O Homem Baile

Na raça

Sob chuva, com palco alagado e som claudicante, Guns N’Roses faz o que é possível no show de encerramento do Rock In Rio. Fotos divulgação: Fernando Schlaepfer (1 e 4), Mauricio Santana (2 e 3).

O atrasildo Axl Rose encarou chuva e alagamento na madrugada, mas não reduziu o repertório do show

O atrasildo Axl Rose encarou chuva e alagamento na madrugada, mas não reduziu o repertório do show

A culpa sempre é colocada sobre os ombros de Axl Rose, tido como um mimado rockstar de uma era que não existe mais. Mas quem viu o Guns N’Roses entrar na madrugada desta segunda, para se apresentar num palco alagado por uma intermitente chuva – nem tão forte assim - no Rock In Rio, trajando uma capa amarela daquelas compradas em mercados populares, há que reconhecer que boa vontade não faltou. O show foi iniciado às 2h45, com um atraso de uma hora e meia em relação ao horário inicialmente previsto pela organização, que remanejou atrações e um lado a outro nos palcos da Cidade do Rock, a fim de amenizar os transtornos ao público. O System Of a Down acabou se beneficiando e fazendo o show da turnê inteirinho, não só os 70 minutos inicialmente previstos.

DJ Ashba: cada vez mais parecidi com um mini Slash

DJ Ashba: cada vez mais parecido com um mini Slash

O anticlímax da apresentação começou quando os ralos pingos d’água que caíam durante o início da madrugada se transformaram numa chuva que alagou e semidestruiu a Cidade do Rock. Associado ao cansaço, o toró foi fazendo público rarear aos poucos; dos 100 mil pagantes, menos de um terço permaneceu até o final da apresentação. No palco, roadies usavam rodos para tentar drenar a água acumulada, em vão. Nesse cenário caótico, Axl tinha duas opções: abreviar o repertório e finalizar o constrangimento o mais rápido possível ou recompensar os verdadeiros heróis da resistência que permaneceram até o fim. Ele ficou com a segunda e levou o show à 2h20 de duração, com todos os solos e “improvisações”, na raça. Ao todo, foram 18 músicas, entre as 34(!) anunciadas pela produção como o set list oficial do show.

Axl mantém a má forma física de quando esteve no Brasil pela última vez, no show do Rio, em abril do ano passado. Mas, curiosamente, está com a voz em melhor estado, muito embora haja deslizes aqui e ali. O vocalista ainda precisa – repita-se – arranjar um novo tom para cantar com o avançar da idade, sem tentar repetir os trejeitos da juventude. Dá certo em músicas como “Sweet Child O’Mine” (mesmo com o eco gritando na parte final), mas não em outras, caso da “nova” “Sorry”, em que Axl desafina feio, e em “Paradise City”, quando erra a letra. Nada que tire da plateia a chance de ver grandes hits do grupo cantados por quem estava lá, no olho do furacão. A razoável forma de Axl talvez se deva o fato de o Guns estar prestes a iniciar, enfim, a partir do final do mês, a perna americana da bem sucedida “Chinese Democracy World Tour”, que já passou pela América Latina, Oriente Médio, Canadá e Ásia, e estrelou os principais festivais de verão europeus, incluindo os de Leeds/Reading.

Bumblefoot usa a double neck em várias músicas

Bumblefoot usa a double neck em várias músicas

A novidade no repertório aparece na metade do show, com a inclusão de “Estranged”, que não era tocada há 18 anos, segundo Axl. Ele admite que a canção ainda não foi bem ensaiada por essa formação da banda, mas o público delira, num dos melhores momentos da noite. A banda é a mesma há mais de dois anos – coisa rara para o temperamental Axl -, e mostra bom entrosamento e inventividade. Os momentos individuais dos guitarristas não são os mesmos dos apresentados no ano passado, numa prova cabal de que solos não são necessariamente enfadonhos, mas exercícios obrigatórios em shows de rock. O de Richard Fortus, na primeira parte do show, é uma impressionante jam instrumental, e DJ Ashba, cada vez mais parecido com uma miniatura de Slash, brilha mais a cada música do que em sua performance solo. Em “Nightrain”, que fecha o set, ele desce no meio do público e, na volta, espatifa a guitarra no chão. Rock!

