O Homem Baile

Técnica boa e cativante

Conectando boas composições com virtuose e em vindas frequentes à cidade, superbanda Winery Dogs fortalece público em show no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O líder, vocalista, guitarrista e principal compositor do Winery Dogs, Richie Kotzen, em ação no Rio

O líder, vocalista, guitarrista e principal compositor do Winery Dogs, Richie Kotzen, em ação no Rio

A música nem é das mais pesadas, em uma banda formada por músicos consagrados que são desse métier. Mas a partir de determinado momento, o guitarrista se desembesta por um solo emendando em outro, emendado em outro… a ponto de os outros dois parceiros - é um trio - se verem em apuros. Meio torto no palco, olhando e fazendo combinação com o baterista, ele coloca a música, que já vinha agradando do ponto de vista da canção, em um outro rumo. Mas o batera não arrega e o instrumental cresce que é uma beleza, de modo a contagiar o público, que por sua vez pouco conhece da nova música, mas isso não importa: cabe a ela, a música, se fazer conhecida. É assim que Richie Kotzen, o tal guitarrista, e Mike Portnoy, o tal baterista, vão se entendendo e entendendo o potencial de “Breakthrough”, a tal da música nova, em pleno show do Winery Dogs, abrindo para o Stone Temple Pilots (veja como foi), na última quinta (27/4), no Vivo Rio.

Nova porque está no terceiro álbum da banda, “III”, que saiu há menos de três meses, em fevereiro. Mas até bastante conhecida, a julgar pelo comportamento do público, que participa bastante, o que também revela um perfil fiel de seguidor. E já é a terceira passagem do Winery Dogs pelo Rio, as outras duas foram na turnê de lançamento dos álbuns anteriores (relembre como foi em 2016 e em 2013), o que sempre aumenta o interesse pela banda. Ao todo foram seis das novas, com destaque ainda para ‘Stars”, outra repleta de evoluções instrumentais em que Kotzen se incorpora possesso e investe na beirada do palco ao lado de Billy Sheehan, o engenhoso (para dizer o mínimo) baixista que completa o time de super feras do rock reunidas nesse trio. Desta feita o clima de improviso calculado, por assim dizer, é chocante, tanto pela virtuose quanto pelo bom gosto.

Interação e virtuose: Billy Sheehan e o baixo galopante ao lado de Richie Kotzen na beirada o palco

Interação e virtuose: Billy Sheehan e o baixo galopante ao lado de Richie Kotzen na beirada o palco

Eis aí o segredo do Winery Dogs. Em geral bandas com integrantes desse naipe de virtuosismo têm dificuldade para fazer músicas boas, se perdem em intrincada técnica e não raro afastam o ouvinte, a menos que seja ele também músico. Só que aqui entra o talento assustador de Richie Kotzen como compositor, o que faz o trio apresentar as duas coisas: músicas colantes e com passagens instrumentais das mais interessantes. E não é em uma ou outra música em que isso acontece, mas em grande parte das faixas de cada um dos álbuns. No show, então, com um apanhando das melhores, não tem erro. É por isso que brilham também “Captain Love”, e dá-lhe showzinho de Sheehan e Kotzen na beirada do palco, e “Hot Streak”, a faixa-título do segundo álbum, cheia de grooves e com vocal repleto de falsetes.

Porque – ainda tem mais essa – Kotzen é ótimo cantor, varia muito o alcance, de modo bem treinado, e tem timbre de voz que por vezes se assemelha ao do saudoso Chris Cornell. E olha que a equalização do microfone parece estar em um volume abaixo em relação aos instrumentos – expediente típico de banda com músicos virtuosos – durante boa parte do show. Em relação à turnê do trio, o repertório é reduzido, mas ainda vale salientar pérolas como “Oblivion”, com o clássico baixo galopante de Billy Sheehan; os mini-solos/evoluções de cada um dos músicos no meio de “Xanadu”, outra das novas; e o desfecho com “Elevate”, já um clássico da banda, reconhecida pela pegada rock e por um refrão dos mais grudentos. Em suma: um showzaço de uma banda que se consolida cada vez mais, e não só no âmbito do rock pesado.

Billy Sheehan virando a cabeça em meio a evoluções instrumentais junto com o batera Mike Portnoy

Billy Sheehan virando a cabeça em meio a evoluções instrumentais junto com o batera Mike Portnoy

Mais cedo tocou, em programação de última hora, o Velvet Chains, banda de Las Vegas com dois integrantes americanos, dois chilenos e um argentino. A formação clássica de banda quinteto, o visual cuidadosamente despojado e a postura no palco mostram que é no entorno de nomes como Aerosmith e Guns N’Roses que a banda gira. O repertório, contudo, não chega a ser dos melhores, em que pese a banda ser completamente desconhecida e ter tocado bem cedo, em plena quinta-feira, com pouquíssima gente na casa. Vai ficar marcado a economia nos de solos nas músicas, erro fatal; o vocal de Ro Viper, mais para o tenor e aparentemente de curto alcance; e a cover até boa para “Suspicious Mind”, famosa na voz do Rei Elvis Presley. Ou seja, tem bastante espaço pra melhorar.

Set list completo Winery Dogs:

1- Gaslight
2- Xanadu
3- Captain Love
4- Hot Streak
5- Breakthrough
6- Time Machine
7- Stars
8- Mad World
9- The Red Wine
10- I’m No Angel
11- Oblivion
12- Desire
13- Elevate

O vocalista do Velvet Chains, Ro Viper, na abertura da noite: banda tem bastante espaço pra melhorar

O vocalista do Velvet Chains, Ro Viper, na abertura da noite: banda tem bastante espaço pra melhorar

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