O Homem Baile

Mais do mesmo, mas é bom

Em branco no mercado fonográfico há 10 anos, System Of A Down praticamente repete show de quatro anos atrás no Rock In Rio, mas público adora. Foto: Estácio/Divulgação Rock In Rio (1) e I Hate Flash/Divulgação Rock In Rio (2, 3 e 4).

O vocalista do System Of A Down, Serj Tankian, mantém a ótima variação vocal no show do Rock In Rio

O vocalista do System Of A Down, Serj Tankian, mantém a ótima variação vocal no show do Rock In Rio

O roteiro é conhecido e muito mais do que esperado. É tudo tão certo, tão previsível que o show que o System Of A Down fez nesta quinta, como encerramento da noite que retomou o Rock In Rio desse ano, foi praticamente o mesmo realizado há quatro anos, no mesmo local (veja como foi). Era a primeira vez do quarteto na cidade, e a coisa foi tão boa que eles quase roubaram a cena do headliner daquela noite de encerramento, o Guns N’Roses com Axl vestido capa de chuva de operário da construção civil (relembre). Assim, o SOAD acabou promovido a atração principal dessa noite, mas nem isso é motivação para que se faça algo diferente.

Isso porque, desde o retorno da banda, em 2010, nenhuma música nova foi composta, absolutamente nada foi lançado, restando uma infindável lista de turnês pelo mundo afora tocando o mesmo repertório. Nota-se que, dos 27 números tocados nessa madrugada, nada menos que 20, representando mais de 70%, já haviam sido apresentados há quatro anos. Não é pouco. Ainda mais se levarmos em conta que o SOAD é uma banda revolucionária que atingiu sucesso planetário somando referências em princípio imiscíveis na música pesada, com uma proposta inovadora que logo se sobressaiu dentro do nu-metal noventista, deixando para trás qualquer tipo de repetição ou mesmice em seus cinco álbuns. “Toxicity”, de 2001, é uma maravilha.

O guitarrista Daron Malakian, que canta em algumas músicas e faz segunda voz em quase todas as outras

O guitarrista Daron Malakian, que canta em algumas músicas e faz segunda voz em quase todas as outras

É ele que cede a maior parte das músicas nessa noite (veja o set list no final do texto), incluindo a faixa-título. A música, um grande sucesso da banda, cantada aos quatro ventos, é a deixa para que o vocalista do Deftones, “amigo de longa data”, seja convidado para cantar junto com a banda. Chino vinha de uma boa apresentação no encerramento do Palco Sunset, mais cedo, e reforçou a boa forma. Da qual, reconheçamos, desfrutam os quatro systems, incluindo o fininho Serj Tankian. O vocalista desfila seu belo repertório de falsetes, exibindo uma variação vocal de impressionar, que tudo tem a ver com a performance amalucada da banda que tanto seduz público e crítica. É mais do mesmo, sim, mas não deixa de sem bom. Às vezes, muito bom.

Um olhar e uma apuração mais amiúde, contudo, ajudar e descobrir sutis diferenças que talvez só o fã do tipo “die hard” tenha percebido. Depois de algum tempo, coisa de 16 aninhos, a música “Temper” é apresentada, coladinha no hit “Hypnotize”. Com sotaque folclórico, ela é do tempo das demo tapes e sequer foi gravada em um dos disco do grupo. “Attack”, emendada com “Sweet Pee”, e “Know” também estavam fora do repertório, há menos tempo, e retornam, mas nem causam grande alarde. Também, inseridas no início, pegam um público sedento que se multiplica em incontáveis rodas de dança até nas regiões mais distantes do palco. O dia, aliás, foi pródigo nesse particular, atingindo o auge com o pedido por parte do guitarrista Daron Malakian, para que a “maior roda de todas fosse criada”, no que foi atendido de imediato. Até os telões laterais, que detestam o público, declinam e exibem as fortes imagens de todo mundo se acabando pela última vez.

Bravo: o baixista Shavo Odadjian, tentando se comunicar com a turma da grade no gargarejo

Bravo: o baixista Shavo Odadjian, tentando se comunicar com a turma da grade no gargarejo

Mas antes desse belo arremate, teve muito chão em 90 minutos + acréscimos de porrada rolando. Teve Serj usando um tecladinho sarapa em várias músicas, o baterista John Dolmayan mostrando uma forma impressionante, o baixista Shavo Odadjian tentando se comunicar com a turma do gargarejo e os pidões de palheta, e Malakian fazendo vários duetos com Serj. Num deles, antes de “Psycho”, cita Olivia Newton-John e a terrível “Physical”, e, em “Cigaro”, começa a música sozinho e reconhece como a letra é “estúpida”. Outras também muito apreciadas pelo povão são “Chop Suey!”, de altos teores de enlouquecimento generalizado; “Needles”, que faz surgir um perigoso sinalizador vermelho no meio do pogo; “Aerials”, que realça o gogó coletivo do povaréu ainda com gás, no início; e a sinuosa “Radio/Vídeo”, segundo Serj, feita para dançar. No fim das contas, não foi de todo ruim. Bora compor mais um monte de músicas iguais a essas, pessoal?

Set list completo:

1- I-E-A-I-A-I-O
2- Suite-Pee/Attack
3- Prison Song
4- Know
5- Aerials
6- Soldier Side - Intro
7- B.Y.O.B.
8- Soil
9- Darts
10- Radio/Video
11- Hypnotize
12- Temper
13- CUBErt
14- Needles
15- Deer Dance
16- Bounce
17- Suggestions
18- Psycho
19- Chop Suey!
20- Lonely Day
21- Question!
22- Lost in Hollywood
23- Vicinity of Obscenity
24- Forest
25- Cigaro
26- Toxicity
27- Sugar

Serj Tankian encabeça a repetição de cerca 70% do repertório do Rock In Rio de 2011 para a edição 2015

Serj Tankian encabeça a repetição de cerca 70% do repertório do Rock In Rio de 2011 para a edição 2015

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Fabio em setembro 25, 2015 às 13:03
    #1

    Ontem estive lá pra ver os 3 shows do palco principal.

    Vampiros de Hollywood foi muito fraco. Ví meio de longe, perto da torre da tirolesa. Não faz sentido nenhum uma cata-cata desses tomar lugar no palco principal. A maior animação vinha qdo o telão focalizava o Depp. Varias lendas no palco, mas não deu liga.
    Medina Poderia ter deixado o Deftones abrindo pro QOTSA, mas….

    QOTSA foi excelente. Esse eu vi de perto. Impressionante a cozinha da banda. o Som tava perfeito. Batera com pegada e baixo alto aparecendo bem. Acho q eles podiam ter tocado mais do que os 60 minutos redondos. Se não me engado o penúltimo artista do palco principal tem um pouco mais de tempo.

    SOAD eu vi lá do gargarejo. Já tinha visto Metallica e Queen do mesmo lugar. Mas esse de ontem foi muito mais animado. A banda tava disposta, e o publico retribuiu. Destaque pro batera. Um monstro, com muita técnica. O vocal tão característico não dava pra escutar na maioria das musicas, porque a massa gritava as letras junto. Chegando em casa, vi um trecho que gravei pela TV, e o vocal tava legal.

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