O som estava bem definido, com alta qualidade, sem distorções. A banda surpreendeu até progressivistas dos anos 70, que são exigentes e atentos a tudo que se passa no palco. Tocaram como nos velhos tempos, provando que são imortais e sensacionais!

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