Não há muito a e reclamar do repertório. Do álbum “Chinese Democracy” há cinco músicas, com destaque absoluto para a interpretação dramática de “Street Of Dreams”, e sete (mais da metade) do clássico “Appetite For Destruction”, além de outros grandes sucessos, como a bombástica “You Could Be Mine”, que tem Axl sem fôlego. Pena que, quando o tecladista Dizzy Reed improvisa com “Baba O’Riley”, do The Who, não emende a bela “Don’t Cry”. Outra citação (artifício comum nessa turnê) é “Sunday Bloody Sunday”, do U2. A poderosa “November Rain”, com o piano literalmente sob chuva, é reflexo da noite caótica e traz a lembrança de um Slash empunhando a guitarra à beira do precipício. O que pega é que o som do Palco Mundo, de excelente qualidade em grande parte do Rock In Rio, apresenta inexplicáveis variações de volume. Seria culpa da chuva? De Axl, que levou o show até o final como pode, superando condições adversas, é que não é.

Axl Rose, em pose típica: mau uso da voz

Axl Rose, em pose típica: mau uso da voz

Set list completo:

1- Chinese Democracy
2- Welcome To Jungle
3- It’s So Easy
4- Mr. Brownstone
5- Sorry
Solo de Richard Fortus
6- Live And Let Die
7- Rocket Queen
8- This I Love
Solo DJ Ashba
9- Sweet Child O’ Mine
10- Estranged
11- Better
Solo de Dizzy Reedy (citação de “Baba O’Riley”, do The Who)
12- Street Of Dreams
13- You Could be Mine
14- November Rain
Solo do Ron Bumblefoot (tema da Pantera Cor de Rosa)
15- Knockin’ On Heaven’s Door
16- Nightrain
Bis
17- Patience
18- Paradise City

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Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Melvin em outubro 3, 2011 às 16:58
    #1

    Sensacional!!!
    Pensamos muito parecido dessa vez!!! Parabéns Bragatto!

  2. Lee em outubro 3, 2011 às 17:40
    #2

    Nossa, foi muito cansativo. Mas, você notou algo que eu também pude notar ontem: a voz dele deu uma leve melhorada, sim.

  3. Alex em outubro 3, 2011 às 20:26
    #3

    Para achar um show do Guns N’ Roses bom, o camarada no minímo não gosta de rock… Nem o dinossauro mais velho do rock é tão burocrático e previsível. Pelo amor de Deus, parem de ficar enchendo com o nome dessa pseudo banda em todo festival de “rock” que aconteça no Brasil. Já deu!

  4. Renato em outubro 5, 2011 às 11:44
    #4

    Pseudo banda de rock!? O Alex só pode estar brincando! A matéria resume o que achei do show também. Estava lá debaixo de chuva e o Axl entrou na raça pra levantar a resistencia do último dia do festival.

  5. Renato em outubro 5, 2011 às 12:23
    #5

    Já assisti à muito show com chuva, algumas torrenciais, e isso não é desculpa. Parecia que a banda nem havia ensaiado para a apresentação. Muito fraco, sorte que o SOAD salvou a noite.

  6. tamires sol em outubro 5, 2011 às 18:10
    #6

    Até que enfim alguém com coragem para falar abertamente sobre o show e da má organização do evento, pois mesmo com uma puta tempestade e o palco alagado, foi um bom show. Pessoas, acordem e mudem o discurso, falar mal do Guns foi facil, jogando a reponsabilidade só para eles. Beleza, Axl não esta em sua melhor forma, mas a idade chega para todos. Eu estava lá e não me arrependo em nenhum momento de ter esperado até o fim para assisir ao show. Parabéns.

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