O Homem Baile

Desconstrução

Dialeto apresenta instrumental afilhado de King Crimson na Mostra Internacional de Rock Progressivo, no Rio. Fotos: Daniel Croce.

Os guitarristas Rainer Pappon, à esquerda, na penumbra, e Nelson Coelho, no comando do Dialeto

Os guitarristas Rainer Pappon, à esquerda, na penumbra, e Nelson Coelho, no comando do Dialeto

Na abertura da segunda semana da Mostra Internacional de Rock Progressivo o paulistano Dialeto fez um show instrumental conduzido por boas músicas e meticulosos arranjos. Durante pouco mais de hora e meia de apresentação, o quarteto tocou a íntegra do novo álbum, “The Last Tribe” e teve tempo para mandar, no bis, covers de Frank Zappa e King Crimson, além de repetir uma das músicas, dada a animação do público, pequeno, mas bastante participativo, como tem sido habitual no festival. O grupo é um trio formado pelo guitarrista Nelson Coelho, o baixista Jorge Pescara, que toca touch guitar, e o baterista Miguel Angel, todos veteranos e com grande rodagem. Ao vivo, entra em cena o guitarrista Rainer Pappon, irmão de Thomas Pappon, da micro lenda cult Fellini.

A banda chave para se entender o Dialeto é o King Crimson. E nem precisava Coelho citar o grupo de Robert Fripp em um intervalo inesperado criado pela troca de uma corda da guitarra de Pappon, tampouco a inclusão de “Red” no bis. Os arranjos, viradas e de bateria e conduções do progressivo desconstrutivista do King Crimson aparecem em várias músicas do grupo. Acontece, por exemplo, em “Vintitreis”, música que começa como quem não quer nada até ganhar a intensidade que faz o público reconhecer a matriz e aplaudir. A canção também tem uma ligeira conexão com o fusion de bandas como o Dixie Dregs, que é enfatizada em outros temas apresentados na noite, como a dramática e melodiosa “Windmaster”. A música, que abre o novo álbum do grupo, deságua num solo de guitarra de emocionar.

O baixista Jorge Pescara, às voltas com o exótico touch guitar, que por vezes atrapalha mais que ajuda

O baixista Jorge Pescara, às voltas com o exótico touch guitar, que por vezes atrapalha mais que ajuda

Ele se chama “The Last Tribe” e tem todas as faixas inseridas no repertório do show. Ao vivo, as músicas soam bem distintas entre si, com muitas referências ligadas à música instrumental estabelecida. Nem todas, porém, embora sejam detalhadamente bem arranjadas, são resultado de boas composições, daí certa oscilação tomar conta do palco, com momentos bons e ruins alternando-se. Contribui para isso o uso da touch guitar pelo baixista Pescara. O instrumento reúne guitarra e baixo numa peça só, é tocado, como diz o nome, pelo toque dos dedos (pequenos tapas) e chama a atenção a ponto de o músico usar uma das músicas para explicar ao público como funciona. O problema é que, a despeito da perícia técnica de Pescara, acaba empestando ao grupo uma sonoridade uniforme, comum até, quando não enfadonha.

Uma das melhores músicas da noite, no entanto, é “Chromatic Freedom”, faixa-título do disco anterior. Com sotaque, digamos, pop, ela consegue reunir todas as referências do grupo com uma tradução de fácil assimilação. Tem duelo de guitarras, batida quase dançante, flerta com a surf music – com certa desconstrução, claro - e parece até trilha de filme de ação. Mas não é só. A boa e inicialmente discreta “Unimpossible” se revela uma bela peça cheia de alternâncias que realçam espécie de refrão puramente instrumental e belos solos de guitarra, além de um duelo entre Coelho e Pescara. “Whereisit”, de seu lado, é conduzida por um riff e se revela um hard rock jazzístico de primeira, de fazer inveja a Stevie Morse em seus melhores momentos com o Deep Purple.

Rainer Pappon, o baterista Miguel Angel, ao fundo, Nelson Coelho e Jorge Pescara: fusion afiado

Rainer Pappon, o baterista Miguel Angel, ao fundo, Nelson Coelho e Jorge Pescara: fusion afiado

O encerramento, antes de “Sand Horses”, a tal que foi repetida, é com “Cletus Awreetus-Awrightus”, de Frank Zappa, tocada só pelos dois guitarristas. Juntos, eles formam outro de vários projetos, o Philozappia. O que chega a ser curioso, se consideramos que as bandas do Zappa sempre tiveram um batalhão de integrantes. “Red”, do King Crimson, em seguida, é a tradução mais perfeita para a cobra mordendo o próprio rabo, no caso do Dialeto. Espécie de arremate quase conceitual para o público, que, desconfiado, só esperava a confirmação do parentesco desconstrutivista.

Set list completo:

1- Vermelha
2- Enigma 5
3- Dorian Grey
4- The Last Tribe
5- Lydia And The Playground
6- Unimpossible
7- Solo touch guitar
8- Chromatic Freedom
9- Tarde Demais
10- Windmaster
11- Vintitreis
12- Whereisit
13- Sand Horses
14- Chromaterius
Bis
15- Cletus Awreetus-Awrightus
16- Red
Bis
17- Sand Horses

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A Mostra Internacional de Rock Progressivo continua hoje, sábado, dia 25, com o show do Violeta de Outono e vai até o dia 1o de fevereiro. Abaixo, todos os detalhes:

Programação:
Hoje, sábado, dia 25: Violeta de Outono
Amanhã, domingo, dia 26: Calix
Dia 31, sexta, 21h: Terreno Baldio
Dia 1/2, sábado, 21h: Premiata Forneria Marconi

Serviço:
Mostra Internacional de Rock Progressivo
Tenda CCBB na Praça dos Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro - Rio de Janeiro
Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Vendas: Bilheteria do CCBB, www.ingressorapido.com.br ou www.ingressomais.com.br
Início das vendas: 6 de janeiro
Capacidade: 600 pessoas
Formas de Pagamento: dinheiro e cartões Mastercad, Redeshop e Visa
Funcionamento da Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h
Informações: (21) 3808-2020

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