O Homem Baile

Do campo

Cálix atualiza o rock rural e interiorano em participativa apresentação na Mostra Internacional de Rock Progressivo, no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista do Cálix, Renato Savassi, que ainda se desdobra tocando violão, flauta e bandolim

O vocalista do Cálix, Renato Savassi, que ainda se desdobra tocando violão, flauta e bandolim

Apesar de uma boa rodagem, o Cálix é certamente a mais nova entre as bandas escaladas para esta edição de estreia da Mostra Internacional de Rock Progressivo, no Rio. O grupo também é de longe o que mais se distancia das características do prog rock, e flerta o tempo todo com o rock propriamente dito e com a mpb, com uma piscadela para o pop sem medo de ser feliz. O que de modo algum prejudica a performance no encerramento da segunda semana do festival, ontem (26/1); muito ao contrário. “O clima está excelente para tocar aqui no palco”, diz o vocalista Renato Savassi, antes de o grupo tocar “Kian”, numa espécie de premonição. O público, embora pequeno, recebeu a banda acaloradamente, com muitos cantando as letras das músicas de cor e salteado.

Há quem equivocadamente compare o Cálix com o Jethro Tull só porque Savassi, que também toca violão e bandolim, eventualmente inclui flauta em uma ou outra música. O engano faz com que o próprio músico indique o caminho certo para os menos atentos, antes de “Dança com Devas”, uma das que todos sabem a letra. A grande referência está não só no Sagrado Coração da Terra, cuja já citada “Kian” foi regravada no álbum de estreia, mas no rock rural, de interior, especialmente das Minas Gerais. A poesia esotérica semi hippie, as vocalizações rebuscadas como as do Clube da Esquina não afastam banda de suas origens. Há algo mais mineiro do que o baixista Marcelo Cioglia contar que compôs “Passeo Por Los Campos” depois de sonhar com um pássaro gigante? A música, a propósito, é uma das poucas instrumentais em um festival em que a virtuose técnica é quase exercício obrigatório.

Sânzio Brandão é o guitarrista que por vezes salva o Cálix de cair no mau gosto do pop banal

Sânzio Brandão é o guitarrista que por vezes salva o Cálix de cair no mau gosto do pop banal

Ela também se manifesta no som do Cálix, mas de outros jeitos. Um deles é quando o guitarrista Sânzio Brandão abre a caixa de ferramentas, fornece o peso indispensável ao rock e chega até a salvar certas canções que, inadvertidamente, pendem para o mau gosto do pop banal. Em “Ventos de Outono”, por exemplo, o público vibra quando um solo impulsivo retira a má impressão do início modorrento. Por vezes, o Cálix investe em baladaças que, do nada, ganham um tom épico de fazer inveja a Slash solando na beira de um precipício no clipe de “November Rain”. É o caso de “Canções de Beruim”, que por isso mesmo fecha a noite em grande estilo, e de “Acordei Devagar”, esta com alternância de bons momentos e outros bem chatinhos.

Brandão, que é canhoto, também ajuda a realçar a melodia das músicas, seja no efeito slide guitar de “Kazoo” ou inserindo acordes como quem não quer nada em “Looking Back” ou em “Deserto”, produzindo belo efeito. Curiosamente o violão tocado por Renato Savassi não prejudica o som do grupo como um todo, em que pese as inserções discretas, mas bem sacadas de Rufino Silvério, que se reveza entre piano e teclado. Numa as melhores performances da noite, em “Olhos Fechados”, os três – Savassi, Brandão e Cioglia - cercam o Silvério em uma interessante evolução instrumental. Na sequência, a flauta à Jethro Tull realmente aparece, e Renato Savassi, de seu lado, ensaia os passinhos do grande Ian Anderson, como se debochasse de si próprio e do fato de se achar – vai saber - mal compreendido.

Flauta da discórdia: Savassi, com o baixista Marcelo Cioglia, não curte às comparações com o Jethro Tull

Flauta da discórdia: Savassi, com o baixista Marcelo Cioglia, não curte às comparações com o Jethro Tull

Acontece também em “Homens-Pedra”, música pedida de antemão por um gaiato lá de trás, e que tem um tom marcial-épico e não nega as referências ao trabalho de Marcus Vianna, numa outra grande performance. O bis, que em princípio não estava nos planos do quinteto – completa o time o batera André Godoy – é com “A Roda”, tida como um hit do grupo, com melodia fácil, sotaque pop e, por isso mesmo, cantada pelo público no gás. “Se a gente contar isso lá em Minas, ninguém vai acreditar”, resume Sânzio Brandão, com um sotaque carregado, enquanto a banda não sabe se toca mais uma ou se tira uma foto daquelas com o público ao fundo; fizeram os dois. Vão acreditar sim, pode contar à vontade.

Set list completo:

1- Kazoo
2- Deserto
3- No More Whispers
4- Efeito Lunar
5- Kian
6- Carmina Burana
7- Olhos Fechados
8- Águas
9- Passeo Por Los Campos
10- Dança com Devas
11- Can You See It
12- Acordei Devagar
13- Ventos de Outono
14- The Journey
15-Homens-Pedra
16- Looking Back
17- Canções de Beurin
Bis
18- A Roda

O guitarrista Sânzio Brandão, o batera André Godoy, Renato Savassi e o baixista Marcelo Cioglia

O guitarrista Sânzio Brandão, o batera André Godoy, Renato Savassi e o baixista Marcelo Cioglia

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A Mostra Internacional de Rock Progressivo continua na próxima sexta, dia 31, com o show do Terreno Baldio. No sábado (1/2), quem toca é o italiano Premiata Forneria Marconi. Abaixo, todos os detalhes:

Programação:
Sexta, dia 31, 21h: Terreno Baldio
Sábado, dia 1/2, 21h: Premiata Forneria Marconi

Serviço:
Mostra Internacional de Rock Progressivo
Tenda CCBB na Praça dos Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro - Rio de Janeiro
Preços: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Vendas: Bilheteria do CCBB, www.ingressorapido.com.br ou www.ingressomais.com.br
Início das vendas: 6 de janeiro
Capacidade: 600 pessoas
Formas de Pagamento: dinheiro e cartões Mastercad, Redeshop e Visa
Funcionamento da Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h
Informações: (21) 3808-2020

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